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Mestre em Educação, Renato Mocellin dá aulas em cursinho pré-vestibular há 27 anos | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Mestre em Educação, Renato Mocellin dá aulas em cursinho pré-vestibular há 27 anos| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

48 livros é o número de títulos publicados por Renato Mocellin, na maioria obras didáticas e paradidáticas. O total de exemplares vendidos é impreciso, mas está na casa dos milhões de cópias.

Não é tarefa para qualquer mortal pisar em uma sala de aula com uma média de 300 alunos. Ainda mais se boa parte deles estiver com os nervos à flor da pele, a poucos meses de enfrentar vestibulares disputadíssimos, com dezenas, quando não centenas de estudantes brigando por uma única vaga.

Há 27 anos, o professor curitibano de História Renato Mocellin enfrenta todos os dias esse desafio no curso preparatório Positivo, onde ministra várias aulas, quase sempre, garante ele, com o mesmo entusiasmo. Gerações de alunos que passaram pelas carteiras do cursinho tiveram aulas com ele, e delas se lembram, por conta de um comprometimento que vai além do mero senso de dever. Ele chama de "paixão" o seu combustível. Pela História e pelo magistério.

Nas suas mais de três décadas de carreira, iniciada aos 21 anos – no passado, Mocellin também lecionou no ensino fundamental e médio –, o historiador viu uma transformação significativa nos jovens. Observou que, com o advento da revolução digital, e do amplo acesso às informações que os estudantes têm ao alcance dos dedos, os alunos hoje dispõem de muitas referências, dados a respeito de diversos assuntos que eles são capazes de citar. "Mas enfrentam uma enorme dificuldade em transformar tudo isso em conhecimento, em reflexão crítica."

Por conta dessa realidade, o papel do professor, que mais do que um senhor de todas as verdades, é agora mais fundamental do que nunca. "Não adianta você ter as melhores e mais modernas instalações, equipamentos de última geração, material didático de primeira, se não houver, lá na frente, um profissional capaz, que saiba o que está fazendo e dizendo", constata o historiador, que também é formado em Direito e Ciências Sociais.

Para Mocellin, os professores de hoje, sobretudo na área de Humanas, mas não apenas nela, têm uma função desafiadora e complexa: a de ser uma espécie de guia, capaz ao mesmo tempo de provocar a curiosidade, suscitar discussões, com o objetivo de articular toda essa gama de informações disponíveis, formando a capacidade de compreendê-las e olhar para o mundo de maneira mais crítica e questionadora.

"Acho uma bobagem essa história de que os jovens são alienados. Isso não é verdade. Não é o que eu observo no meu dia a dia. Também não são apolíticos. Eles rejeitam, sim, a política que se faz hoje dia. A dos partidos, para a qual olham com grande desconfiança. Desprezam a corrupção, a falta de honestidade", diz.

Livros

Em paralelo à trajetória de professor, mas totalmente a ela conectada, Mocellin vem publicando, desde a década de 80, livros didáticos e paradidáticos. Nos seus cálculos, são hoje em torno de 49 títulos, muitos deles organizados em coleções destinadas ao ensino fundamental e médio – antes chamados de primeiro e segundo graus –, que alcançaram grande circulação país afora, por terem sido adotadas e adquiridas pelo Ministério da Educação. Entre essas séries, História do Povo Brasileiro (1985), em dois volumes, Para Compreender a História (1997), integrada por quatro livros, todas elas lançadas pela Editora do Brasil.

Em 1989 lançou, pela mesma editora, uma série de títulos que costumam ser chamados de paradidáticos: Canudos: Fanatismo ou a Luta pela Terra?, Coluna Prestes: a Grande Marcha, Guerrilheiros do Contestado, Federalista: a Revolução da Degola e Reações Armadas ao Regime de 64: Guerrilha ou Terror?.

O objetivo dessas obras, conta o professor, mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná, era, à época de seu lançamento, oferecer tanto a professores quanto a estudantes textos que se aprofundassem em episódios mais obscuros da História do Brasil, com mais conteúdo do que os livros didáticos de seu tempo ofereciam, mas oferecendo uma linguagem acessível, que possibilitasse sua utilização em sala de aula e como leitura complementar, mais reflexiva e crítica.

Fascínio

Um exemplo desse tipo de obra é o livro O Nazismo, que Mocellin publicou em 1998, pela editora FTD. "Há temas pelos quais os estudantes são fascinados, e o Nacional Socialismo na Alemanha é um deles. Eles têm enorme curiosidade sobre o assunto, mas, na maior parte das vezes, a visão que têm é reducionista e simplificada demais. Essas obras vêm preencher essa lacuna de certa forma", diz o professor, embora afirme que o mercado de paradidáticos hoje está em declínio. "As editoras hoje já são interessam tanto em publicá-los."

Neste mês, Mocellin lançou, em edição própria, financiada com seus próprios recursos, Pica-paus x Maragatos – A Mais Sangrenta Guerra Civil Brasileira, que relata todos os lados envolvidos na Revolução Federalista, que deixou de 10 mil a 12 mil pessoas mortas durante os anos 1893 e 1895. "É um tema que sempre me apaixonou e me dediquei à essa pesquisa durante anos, lendo toda a bibliografia disponível, vasculhando documentação."

Voltando ao tema sala de aula, Mocellin diz que, para ensinar, é precisar gostar do ofício e ter interesse pelos jovens, pelo que estão pensando, seus anseios e inquietudes. "A História está presente em tudo, é essencial para compreender o presente, e conhecer o passado. Se você vai a Roma, e tem um conhecimento mínimo sobre o Império Romano, o que ele representou para a humanidade, ou vai a Paris, visitar o Museu D’Orsay, e estudou o movimento impressionista, tudo fará mais sentido, a viagem será muito mais proveitosa."

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