No Brasil, mais do que a experimentação estética e técnica de Sin City, os formatos digitais são usados muitas vezes para contornar os altos custos de produção em película. O cineasta paranaense Marcos Jorge, por exemplo, utilizou a tecnologia no curta-metragem Infinitamente Maio. "Eu queria privilegiar o trabalho de atores, armando um processo de filmagem que permitisse mais experimentação, coisa que, com baixo orçamento e em um curta, é quase impossível de fazer filmando em película", conta.

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A opção pelo digital permitiu mais liberdade ao conferir um maior número de tomadas para determinadas cenas, e dentro do orçamento. Porém, de acordo com Jorge, a escolha do formato sempre deve ser feita em função da proposta de linguagem da obra.

Em Infinitamente Maio, o cineasta empregou tanto película como vídeo digital para atender às características de cada segmento do filme. "A parte em digital tem cenas de sexo bastante cruas que eu queria que não fossem estetizadas, mas muito realistas, porque é a história de um homem traído. E a captação em vídeo, como uma escolha de linguagem, adequou-se perfeitamente à proposta", explica. Captado em uma câmera simples de fitas mini DV, o material foi editado, retocado no computador e transposto para película.

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Em Corpos Celestes, projeto de longa-metragem conjunto entre Jorge e o cineasta Fernando Severo, com início das filmagens prevista para outubro, levantou-se a possibilidade de captação em digital. Segundo o diretor, a tecnologia empregada no formato sofisticou-se a ponto de aproximar-se à qualidade da película. "O que está nos fazendo não escolher digital para fazer o filme é o fato de ele ter uma linguagem que pede muito o 35mm tradicional, a imagem na emulsão", afirma. Mas o desaparecimento da película pertence a um futuro próximo, de acordo com o cineasta.

No exterior, cineastas envolvidos no movimento Dogma 95 têm defendido as vantagens do novo formato. O diretor americano Michael Mann também empregou a tecnologia nas cenas noturnas em Colateral. O iraniano Abbas Kiarostami defendeu a técnica na Mostra de São Paulo de 2004, ao afirmar que as câmeras digitais permitem uma redução drástica na equipe de produção, fazendo com que os atores amadores se sentissem mais à vontade – ideal para sua proposta de cinema, que mescla o documental e o ficcional.

O diretor americano David Lynch é outro simpatizante de peso. "Apaixonei-me pelo digital. A liberdade que nos proporciona, quer na rodagem, quer na pós-produção, é espantosa", disse Lynch à imprensa internacional durante o Festival de Cannes de 2004. Ele está rodando o projeto INLAND EMPIRE (sim, o nome é todo em maiúsculas) nos Estados Unidos e na Polônia, com Laura Dern no papel principal.