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Acadêmicos de pé para o ritual de abertura da reunião. | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Acadêmicos de pé para o ritual de abertura da reunião.| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Enquanto garçons serviam pães de queijo, salgadinhos e frutas da estação, um violonista executava o choro “Sons de Carrilhões”, dando tom ameno à chegada dos membros da Academia Paranaense de Letras (APL) na reunião da última quarta-feira (9).

No Brasil atual, porém, a tensão política chega a todos os salões.

Logo após a abertura ritual da sessão e a leitura do “credo acadêmico” (oração que enumera os valores da entidade), a simples a menção à invasão ao prédio da UFPR, ocorrida cinco dias antes, esquentou o desjejum dos acadêmicos.

A reprovação aos“mascarados” no prédio onde muitos estudaram ou lecionaram foi unânime. Houve, contudo, impasse quanto à forma institucional de lidar com a questão.

Logo após a invasão, uma reunião decidiu publicar em nome da entidade uma nota de repúdio a cargo da pena do jurista Renê Dotti.

Alguns acadêmicos, como o ex-senador Flávio Arns, foram contra o teor do texto. “Não acho que a Academia deva assinar este texto. Caso faça, que fique claro que não concordo. Ainda que seja contra a invasão, há formas e formas de fazê-lo”.

Sem consenso, a casa optou por não assinar o texto, publicado na Gazeta do Povo em nome apenas do autor. O assunto mudou o tom dos oradores.

O médico Ricardo Pasquini disse que a APL “perde a oportunidade histórica ao não se posicionar”. Seguiram-se discursos contra e a favor da nota, que tomaram a maior parte das duas horas de reunião.

Nada que ameaçasse, porém, a cordialidade que impera na confraria, cuja função principal é “o cultivo, a preservação, a valorização e a divulgação do vernáculo, em seus gêneros científico, histórico, literário e artístico”.

“Quer mais café, professor?”

“A Academia está numa fase muito boa, com muita participação dos membros. E tem conseguido se aproximar da sociedade com alguns bons projetos”, disse o jornalista Nilson Monteiro, membro desde 2014.

Monteiro exerce a segunda profissão mais comum na casa, com oito acadêmicos. Oito também são os advogados e alguns têm formação nas duas áreas. Há três escritores “puro-sangue”, além de economistas, cineastas, filósofos, médicos, maestros e publicitários.

Na cadeira nº 8, o titular é o prefeito eleito Rafael Greca. “A maioria de nós votou nele, mas nem todos”, confidenciou um confrade.

Predominam os professores. Nove. Talvez por isso, os garçons usem o tratamento ao repor as libações. “Quer mais café, professor?” A atual presidente Chloris Casagrande Justen é uma delas.

Com 93 anos, comanda com firmeza o heterogêneo grupo: homens e mulheres entre 49 e 93 anos, com origens e formações diferentes. Para tanto, usa uma pequena sineta cujo material veio de uma antiga charrete de seu pai.

Fundada em setembro de 1936, a APL é composta por 40 cadeiras. Três estão vazias, esperando os trâmites para o preenchimento.

Todos podem se candidatar à vaga, basta apresentar currículo e exemplares de obras publicadas à entidade. Na prática, as indicações são antes discutidas entre os acadêmicos. Quanto às obras, não precisam ser necessariamente literatura.

O empresário Darci Pianna, por exemplo, publicou um único livro com artigos sobre a situação da indústria no estado, mas é destacado pelos colegas como grande apoiador da cultura. “Percebemos que Academia tinha muitas letras e poucos números”, brincou um confrade.

  • Violonista recebe os acadêmicos para café da manhã.
  • Caneta tinteiro para escrever a ata da reunião.
  • A presidente Chloris Casagrande Justen prestes a dar início aos trabalhos.
  • A sineta com que a presidente Chloris comanda a etidade.
  • o professor Ernani Straube lê o credo acadêmico.
  • Oa acadêmicos Nílson Monteiro ( a esquerda) e Flávio Arns.
  • A professora de literatura Marta Morais da Costa.
  • Brasão da Academia foi criado por Pamphilo D’Assumpção.

Identidade Literária

Não quer dizer que a literatura não seja o tema central dos encontros. Na última reunião, a decisão mais importante foi a organização de um simpósio literário para esclarecer a seguinte questão: “Existe uma identidade literária paranaense?”

Indagação foi trazida pelo procurador aposentado Ruy Cavallin Pinto, que disse ver o Paraná como uma paisagem “sem “literatos”. Soou à blasfêmia, foi rebatida com veemência.

A casa se mantém com uma anuidade de R$ 550 cobrada dos membros. A cada reunião mensal, os acadêmicos contribuem com cerca de R$ 25 para as despesas com o café. A casaca só é exigida em reuniões solenes como posses de novos membros.

“Somos uma instituição pobre, mas somos sonhadores e queremos sempre coisas novas”.O sonho maior é transferir definitivamente APL para o Belvedere na Praça João Cândido, no Largo da Ordem.

Na metade de dezembro haverá eleições. Qualquer membro pode se candidatar. A presidente disse que “por motivos médicos” pode tentar a reeleição. “Meu médico disse que, na minha idade, se eu parar de lutar contra um leão por dia é pior”.

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