Relembre
Veja como foi a readequação do edifício para a criação do MON
Em 1967, o arquiteto Oscar Niemeyer elaborou o projeto de um edifício para abrigar o Instituto de Educação do Paraná, obra inaugurada em 1978 como Edifício Presidente Humberto de Alencar Castelo Branco. O prédio, entretanto, nunca foi usado com a função de escola, e abrigou secretarias do governo estadual. Após reivindicações da classe artística por anos, a ideia de um grande museu começou a ser pensado na cidade. No ano 2000, Curitiba concorreu com outras cidades brasileiras para instalação de uma filial do museu espanhol Guggenheim.
O Rio de Janeiro acabou escolhido, mas desentendimentos cancelaram a instalação no Brasil. Em 2002, a criação do Novo Museu foi anunciada pelo então governador Jaime Lerner, e o prédio foi inaugurado em 22 de novembro daquele ano. Em 2003, já no governo de Roberto Requião, o museu foi reformulado e rebatizado de Oscar Niemeyer.
"Considero a criação do Olho uma obra-prima de Oscar Niemeyer. Ele conseguiu integrar e reunir de uma maneira muito bem feita uma arquitetura que havia criado quase 40 anos antes."
Jaime Lerner, ex-governador e idealizador do museu.
"Como o espaço do Olho é nobre, nossa intenção é fazer mostras de artistas paranaenses na sala. Se o turista vai em busca para ver o local, ele também conhecerá os artistas do estado."
Estela Sandrini, diretora do MON.
17 mil m2 é o espaço da área expositiva do Museu Oscar Niemeyer.
"Preciso ir ao Museu Oscar Niemeyer." Afirme isso para alguns taxistas de Curitiba, que logo em seguida responderão: "Ah, sim, o Museu do Olho?" O anexo criado por Oscar Niemeyer para o prédio virou uma marca para a cidade, além de referência turística. A grandiosidade é tamanha que, por vezes, muitos visitantes se sentem satisfeitos em conhecer apenas a parte externa do prédio. Em suma: a beleza da construção não chega a ser uma concorrente, mas faz com que a direção pense constantemente em medidas para chamar esses admiradores para dentro.
"Claro que o exterior tem uma beleza enorme, mas o mais valioso está dentro. Senão seria uma escultura", acredita a atual diretora do MON, Estela Sandrini. Ela mesma, ao tomar um táxi recentemente para ir ao trabalho, foi questionada pelo taxista se gostaria de parar para tirar uma fotografia. "Perguntei o porquê e ele disse que todos os passageiros pedem para ele parar. Que já está até acostumado."
Na análise do professor de arquitetura Paulo Chiesa, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o anexo é arrojado, e possui uma forma instigante, o que gera esse destaque na paisagem urbana. "Por isso, tornou-se um marco referencial incorporado pelos cidadãos e visitantes. Ele tem a marca de seu autor: é singular; é bonito; provoca vertigem; incita ao sonho; emociona. Poucas obras públicas hoje em dia propiciam esse tipo de experiência."
A primeira ideia de Niemeyer para o museu, entretanto, era bem diferente, conta o ex-secretário de Assuntos Estratégicos do governo Jaime Lerner Alex Beltrão. "Ele adicionava uma estrutura de concreto e um espelho d'água, que não valorizava o ambiente onde o museu estava inserido e não teriam o impacto proposto". Felizmente, diz Beltrão, o projeto ficou inviável por questões estruturais, e então veio um plano B. "Quando vimos o Olho foi amor à primeira vista."
Finalizado o projeto, a readequação do edifício que abrigava secretarias do governo, projetado pelo próprio Niemeyer em 1967, e a construção do anexo, foram feitas em tempo recorde: cinco meses de obras. Além do trabalho intenso dos operários, o fato de a estrutura do prédio estar intacta e de a proposta inicial ter sido ousada para a década de 1960 ajudou os arquitetos da equipe. "Inicialmente, parecia um grande pardieiro por conta das divisórias improvisadas. Mas, assim que visitamos o local, notamos que com pequenas modificações a transformação seria possível", relata o arquiteto Marcelo Ferraz, que participou da empreitada.
O antigo porão, por exemplo, virou reserva técnica, e também abriga o atual pátio de esculturas do museu, que até hoje, de acordo com Ferraz, está inacabado. "Conseguimos jogar luz naquele espaço, mas, na época, foi previsto um espelho d'água que faz muita falta, porque o lugar é muito branco e árido. Tem até ponto de água lá. Seria interessante se pensassem em completar essa parte."
Além de enviar os arquitetos que escolheu, como Marcelo Ferraz, Niemeyer também acompanhou a obra, mas por videoconferência, do Rio de Janeiro. Alex Beltrão relembra que foi feito de tudo para que Niemeyer, então com 95 anos, participasse da obra. "Mas ele não viaja de avião. Então, instalamos o equipamento de vídeo no escritório dele. Foi interessante tê-lo conosco todos os dias, mesmo que de forma remota." A câmera, aliás, tinha cabos de 200 metros que percorriam o prédio para que Niemeyer pudesse conferir os detalhes. Mesmo assim, dois dias antes da inauguração em 22 de novembro de 2002, o arquiteto deixou a equipe de cabelo em pé: fez com que derrubassem uma parede que não tinha gostado. "Foi uma loucura", recorda Ferraz.
Queixas
Antes de virar museu, o prédio era alvo de reclamações de funcionários que trabalhavam nas secretarias e apontavam problemas como infiltrações e espaços mal distribuídos. Segundo o ex-governador Jaime Lerner, tudo foi sanado. "Fizemos as adequações necessárias, são problemas que o tempo ocasiona. Transformamos alguns locais que pareciam impossíveis em belas salas de exposição." Outra crítica, com o edifício já como museu, foi o fato de o Olho ter sido escurecido por uma tela entre os vidros para uma exposição realizada em 2006. A intenção agora, diz Estela Sandrini, é retomar a arquitetura original.
Leia na próxima semana: A política de acervo e a "disputa" dos outros espaços com o MON.
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