No dia 6 de dezembro de 1991, um espaço que era utilizado pela família Ferreira como lavanderia, e, mais tarde, como ateliê e estúdio de ensaio da banda de JR Ferreira, Jully et Joe, abriu as portas para um público restrito e entrou para história do underground nacional. O porão, situado à Rua Visconde do Rio Branco, já na altura do bairro Mercês, foi batizado, inicialmente, a partir de uma canção da banda gótica britânica Siouxsie and the Banshees, lançada em 1986, chamada "Ninety Two Degrees".

CARREGANDO :)

Desde então, o local tornou-se uma referência na cena independente local, promovendo shows de bandas curitibanas, nacionais e estrangeiras, muitas das quais tiveram uma parcela importante na construção do cenário underground brasileiro e que representavam o mesmo movimento em outros países.

É comum ouvir histórias de bandas que fizeram sua primeira apresentação no Ninety Two Degrees – hoje chamado de Espaço Cultural 92 Graus – ou de gente que, ao assistir a um dos shows realizados no porão suado de JR, teve a iniciativa de montar seu próprio grupo.

Publicidade

Porém, o úlimo capítulo desta história já tem data marcada. O 92 Graus acaba de receber uma ordem de despejo, anunciada com pesar por seu proprietário, no site do bar. "Venho por meio deste comunicar que o 92 estará apresentando espetáculos no bom e velho porão da Visconde do Rio Branco, 294, até 23 de dezembro de 2005. Devido a uma ordem de despejo – parece irônico, como o CBGB, mas é verdade – estaremos encerrando nossas atividades por tempo indeterminado após esta data", conta, citando a casa nova-iorquina ameaçada de fechamento após 32 anos de atividades.

Em entrevista ao Caderno G, por telefone, a tristeza e o desânimo na voz de JR eram claramente percebidos. Mas, segundo ele, apesar do apoio que vem recebendo de nomes ligados à cena independente local, que vêm tentando elaborar uma maneira de impedir o fechamento de mais um reduto alternativo histórico da cidade – vale lembrar que o Lino’s Bar encerrou suas atividades no início de julho, após mais de duas décadas de funcionamento –, a situação é bem mais delicada do que parece.

Após enfrentar fases difíceis ocasionadas pela falta de público, pela dificuldade em obter um alvará de funcionamento em uma área residencial, e graças à implicância de vizinhos politicamente influentes, o motivo que levará o 92 Graus a fechar suas portas, de acordo com JR, é de ordem familiar e pessoal, relativo à propriedade do prédio em que o bar funciona há quase 14 anos. "A decisão foi um consenso. Não há nada que possa ser feito para reverter a situação", lamenta.

O músico não descarta a possibilidade de inaugurar um novo espaço em outro endereço, mas, revela que só poderá começar a pensar nisso em 2006. "Para o próximo ano, tudo pode acontecer, ou até mesmo nada", hesita, no comunicado veiculado na internet.

Por enquanto, o único desejo de JR é de que os últimos meses de vida do Espaço Cultural 92 Graus – que está com a agenda lotada até o dia 23 de dezembro – sejam de felicidade e lotação máxima. "Portanto, caros amigos, aproveitem estes últimos três meses de atividade no porão mais rock do sul do mundo. Tirem fotos, cantem, poguem e bebam suas derradeiras antes que o fim se apresente. Divulguem a todos e nos ajudem a tornar este fim um pouco menos doloroso, com a casa cheia de amigos e alegria", pede.

Publicidade

Histórico

* O Espaço Cultural 92 Graus foi, desde a sua inauguração, em 1991, palco para shows de bandas independentes da cena nacional, que cresceu junto com a história do bar. Entre as apresentações memoráveis da bandas brasileiras estão: Relespública, Woyzeck, Tod’s, Boi Mamão, Pinheads, Magog, No Milk Today, Pin Ups, Second Come, Loveless, Electric Heaven, C.M.U. Down, Missionários, Krápulas, Os Cervejas, Planet Hemp, Killing Chainsaw, Little Quail, Autoramas, etc.

* Entre as internacionais que lotaram o porão estão: Fugazi,, Man or Astroman?, T.S.O.L., Agnostic Front, Sick of It All, Seaweed e Varukers, entre outras.