Hoje que lanço a mão na pena, me diga se você já sentiu a picada de uma abelha-de-fogo. O beijo fatal na nuca.
Não? Eu, sim. Ai, sim.
A mocinha ali na janela. E eu, parando? Indo? No mesmo lugar? Nem sei mais. E, a cada passo, o alfinete em brasa do amor se enterrava fino fininho na pele.
Até que acertou numa só batida o meu com o teu coração.
Ai, como você dói.
Noite de lua me levanto, vou suspirar na janela: todos os pernilongos cantam o teu nome.
Eu me deito, apago a luz: os vaga-lumes acendem o teu rosto no escuro.
Chorava outro dia no meio da rua, até parou gente, imaginando fosse desastre. Um guarda quis me consolar, eu falei: Seu guarda, não seja burro. Vou preso, mas sou fiel até a morte.
Como ia dizendo, um dia você há de se arrepender. Aí é tarde, estou lá embaixo da terra. Aí chegarás diante da minha cruz: Morreste, infeliz, não foste digno do meu amor.
Você pode rir. Eu falo sério, não sou fingido, hein? Mamãe já reparou, não comes, meu filho. Tusso demais, sinto palpitação, me obrigo a dormir sentado.
Ai de mim, dá gana de tomar um bruto porre. Daí escrevo-lhe estas mal traçadas linhas. Se você não me quer, pego tifo e escarlatina, me atiro da Ponte Preta, boto fogo na roupa, bebo capilé com vidro moído.
Sei que prefere galã bonito. De bigodinho e costeleta. Bonito não sou, bigodinho eu tenho. Isso não vale nada?
Por ti serei maior que o motociclista do globo da morte.
Me diga. Outro perdido de paixão como eu? Não existe.
Lá vem você, e pronto! Olha eu aqui – de novo o menino aos pulos batendo palmas à tua passagem com tambores, bandeiras e clarins.
Mais gloriosa que a bandinha do Tiro Rio Branco.