Embaixadores do teatro paranaense

• 0

A Cia. Brasileira de Teatro abriu neste fim de semana uma mostra paranaense de artes cênicas, que acontece até dia 16, em Porto Alegre e em três outras cidades gaúchas. Convidado de honra do Festival do Teatro Brasileiro para apresentar três espetáculos de seu repertório, o grupo serviu de abre-alas da nossa produção e elevou nossa "moral" nos pampas.

"O Rio Grande do Sul tem companhias de teatro infantil com melhor acabamento, faz muito mais peças de rua e tem mais produção no interior do estado em relação ao Paraná. Mas não tem nenhum espetáculo gaúcho com o peso do que faz a Brasileira", comentou o idealizador do festival, Sergio Bacelar.

A abertura do evento aconteceu com Vida, em clima de estreia, já que o grupo não apresentava a peça havia um ano e meio. O espetáculo, criado em 2010, firmou a presença do grupo no cenário nacional e rendeu premiações. Honrarias que "Oxigênio", "Isso Te Interessa?" e "Esta Criança" também ganharam. "Esta Criança" foi premiada com quatro estatuetas do Prêmio Shell em março deste ano, incluindo a de melhor atriz para Renata Sorrah, com quem a companhia firmou parceria.

"Estamos com vários projetos paralelos", explica a atriz Giovana Soar. A Brasileira acaba de ter aprovado um segundo projeto de manutenção patrocinado pela Petrobras, que apoiará o grupo durante três anos e prevê a montagem de um espetáculo. Entre outros trabalhos, como uma nova peça com Renata, o grupo participa de um intercâmbio com uma companhia francesa no projeto Nus, Ferozes e Antropófagos, que deve render uma mostra no próximo Festival de Curitiba.

Monólogo

Em Porto Alegre, além de duas sessões de "Vida" no prestigiado Theatro São Pedro e do monólogo "Descartes com Lentes", com Nadja Naira, a equipe do diretor Marcio Abreu faz duas apresentações de Oxigênio, nesta quinta e sexta-feira.

Após a apresentação de sua performance solo, Nadja e Marcio receberam o público gaúcho para um bate-papo. Os ouvintes começaram tímidos, mas ao final abriram o coração, como fez a psicanalista Karin Wondracek. Estudiosa do filósofo francês Michel Henry, ela correu para a Casa de Cultura Mário Quintana quando viu no texto de Paulo Leminski a referência a Descartes, cujo método de pensamento, hoje chamado "cartesiano", foi criticado tanto por Henry quanto por Leminski.

Outros participantes destacaram o fato de tanto Vida quanto Descartes... trazerem tatuagens no corpo dos atores e uma abordagem lúdica usando outras – ou até inventadas – línguas. Não foi coincidência, explicaram os artistas, já que "Descartes..." surgiu em meio à pesquisa que culminou com "Vida" – espetáculo que contém trechos de Leminski, mas, principalmente, seu universo.

"Senti a mesma coisa do que quando visitei a mostra [Múltiplo Leminski] do Museu Oscar Niemeyer", conta a atriz do grupo Stravaganza Fernanda Petit sobre Vida. "Achei melancólico e ao mesmo tempo feliz. Como a vida."

Linguagem

A experiência com linguagem dos dois espetáculos foi destacada pela setorista de artes cênicas do porto-alegrense Jornal do Comércio, Michele Rolim, admiradora da companhia desde que a conheceu no Festival de Curitiba. "É mais relevante a estrutura da peça do que propriamente o conteúdo, ou seja, a forma como a história é contada", avalia.

Integram ainda o Festival Brasileiro no Rio Grande do Sul as companhias paranaenses Tato, Armadilha, Antropofocus e Cia. dos Palhaços. Na etapa paulista, a convidada especial é a CiaSenhas, que apresentará Circo Negro. Neste ano, não está programada a vinda de peças de outros estados ao Paraná, mas isso deve ocorrer em edições seguintes do festival.

A repórter viajou a convite do festival.