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Desde que os Estados Unidos invadiram o Ira que, em 20 de março de 2003, o mundo vem testemunhando uma das mais equivocadas e discutíveis operações militares das últimas décadas. As críticas à ação norte-americana começam pela própria justificativa da invasão – a existência no país de Sadam Hussein de armas químicas e de destruição em massa, jamais comprovada – e chegam à ausência de um plano organizado de ocupação. Sem falar do alto custo financeiro, que pode chegar a US$ 1,9 trilhão do lado americano, e humano, contabilizado em centenas de milhares de mortos.

É crescente a insatisfação – para não dizer indignação – nos mais diversos setores da sociedade nos EUA. Portanto, também era mais do que esperado que Hollywood, onde a força do Partido Democrata é maior do que a do Republicano, se manifestasse em roteiros antibelicistas. Neste ano, pelo menos quatro filmes que abordam o conflito de vários ângulos estão sendo lançados: o já em cartaz no Brasil Leões e Cordeiros (de Robert Redford), No Vale das Sombras (de Paul Higgis), Redacted (de Brian de Palma) e Grace Is Gone (de James C. Strouse).

O interessante é perceber que, à exceção do drama familiar Grace Is Gone, que só chega aos cinemas americanos no dia 7 de dezembro, nenhum deles está fazendo sucesso de bilheteria.

É notório que o público médio dos EUA não é lá muito chegado em filmes políticos, de idéias. E quando se tratam de histórias que de alguma forma critiquem a ação americana em outros países, sem traços de heroísmo, o nível de interesse cai mais ainda. E, apesar da crescente impopularidade da Guerra do Iraque e do governo George W. Bush, essa regra, que atesta uma certa alienação consciente, continua de pé.

Didatismo

Embora traga no elenco pesos pesados como Meryl Streep, Tom Cruise e Robert Redford, Lobos e Cordeiros é uma fracasso. Rendeu apenas US$ 12 milhões em duas semanas de exibição – um valor ridículo para uma produção estrelada por Cruise, que parece estar em franca decadência depois do desempenho um tanto morno de Missão Impossível 3.

Apesar do excesso de diálogos "de conteúdo", e de padecer de um certo didatismo ingênuo, que tenta dar lições de cidadania ao espectador, Leões e Cordeiros não é um filme de todo ruim. É interessante a idéia das três narrativas paralelas interligadas: um senador republicano (Cruise) que tenta convencer uma repórter investigativa (Meryl) a fazer uma matéria sobre uma ação das tropas americanas no Afeganistão; um professor universitário (Redford) disposto a persuadir uma aluno cheio de potencial a sair da passividade; e dois ex-alunos desse mesmo mestre que fazem parte da missão top secret endossada pelo senador. Pena que a ambição de surpreender e indignar não seja bem-sucedida.

Menos formulaico e muito mais dramático, mas igualmente engajado, é No Vale das Sombras, primeiro longa do diretor Paul Higgis, consagrado com o Oscar de melhor filme por Crash – No Limite. A trama gira em torno de um ex-capitão do Exército (Tommy Lee Jones, em grande atuação), que decide investigar, à revelia das autoridades, o desaparecimento do filho, um soldado que acaba de retornar do Iraque. Lutando contra a burocracia militar, ele aos poucos descobre que o rapaz, assim como vários de seus companheiros de pelotão, voltou do front com graves desvios de conduta. Os desdobramentos do caso são trágicos.

Elogios da crítica, sobretudo ao elenco, que conta ainda com Charlize Theron e Susan Sarandon, não foram suficientes para despertar interesse nos americanos. O filme estacionou nas bilheterias e até agora fez apenas US$ 6 milhões.

Pior fim deverá ter o petardo digital de Brian de Palma, Redacted, que deu ao diretor o prêmio de melhor direção no último Festival de Veneza. Apesar de elogiadíssimo na Europa, o filme vem sendo destruído por parte da crítica nos EUA, onde é exibido em circuito limitado.

De Palma se utiliza de vários formatos digitais – filmes caseiros feitos por um militar, vidoblogs postados no site do Exército e pseudocumentários –, para reconstituir a história verídica de soldados americanos que estupraram uma adolescente iraquiana de apenas 15 anos e depois a assassinaram e queimaram, junto com a família.

"Sensacionalista", "pretensioso", "falso" e "sem foco" foram alguns dos comentários negativos dirigidos a Redacted, um filme cheio de indignação e cinismo que parece ter ofendido muitos, independentemente de serem contra ou a favor da guerra. A julgar pelas (baixas) cotações dadas pelos internautas em site como o International Movie Data Base (imdb.com) e Box Office Mojo (boxofficemojo.com), a ogiva ideológica de De Palma saiu pela culatra.

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