Ilustres desconhecidos
Desengano, de Carlos Nascimento Silva
Vista Parcial da Noite, de Luiz Ruffato
Pelo Fundo da Agulha, de Antonio Torres
Cantigas do Falso Alfonso el Sábio, de Affonso Ávila
Cântico para Soraya, de Neide Archanjo
Raro Mar, de Armando Freitas Filho
Resmungos, de Ferreira Gullar
A Casa da Minha Vó e Outros Contos Exóticos, de Artur Oscar Lopes
O Volume do Silêncio, de João Anzanello Carrascoza
Na semana passada, a Câmara Brasileira do Livro impressionou ao divulgar os vencedores do 49.º Prêmio Jabuti. Entre os melhores nas categorias de Romance, Poesia, Conto e Crônica três das 20 existentes, que premiam inclusive projetos gráficos , vários dos nomes indicados eram de figuras que recebem pouca atenção da mídia. Até então.
O maior exemplo disso é Carlos Nascimento Silva, mineiro de Varginha e autor de Desengano (Agir). Seu romance foi considerado o melhor do ano pelo júri que a CBL sorteou a partir de indicações de profissionais que compõem o mercado editorial. Detalhes do processo seletivo estão disponíveis em www.premiojabuti.org.br.
O Portugal Telecom (www.premioportugaltelecom.com.br), láurea mais cobiçada do país graças aos R$ 150 mil que distribui entre os três vencedores cem para o primeiro, 35 para o segundo e 15 para o terceiro conta com um júri inicial de mais de 300 profissionais entre críticos literários, jornalistas, escritores e professores universitário (mas sobretudo de nomes ligados à imprensa). Esses jurados sequer citaram Desengano entre os 50 livros mais importantes do ano.
Essa situação como qualquer outra tem dois lados.
Um ruim: o Jabuti aponta para escritores bons e ótimos que não são identificados pelo radar da mídia. Os críticos e jornalistas que deveriam fazer a ponte entre o leitor que deseja ser orientado e o escritor que merece ser conhecido não estão dando conta do trabalho.
Um lado bom: apesar de passarem despercebidos pela imprensa, eles ainda podem ser pinçados pelo Jabuti no meio da multidão.
Em outras palavras já que a idéia não é defender que um prêmio é melhor do que o outro , enquanto o Portugal Telecom é um termômetro do que pensam os profissionais da comunicação e da educação (grande maioria entre os jurados), a CBL endossa o julgamento do mercado editorial (fonte para o seu júri).
Carlos Nascimento Silva não é exatamente um estreante. Nascido em 1937, é autor de quatro romances. Professor universitário aposentado, tem mestrado em Literatura Brasileira e publicou seu primeiro livro, A Casa da Palma (Relume-Dumará), com quase 60 anos. A obra foi editada na Alemanha e, de acordo com informações da editora Agir, teve boa acolhida da crítica germânica.
Em 1998, lançou Cabra-cega, também pela Relume-Dumará, e com ele foi finalista do Jabuti. Escreveu Vale da Soledade: a Natureza do Mal para a Record em 2003. No ano passado, apresentou Desengano, sobre a relação amorosa entre uma mulher viúva e o adolescente amigo de seus filhos, ambientada no Brasil dos anos 50 e 60.
Silva bateu uma concorrência que incluía Moacyr Scliar (Os Vendilhões do Tempo) e Luiz Fernando Verissimo (A Décima Segunda Noite). Luiz Ruffato terminou em segundo com Vista Parcial da Noite (Record), o desfecho da série Inferno Provisório. O terceiro ficou com o baiano Antonio Torres e o seu Pelo Fundo da Agulha (Record).
Se, entre os romances, os nomes são pouco conhecidos, em poesia, ser desconhecido é quase uma regra. Assim, Cantigas do Falso Alfonso el Sábio (Ateliê Editorial), de Affonso Ávila, foi eleito o melhor livro de poesia do ano. Mineiro de Belo Horizonte, completa 80 anos em 2008 e publicou seus primeiros versos em 1953.
A paulista Neide Archanjo, segundo lugar com Cântico para Soraya (A Girafa), publica livros de poesia desde 1964 e havia concorrido ao Jabuti em 1995 com Tudo É Sempre Agora. Em terceiro, Armando Freitas Filho e o Raro Mar (Companhia das Letras).
Na categoria de Contos e Crônicas, em que concorriam Rubem Fonseca, Valêncio Xavier, Autran Dourado e até Manuel Bandeira, deu Ferreira Gullar (Resmungos), Artur Oscar Lopes (A Casa da Minha Vó e Outros Contos Exóticos) e João Anzanello Carrascoza (O Volume do Silêncio).
O poeta Gullar só pode ser desconhecido por completo para alguém que viveu as últimas décadas em outro planeta ou que não costuma ler a Folha de S.Paulo aos domingos (onde assina uma coluna na "Ilustrada"). Artur Oscar Lopes nasceu no Rio em 1950 e vive em Porto Alegre. Antes de publicar A Casa da Minha Vó e Outros Contos Exóticos por conta própria, havia lançado somente um livro, Notícias, 38 anos atrás.
João Anzanello Carrascoza nasceu em Cravinhos, no interior de São Paulo, é publicitário e professor da Universidade de São Paulo. Tem vários livros editados, entre contos, infanto-juvenis e técnicos. O Volume do Silêncio marcou sua estréia na Cosac Naify.