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 | Poty/ Acervo Jorão Lazzarotto
| Foto: Poty/ Acervo Jorão Lazzarotto

Por mais que Dalton Trevisan seja um escritor consagrado, confesso que em 17 anos e meio de vida eu ainda não havia tido um contato direto com a obra dele. Apenas ouvi falar (e muito).

Fiquei empolgada com a ideia de ler Dalton pela primeira vez e ansiosa para registrar minhas impressões. Antes de tudo, recebi avisos de que o Dalton poderia “me espantar” um pouco. O que aconteceu de fato.

O Vampiro de Curitiba

Ai, me dá vontade até de morrer. Veja, a boquinha dela está pedindo beijo – beijo de virgem é mordida de bicho-cabeludo

Leia o conto de Dalton

Peguei o livro O Vampiro de Curitiba nas mãos e pensei: “Ah, não deve ser tão espantoso assim”. E abri em uma página qualquer para ver o que me aguardava. Já no primeiro parágrafo que li, Nelsinho (o protagonista dos contos) narrava uma cena em que entrava de mansinho numa casa e via a dona completamente nua... Entre outras coisas. Ok, ok, já deu pra entender, né?

#SemanaDoVampiro

Na internet, esta é a #SemanaDoVampiro. Além desta edição especial sobre os 90 anos de Dalton Trevisan, o Caderno G preparou também conteúdos exclusivos para a versão online. A Gazeta do Povo traz uma história em quadrinhos de Robson Vilalba (o conto “Uma Vela para Dario”) e tirinhas de Alberto Benett baseadas em seus contos. E também uma “websérie” em vídeo com quatro curtas-metragens inspirados na obra de Dalton Trevisan – os contos “Em Busca de Curitiba Perdida”; “Apelo”; “Pico na Veia” e “Os Botequins”. E, por fim, há uma leva de minicontos para compartilhar nas mídias sociais durante a #SemanaDoVampiro.

No dia seguinte, continuei firme na minha missão de ler o conto que dá nome ao livro e escrever sobre a experiência. Gostei como Dalton narra de maneira dinâmica, tornando a leitura rápida e gostosa.

Num primeiro momento, fiquei surpresa com a naturalidade dele ao escrever sobre as “necessidades do homem” e sobre como usaria qualquer uma das moças que via para se satisfazer. Por consequência, isso me causou desconforto, porque, se o Vampiro de Curitiba vivesse nos dias de hoje, poderia ser eu a estar andando na praça junto das outras moças.

Sabe quando estamos na 7ª série e um garoto com os hormônios à flor da pele fala algo ridículo a seu respeito, e então fazemos aquela cara de “Afff, cresça!”? Foi assim que me senti com Nelsinho.

Sabe quando estamos na 7.ª série e um garoto com os hormônios à flor da pele fala algo ridículo a seu respeito, e então fazemos aquela cara de “Afff, cresça!”? Foi assim que me senti quando Nelsinho disse a seguinte frase: “Se fosse me chegando, quem não quer nada [...] e encostasse bem devagar na safadinha [...] Não quero no mundo mais do que duas ou três só para mim.” (os itálicos são meus). Sem falar de outras narrações muito menos delicadas. Afff.

Em outro momento, senti raiva. Raiva de Nelsinho. Onde já se viu dizer “Maldita feiticeira, queimá-la viva, em fogo lento. Piedade não tem no coração negro de ameixa. [...] Bom seria pendurá-la cabeça para baixo, esvaída em sangue.”, só porque uma jovem não devolveu seu olhar?

Mas me diverti com Nelsinho e com seu desespero por causa da “força dos vinte anos”. Engraçado ler inúmeras declarações de amor nunca faladas, para inúmeras jovens nunca cortejadas.

Se pudesse, eu diria algumas palavrinhas para o protagonista: Querido Nelsinho, gostaria de lhe dar uma dica... manter tais opiniões sobre moças não é algo muito agradável. Tenho certeza de que teria mais sucesso se, em vez de usar o termo “cadelinha”, o rapaz usasse algo mais delicado. Que tal? #ficaadica

Lana Carvalho é estudante de Jornalismo.
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