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Respeitada pianista de jazz erra por querer cantar demais em seu 27.º disco, Light My Fire | Divulgação
Respeitada pianista de jazz erra por querer cantar demais em seu 27.º disco, Light My Fire| Foto: Divulgação

Há 30 anos moradora de Nova York, a paulista Eliane Elias se firmou no mundo do jazz muito mais como pianista do que como cantora. E ter apostado alto demais em seus dotes vocais, deixando em segundo plano sua reconhecida habilidade como instrumentista, é o grande passo em falso de Light My Fire, lançado nos Estados Unidos no ano passado e seu 27.º disco solo, que agora chega ao Brasil pela Universal Music.

O álbum, longe de ser ruim, peca pela trivialidade. Nele, o samba ganha bastante espaço, o que nem sempre é bom sinal. O problema é que, embora tenha uma voz agradável, sensual e afinada, falta a Eliane aquele algo a mais como intérprete. Perfeita para a levada cool do jazz misturado à bossa nova que costuma praticar, ao fim de cinco, seis faixas, ela resvala em certa monotonia, porque não consegue em­­prestar a algumas das canções escolhidas o sentido que elas trazem em suas letras e entrelinhas melódicas.

Peguemos como exemplo "Rosa Morena", uma canção dengosa do baiano Dorival Caymmi, que pede uma intepretação mais viva, sanguínea. Eliane a defende de forma burocrática, como uma crooner de restaurante de hotel. Não soa como uma estrela do jazz, mesmo não sendo um vexame total.

Ela tem mais sorte com duas composições de Gilberto Gil, o clássico "Aquele Abraço", no qual faz dueto com o próprio compositor, e "Toda Menina Baiana". Talvez por conta do viés tropicalista, mais pop dessas composições, a performance de Eliane seja mais cativante – e convincente. De Gil, ela também incluiu "Bananeira", parceria do compositor baiano com João Donato, já gravada por Bebel Gilberto.

Uma curiosidade do disco é a faixa "Turn to Me (Samba Maracatu)", uma rara parceria da artista com Gonzaguinha (1945-1991), dos anos 80. Quanto ao repertório gringo, a principal pisada de bola é justamente a faixa título, o mais célebre hit da banda norte-americana The Doors, totalmente inadequada na voz sussurrada de Eliane, que consegue melhor resultado com "Mon Cheri Amour", balada de Stevie Wonder, agora gravada em francês.

Histórico

Prodígio, Eliane Elias nasceu em São Paulo em 1960 e começou a estudar piano com apenas 7 anos de idade. Surpreendentemente, já na infância demonstrou apreço pelos LPs importados de jazz que caíam em suas mãos. Wynton Kelly, Bill Evans, Red Garland, Art Tatum e Bud Powell já eram referências.

Outros pianistas que, segundo Eliane, também influenciaram seu estilo foram Chick Corea, Herbie Hancock e Keith Jarrett, sem falar da própria mãe, musicista erudita amadora. GG

Serviço:

Light My Fire. Eliane Elias. Universal Music. Preço médio: R$ 29,90. Jazz.

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