Uma conversa com escritores (alguns deles, também editores), o Caderno G procurou fazer a sintonia fina de duas idéias que parecem ter se colado à poesia para não desgrudar mais.
Todo mundo diz que poesia não vende. Boa parte dela não faz sucesso comercial, mas existem bons exemplos do contrário "exceções que confirmam a regra", podem dizer os pessimistas.
Meu Filho, Minha Filha, do Carpinejar, pode ser considerado um best seller: vendeu cerca de 4 mil exemplares, segundo informações da Bertrand Brasil, mais do que muitos romances.
Folhas de Relva, a obra-prima de Walt Whitman, traduzida pelo poeta paranaense Rodrigo Garcia Lopes para a Iluminuras, já ultrapassou os 6 mil exemplares vendidos no país.
O escritor Augusto Massi trabalha como editor na Cosac Naify e, ao lado do poeta Carlito Azevedo, publica a coleção Ás de Colete, a mais importante do país dedicada à poesia. Dela, fazem parte 18 volumes, entre títulos de bolso dedicados a nomes novos e outros, de tamanho tradicional e com capa de tecido, compilando as obras completas de figuras como Francisco Alvim e Orides Fontela.
Massi diz que a editora consegue ter retorno, mas explica que os livros de poesia são difíceis de editar porque implicam em um projeto gráfico mais elaborado do que o de um romance. Cada poeta tem um modo peculiar de usar espaçamentos, linhas e posicionar as palavras nas páginas. "Lançar um livro de poesia é tão complexo quanto fazer um filme ou um disco", compara.
Todo mundo diz que ninguém lê poesia. "O mundo da poesia é um tanto incestuoso: os leitores tendem a ser poetas, críticos e professores de literatura. É claro que ainda há um contingente de pessoas que lêem poesia apenas por prazer; só que são muito poucas", observa Paulo Henriques Britto, autor de Tarde e vencedor do Prêmio Portugal Telecom por Macau (um livro de poesia!) em 2004.
"Em alguns festivais, me sentia uma médica num congresso de medicina, vendo meus colegas apresentarem seus trabalhos, suas novas descobertas", lembra Angélica Freitas, autora de Rilke Shake.
"Os maiores interessados em artes plásticas são mesmo os artistas plásticos, a música é a arte preferida pelos músicos e assim vai. Por que com o poeta seria diferente?", questiona Mario Domingues, criador do Porão Loquax, evento de leituras poéticas realizadas no Wonka Bar, em Curitiba.
"Afinados em suas sensibilidades, essa troca (de experiências de leitura) é bem mais constante entre poetas", diz Márcio Davie Claudino, autor de O Sátiro Se Retirou para um Canto Escuro e Chorou.
Não se lê poesia como se lê um romance. Algumas expectativas podem ser parecidas, mas a experiência é diferente. Angélica é precisa quando diz que os romances pedem uma leitura mais detida e "deitada", enquanto os poemas podem ser lidos aleatoriamente, quando se busca "emoção concentrada".
"É como beber vinho e beber licor ou vinho do porto", analisa Domingos Pellegrini, que escreve em prosa (Quadrondo) e em verso (Gaiola Aberta), citando "a linguagem mais intensa" e a "tessitura de significados mais densa" da poesia sobre o romance.
"O leitor precisa de um tempo para conviver com o livro (de poesia), para sacar a dicção do autor, e para apreciar a beleza de poemas específicos", acredita Rodrigo Garcia Lopes.
Enfim, poesia é mesmo para poucos. Só não dá para saber se isso é bom ou ruim. Talvez seja os dois e considere todas as graduações entre um extremo e outro.
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