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A primeira medida de Maria José Justino foi solicitar uma reunião com o governador para negociar uma sede para a Embap | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
A primeira medida de Maria José Justino foi solicitar uma reunião com o governador para negociar uma sede para a Embap| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

R$ 804 mil

é o gasto anual com o aluguel dos três prédios da Embap – mensalmente, R$ 67 mil sai do orçamento da escola para arcar com a despesa, que não inclui gastos com água, luz e telefone.

  • Na Rua Comendador Macedo fica a parte administrativa da Embap
  • Salas de aula, além de cursos para crianças se concentram na Rua Benjamim Constant
  • Na Rua Francisco Torres, mais salas e auditórios para apresentações e palestras

A pernambucana Ma­­ria José Justino, que "só nasceu em Pernambuco" e se define paranaense, é uma das maiores estudiosas – e entusiastas – das artes visuais do Paraná. Após anos com uma direção da área de música, ela assumiu no final de abril o comando da Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap). Atuante na área acadêmica e pesquisadora de artistas como Hélio Oiticica, Tarsila do Amaral e Frida Kahlo (a última é analisada junto com outras cinco artistas mulheres no seu trabalho de pós-doutorado, realizado em Paris, que virou livro e deve ser lançado ainda neste semestre), Maria José tem como principal meta de sua gestão conseguir uma sede única para a escola.

Hoje, a Embap está dividi­­da em três endereços (R. Comendador Macedo, R. Francisco Torres e R. Benjamim Constant), o que gera, segundo a nova diretora, três problemas principais: falta de espaço para ampliar projetos, professores e alunos que não convivem e um gasto alto: mensalmente, os aluguéis custam R$ 67 mil, mais de R$ 800 mil por ano. "Com R$ 20 milhões teríamos uma sede decente de Belas Artes. Com muito menos, R$ 5 milhões, é possível nos adaptarmos a um prédio que já é do estado." Confira os principais trechos da entrevista.

Quais são os problemas gerados pelo fato de a Embap estar três endereços diferentes?

É a questão que mais me deixa atônita. Nós estamos hoje em três pedaços, pagando um aluguel caríssimo. Ao mesmo tempo existem prédios do Estado que podem ser adaptados para receber a Belas Artes. Eu protocolei junto ao governador [Beto Richa] uma solicitação de audiência para discutir a sede, e espero ser atendida. Exatamente porque quero mostrar a ele o que é a Embap, quem já passou por ela (artistas como João Turin, Guido Viaro e Neyde Thomas são alguns). Fora os alunos que hoje fazem mestrado e doutorado fora do país. Isso mostra o nível da escola.

Também temos planos que esbarram na sede, como a criação de um setor de comunicação, que é importantíssimo para nós, e ampliação da biblioteca. Existem computadores ainda encaixotados para montar um laboratório, o que não aconteceu pelo espaço. Tudo fica emperrado. Outra coisa grave é que a divisão fragmenta a escola, com alunos e professores que não se encontram. Não conseguimos nem cantineiros, porque o público que frequenta um prédio não vai para o outro.

Nós [a Embap] temos um papel fundamental na formação de artistas na cidade e no estado, e é preciso que os governos entendam a importância que a cultura tem, não só de transformação do indivíduo, mas econômica. Todo mundo pensa que a arte vem depois. Isso é um engano extraordinário, 550 mil pessoas trabalham em atividades culturais no Brasil, e há países como a França que fazem da cultura a maior fonte de renda da economia. Um governador tem de entender isso.

Porém, a área no Brasil é deixada em segundo plano. O orçamento para a pasta é baixo e alguns empenhos desperdiçados. Recentemente, por exemplo, o prefeito da cidade de Paulínia (SP) suspendeu o Festival de Cinema deste ano, alegando que a verba, de R$ 10 milhões, irá para programas sociais.

O que é preciso para que os governantes priorizem a cultura e enxerguem o potencial econômico?

É necessário que eles se abram para a cultura e se sensibilizem com as causas. Recentemente, foi anunciado em São Paulo o projeto do Complexo Cultural da Luz (que vai abrigar espaços para dança e ópera, além das novas sedes da Escola de Música de São Paulo). A obra é orçada em R$ 500 milhões, R$ 250 milhões do BNDES e o restante do governo estadual. Com 20 milhões teríamos uma escola decente de Belas Artes, poderíamos fazer uma sede supimpa. Com menos, R$ 5 milhões, é possível ir para um prédio já existente do governo, além de montar a Sala Belas Artes, com locais para exposições e concertos, no antigo prédio da Embap [na Rua Emiliano Perneta], seria um espaço multiuso no centro da cidade. Hoje o governo poderia negociar alguns lugares nobres de Curitiba, onde querem criar mais shoppings, tem essa especulação. É preciso parar de fazer shopping e fazer escola de arte. A cidade já perdeu muitas coisas que aconteciam na rua, como os cinemas. Desapareceu tudo.

Qual a importância de uma profissional das ar­­­­­­tes visuais assumir a Embap, após anos seguidos de direções da área de música?

Não que eu vá ser a diretora das artes visuais, não tem sentido, serei da escola como um todo. Mas é interessante essa mudança de olhar, cruzar as áreas. Possibilitar que a cada quatro anos áreas diferentes assumam é muito salutar.

A senhora disse que o incentivo para a área cultural ainda é insatisfatório. Como analisa o cenário de Curitiba. Acredita que ainda é possível chamá-la de "capital cultural"?

Acho que perdemos muita coisa. Precisamos aprender que os projetos têm de ser entendidos como de Estado, e não de governo. Ainda temos esse comportamento: muda governo, muda tudo, se desfaz, bota placa diferente. Essa cultura tem de mudar. Os governantes precisam respeitar projetos bons que vêm de anteriores. Entender que não é do governo, mas da sociedade civil como um todo.

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