Depois de conquistar crítica e público como um dos maiores músicos de blues e rock do mundo, o guitarrista Eric Clapton parece ter se decidido a homenagear todos os grandes nomes da história da música que o influenciaram, mas nunca se tornaram tão populares quanto ele. Foi assim em 2000 com "Riding with the king", parceria dele com o rei do blues, B.B.King, em 2004 com "Me and Mr. Johnson", em que homenageou Robert Johnson, e neste "The road to Escondido", em que gravou 14 canções compostas em parceria com J.J. Cale.

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"J.J. Quem?", deve ter muita gente perguntando. O parceiro de Clapton neste disco não é considerado o "rei", como B.B., nem é uma das maiores lendas da música, como Johnson, conhecido pela suposta venda da alma ao demônio em troca de sucesso e habilidade na guitarra (história que inspirou o filme "Crossroads", "Encruzilhada", na tradução brasileira), mas Cale é um ícone da música norte-americana, autor de 13 discos e tem mais de 40 anos de carreira de blues, tendo ajudado a formar alguns dos fundamentos do estilo.

Músico recluso e menos conhecido do público geral, Cale é uma das influências centrais de Clapton e outras bandas, como Lynyrd Skynyrd, Johnny Cash, Allman Brothers e Deep Purple. Todos já regravaram composições dele. E são dele algumas das músicas mais conhecidas na voz, e guitarra, de Clapton: "Cocaine" e "After midnight".

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Apesar dessas músicas de Cale que Clapton tornou célebres, o disco dos dois tem pouco ou quase nada de "Cocaine" ou "After Midnight". O caminho para Escondido é um disco de raiz. Foge do blues que quer ser rock, e do blues que é só lamento, e tem fortes traços de country, folk e o jazz animado de Nova Orleans (como em "Dead End Road"), em composições típicas da tradicional música norte-americana, sem soar datado para um lançamento de 2006.

A maior parte das canções foi composta pelos dois músicos especialmente para esta gravação juntos. Cale compôs 11 delas, e Clapton, que já ganhou 18 prêmios Grammy, deixou fluir tudo o que aprendeu com Cale nas outras composições, resultando num álbum variado no estilo, mas homogêneo na personalidade.

As guitarras têm, como não poderia deixar de ser num disco de Clapton e Cale, um espaço de destaque. Mas nada de solos rebuscados em técnica e velocidade, só arranjos que valorizam a simplicidade e o efeito que cada nota pode passar. Além dos dois, o disco traz músicos de apoio de Cale e Clapton, convidados como Taj Mahal e John Mayer, além de uma das últimas participações do lendário tecladista Billy Preston, morto em junho deste ano, e a quem o disco é dedicado por Clapton, que Preston já acompanhava há algum tempo.