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A Oficina, de Luciana Viégas. Graphia, 154 págs., R$ 38,90. Romance.

As tênues fronteiras entre fato, invenção e memória compõem a chave de A Oficina, romance de estreia da professora de língua portuguesa e editora carioca Luciana Viégas. "Para mim, as memórias vão perdendo a preocupação de ser relato para se tornar um jogo de invenção e realidade. Perceber isso me deu uma autonomia muito grande para minha escrita", conta a autora. Baseado no Rio de Janeiro das décadas de 1960 e 1970, mais especificamente no bairro das Laranjeiras, A Oficina conta a história de uma família de descendentes alemães que estabelece uma oficina mecânica de frente para as Casas Casadas – referência da vizinhança tombada pela prefeitura da cidade.

À história do herdeiro da oficina, Careca, responsável por lembrar o período, se soma a saga dos nordestinos Pedro e Dora, filhos de um casal de mulheres pernambucanas, Meiri e Lábis, que constroem juntas a carreira de radialista e escritora da primeira. "Quis construir uma família atípica de imigrantes nordestinos. Independentemente da opção sexual, é uma casa que respira criatividade, algo cada vez mais raro no ambiente familiar", explica a autora, e complementa, sobre a importância geográfica do romance: "Laranjeiras é um reduto tanto de alemães, que vieram para o Rio pegar trabalho pesado, quanto de pernambucanos. A Oficina é uma história de alemães e pernambucanos desgarrados".

Dotada de um estilo refinado e poético, a autora de A Oficina começa sua narrativa de forma nebulosa, e o leitor só começa a compreendê-la conforme avança na leitura. Luciana, que também já traduziu obras de Virginia Woolf e G.K. Chesterton, diz ter se embebido muito mais na obra de poetas brasileiros do que propriamente de romancistas, para compor o estilo de sua estreia ficcional. "Não consegui escapar de nomes como Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto e Carlos Pena", conta e acrescenta que inspirou-se no soneto deste último, intitulado "Testamento do Homem Sensato" para compor uma cena importante do romance.

Para a escritora, a alegoria da oficina serve ao propósito do romance. "Assim como os alemães e pernambucanos se desgarram de suas raízes, a oficina do livro também se desgarra de suas funções conforme a concorrência aumenta, e passa a oferecer carros novos em vez de consertos. Mas os carros têm conserto, a vida não. Ou criam-se novos caminhos ou fica-se pelo caminho."

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