É como se Jorge Drexler quisesse de alguma forma recompensar o cineasta carioca Walter Salles por ter lhe dado a grande oportunidade de ganhar o Oscar de melhor canção original, pelo tocante tema de Diários de Motocicleta, "Al Otro Lado del Rio". Em seu primeiro disco depois de receber a cobiçada estatueta dourada em 2005, o compositor e cantor uruguaio resolveu não homenagear o Brasil, mas absorvê-lo, trazendo para o belo 12 Segundos de Oscuridad participações especiais de Maria Rita, Vítor Ramil, Arnaldo Antunes e Paulinho Moska, além de referências culturais ao país vizinho.

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Radicado em Madri, desde 1994, Drexler não fez, felizmente, um CD de música brasileira. Seria arriscado demais, já que sua musicalidade, que mistura elementos da canção ibero-americana, jazz e blues, tem poucas ligações óbvias com a chamada MPB. Mas, como ele mesmo faz questão de admitir, não há como deixar de identificar em seu modo de cantar, introspectivo, à voz pequena e por vezes hesitante, a influência de um João Gilberto, ou Caetano Veloso. E, na aproximação do pop-rock anglo-saxão e na poesia verborrágica de algumas letras, é possível ver traços da admiração que nutre pela tropicália.

Todas essas referências histórico-musicais, contudo, foram absorvidas muito antes de pensar em realizar 12 Segundos de Oscuridad. O novo trabalho tem, na verdade, uma ligação forte com a música brasileira contemporânea e não necessariamente conhecida do grande público. É o caso da faixa-título, uma referência à luz tímida que ilumina o sul do continente americano, escrita a quatro mãos com o talentoso compositor gaúcho Víctor Ramil, defensor da existência de uma "estética do frio", partilhada pelos estados meridionais do Brasil, que não desfrutam das cores e da energia tropical do Nordeste e do Rio de Janeiro. Não à toa, "12 Segundos de Oscuridad" é uma canção melancólica e bastante intimista.

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Drexler, ao contrário de seus trabalhos anteriores, já não faz uso de tantos jogos de palavras e refrões fáceis: aposta em letras mais complexas e introspectivas – influência, talvez, de Arnaldo Antunes e Ramil. O disco também é mais econômico no que diz respeito às sonoridades obviamente latinas. O tango, a bossa nova, ou gêneros menos conhecidos, como a folclórica baguala, comparecem, mas já não dão o tom dominante. Estão mais deglutidos, metabolizados pela imensa musicalidade de Drexler.

Dentre as músicas que têm colaborações de brasileiros, a melhor é mesmo a faixa-título. Com a cantora Maria Rita, ele interpreta a singela canção "Soledad", que lembra um pouco "Al Otro lado del Rio". Já Arnaldo Antunes comparece com a "Disneylandia", provocativa colagem de imagens sobre a globalização e a multiplicidade cultural latino-americana. Bem ao estilo do ex-titã. GGGG