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São Paulo – No primeiro andar do Itaú Cultural, em São Paulo, há três espelhos, ou melhor, "três espelhos de software". Como manda o costume, basta ficar parado diante do objeto para ver a própria imagem refletida. A diferença nesse caso é que a reflexão exibe distorções criadas por uma seqüência de efeitos programados por computador. É uma das 13 obras que estarão expostas nos próximos dois meses na mostra Emoção Art.ficial 3.0, na capital paulista.

Dos três espelhos, o mais interessante cria uma espiral de pontos coloridos a partir da imagem original, o que o autor Daniel Rozin define como uma "inversão do pixel". "Em uma tela de computador, a imagem é formada por pontos que têm sua posição fixa e que mudam de cor combinando o verde, o azul e o vermelho", conta. No seu espelho acontece o oposto. A partir da imagem refletida e congelada (atualizada uma vez a cada minuto) o pixel mantém sua cor original e percorre quase todo o espaço do quadro.

"O interessante é que as pessoas pensam que elas controlam a imagem refletida, mas às vezes é a reação da imagem que determina a ação das pessoas", comenta Rozin. Em frente ao espelho descrito, os espectadores tendem a ficar parados observando as distorções nas imagens. O oposto ocorre com o espelho composto por centenas de pac-man (personagem do famoso jogo de fliperama e videogame) que percorrem o a superfície da direita para esquerda e abrem e fecham suas bocas para formar áreas claras e escuras que denotam o contorno do corpo do observador. "Nesse caso, as pessoas tâm tendência a mexer o corpo, andar, levantar os braços, ver o movimento refletido na imagem", afirma o artista. O mesmo ocorre com o terceiro espelho que também pesquisa a questão do pixel, mas do ponto de vista do tamanho: a imagem refletida reproduz o movimento das pessoas em tempo real combinando pixels grandes e pequenos obedecendo a um logaritmo pré-programado em um computador.

Na medida em que lida com a mediação entre a máquina e homem (entre o eletrônico/mecânico e o corpo biológico), o trabalho de Rozin pesquisa as interfaces da cibernética. "O objetivo dessa exposição não é a tecnologia, mas restituir o significado de interatividade, pensar maneiras de medir a interatividade", conta um dos coordenadores do evento, Marcos Cuzziol. Por isso, outros 12 trabalhos de artistas estrangeiros também pesquisam a interatividade e interfaces, o que, de acordo com organizadores, permite ao público diferentes níveis de fruição e leitura.

Certamente, será o caso do aparelho de "escrever vida", o "Life Writer" de Cristina Sommerer e Laurent Mignonneau. Trata-se de uma máquina de escrever analógica da década de 30 adaptada para exportar informações para uma uma tela que substitui o papel. Em uma analogia com o código genético, as letras digitadas ao teclado permitem a criação de um mundo de seres virtuais que habitam o "papel". O sistema é guiado por uma série de variáveis que permitem centenas de diferentes ações para o usuário e determinantes para a vida artificial que transcorre na tela.

"Dog (Lab)", instalação com cinco cães robóticos da francesa France Cadet é um retrato, por vezes assustador, das possibilidades e consequências da manipulação genética. Os cães robóticos da artista desenvolvem movimentos complexos para simular a vida de outros animais. Os movimentos foram pré-programado a partir de bichos reais, resultando em seres híbridos (como um cão-peixe).

Um simpósio internacional completa o evento com a presença de Edmond Couchot, autor de "Les Pissenlits" (aqui em versão 2006), obra que consiste em flores-de-dente digitais que se desfazem ao sopro do visitante. Outros destaques são "Text Rain", de Camille Utterback e Romy Achituv, e a releitura de Duchamp em "Cheap Imitation", de David Rokeby, que exibe fragmentos de Nu Descendo a Escada em função do movimento do observador. A relação completa das 13 obras expostas de 18 artistas estrangeiros pode ser conferida no site oficial do evento em www.itaucultural.org.br.

O repórter viajou a convite do evento.

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