Pouco mais de dois anos após a morte de Robin Williams, sua esposa escreveu um relato, altamente pessoal, em que reconta a luta dolorosa e muitas vezes confusa que culminou na morte do ator, em 2014.
O relato, que tinha o título “O terrorista dentro do cérebro do meu marido”, foi publicado no último dia 26 por um periódico de neurologia. Susan Schneider Williams escreve longamente sobre sua perda e os meses durante os quais a saúde mental de seu marido se deteriorou, por conta de uma doença que ele mesmo não sabia que tinha – uma doença que levou o ator de 63 anos a cometer suicídio.
“Robin estava enlouquecendo e ciente disso. Vocês conseguem imaginar a dor dele enquanto percebia que estava se desintegrando?” escreveu Williams. “E por conta de algo que ele jamais mesmo viria a sequer saber o nome ou compreender? Nem ele, nem ninguém, poderia impedir isso – não havia inteligência ou amor que pudesse reverter a situação”.
Demência dos corpos de Lewy
Robin Williams tinha uma doença que é chamada de Demência dos corpos de Lewy, ou LBD, na sigla em inglês, uma condição cerebral pouco conhecida que afeta mais de um milhão de pessoas nos EUA. Ela causa lesões nas células cerebrais, o que ocasiona perda de memória, delírios, alucinações, sintomas de mal de Parkinson e outros problemas de saúde. No caso do ator, foi só após sua morte que a família descobriu que ele tinha a doença.
Essa “tempestade de fogo de sintomas”, segundo Susan Williams, começou em outubro de 2013, o mês de seu segundo aniversário de casamento.
“Seu medo e ansiedade dispararam até chegar a um ponto alarmante”, escreve Williams. “Eu me perguntava, em privado, ‘Será que o meu marido é só hipocondríaco?’”.
Ao longo dos meses que se seguiram, Robin Williams sofreu com paranoia, delírios e insônia, só para citar alguns dos seus sintomas. Um ataque de pânico se seguiu em abril de 2014, quando ele estava em Vancouver filmando “Uma Noite no Museu: o Segredo da Tumba”.
O mesmo ator brilhante que se formou na Escola Julliard tinha dificuldades para conseguir decorar até mesmo uma única fala, segundo sua esposa.
“Essa perda de memória e a incapacidade de controlar sua ansiedade tiveram um efeito devastador sobre ele”, escreveu Susan Williams. “Nunca saberei a verdadeira profundidade de seu sofrimento, nem o tamanho do esforço que ele fez em sua luta. Mas, da minha perspectiva, o que eu vi foi o homem mais corajoso do mundo interpretando o papel mais difícil de sua vida”.
Vários exames, incluindo de sangue e urina, e um eletrencefalograma, deram todos resultados negativos. Ainda assim, o casal sabia que havia algo de terrivelmente errado, como escreve Susan Williams.
“Eu só queria poder reiniciar meu cérebro”, ela lembra de o seu marido dizer.
Em maio de 2014, Robin Williams foi diagnosticado com Parkinson.
Depois, vieram outros sintomas.
“Às vezes, ele se flagrava travado numa dada posição, incapaz de se mexer, e ficava frustrado quando voltava”, escreve Susan Williams. “Ele estava começando a ter dificuldade com suas capacidades visuais e espaciais para determinar distância e profundidade. A perda de capacidades básicas de raciocínio só piorava o seu estado cada vez mais grave de confusão”.
Ao longo da doença, Robin Williams havia enfrentado mais de 40 sintomas de LBD.
Por volta do segundo fim de semana de agosto de 2014, os delírios de Robin Williams pareciam estar se acalmando. Por volta do fim do dia do domingo de 10 de agosto de 2014, parecia que ele estava melhorando, segundo escreve sua esposa.
“Quando nos retiramos para ir dormir, como fazíamos sempre, meu marido me disse ‘Boa noite, meu amor’, e esperou a minha resposta de sempre, ‘Boa noite, meu amor’”, escreve Susan Williams.
Robin Williams morreu no dia seguinte.
Seu assistente o encontrou em seu quarto em sua casa em Tiburon, na Califórnia. Ele havia se enforcado com um cinto.
“Depois que Robin se foi, o tempo nunca mais funcionou igual para mim”, escreveu Susan Williams. “Minha busca por significado vem se replicando como um mecanismo inescapável em quase todos os aspectos da minha vida, inclusive os mais mundanos”.
Susan Williams disse que havia falado com profissionais médicos que reavaliaram os prontuários de seu marido.
“Suas reações foram todas iguais: que o caso patológico de LBD de Robin era um dos piores que eles já tinham visto, e que não havia nada que qualquer um pudesse fazer”, ela escreve.
Robin Williams era conhecido pelo seu estilo de comédia de improviso em seus stand-ups, bem como também por sua performance em filmes como “Sociedade dos Poetas Mortos” e “Gênio Indomável”, filme que lhe rendeu um Oscar de melhor ator coadjuvante.
*Kristine Guerra é chefe de reportagem do The Washington Post.
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