No inusitado prólogo de Água para Elefantes terceiro romance da escritora canadense Sara Gruen, e primeiro a ser lançado no Brasil , as jaulas dos animais de um circo são abertas durante uma apresentação, causando pânico no público e nos funcionários. Aparentemente, a única pessoa tranqüila no local é uma jovem com um vestido de lantejoulas, montada em um elefante.
"Ela procurava alguma coisa. Uma girafa passou entre nós o pescoço comprido se balançando graciosamente, apesar do pânico. Quando a girafa saiu da frente, vi que ela pegara uma barra de ferro e a segurava sem firmeza, com uma ponta pousada no chão de terra batida. Ela me olhou de novo, estupefata. E então seu olhar se voltou para a cabeça dele."
Quem narra a história é Jacob Jankowski aos 93 anos , que durante sete décadas guardou em segredo seu passado no circo. Desde a morte de sua mulher, mora em uma casa de repouso, rodeado por simpáticas senhoras que passam o dia conversando, e de enfermeiras que o tratam como se fosse um doente senil.
"Na verdade, eu sei por que não falo sobre isso: nunca confiei em mim. Eu tinha medo de deixar escapar alguma coisa. Eu sabia como era importante guardar o segredo dela e de fato o guardei pelo resto de sua vida e depois."
Há 20 semanas na lista dos mais vendidos do jornal The New York Times, Água Para Elefantes se tornou um dos mais curiosos fenômenos literários dos últimos tempos, com cerca de 1 milhão de exemplares vendidos nos Estados Unidos e seus direitos vendidos para mais de 29 países, com a possibilidade de virar filme em breve. Não surpreende que a edição brasileira chegue ao público pela Sextante, que possui no catálogo livros como O Código da Vinci e O Monge e o Executivo campeões imbatíveis de vendas.
Apesar de não se passar em nenhum país do Oriente islâmico, a fórmula de um bom best seller está lá: tema exótico (o cotidiano de um circo no período da depressão americana), acontecimentos inesperados, personagens cativantes (incluindo uma jovem elefanta que parece ser incapaz de aprender truques e um palhaço anão mal-humorado), triângulos amorosos e o conflito (o "segredo" guardado pelo protagonista, que inclui dois assassinatos).
Aos 23 anos e após uma tragédia familiar, Jankowski se uniu ao Circo dos Irmãos Benzini o Maior Espetáculo da Terra, abandonando os exames finais da faculdade de veterinária. Viajando em um trem pelo interior dos Estados Unidos, o circo é comandado pelo impiedoso Tio Al, que se aproveita de espetáculos falidos para adquirir novos animais e artistas muitos dos quais jogados do trem em pleno movimento para não pagar salários.
O conhecimento de veterinária facilita o emprego de Jankowski no departamento dos animais, onde conhece Marlena, a estrela do número de cavalos e esposa de August, o inconstante chefe do setor, que alterna períodos de amabilidade com comportamentos perversos.
A chegada da elefanta Rosie uma possível salvação para o circo, não fosse sua incapacidade de realizar números irá marcar de forma determinante o cotidiano de Jacob e seus companheiros de picadeiro.
Apesar da história interessante e personagens cativantes, Água para Elefantes perde pontos pela estrutura excessivamente simples e diálogos pouco inspirados. Mas funciona perfeitamente bem para quem deseja se distrair.
* * * * *
Serviço: Água para Elefantes, de Sara Gruen (tradução de Anna Olga de Barros Barreto. Sextante, 352 págs., R$ 39,90).
Julgamento do Marco Civil da Internet e PL da IA colocam inovação em tecnologia em risco
Militares acusados de suposto golpe se movem no STF para tentar escapar de Moraes e da PF
Uma inelegibilidade bastante desproporcional
Quando a nostalgia vence a lacração: a volta do “pele-vermelha” à liga do futebol americano