Poema extraído do livro Caprichos & Relaxos, de 1983
quando eu tiver setenta anos então vai acabar esta adolescência
vou largar da vida louca e terminar minha livre-docência
vou fazer o que meu pai quer começar a vida com passo perfeito
vou fazer o que minha mãe deseja aproveitar as oportunidades de virar um pilar da sociedade e terminar meu curso de direito
então ver tudo em sã consciência quando acabar esta adolescência
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Neste domingo, o escritor curitibano Paulo Leminski completaria 70 anos. Uma forma de homenageá-lo é disseminar toda boa literatura que ele deixou como legado. Sendo assim, escolha seu poema preferido e compartilhe nas redes sociais
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"Acaso é este encontro/ entre o tempo e o espaço", tamborilou Paulo Leminski. Pois, foi por acaso, ou artimanha sideral do polaco, que o artista plástico Rogério Dias surgiu de repente para contribuir com esta matéria. No bar, lembrou-se do bom-humor inteligente do escritor e de sua criatividade incansável.
Também de seus momentos de fúria passageira, como o dia em que virou a mesa forrada de petiscos e biritas porque não se conformou com o título que haviam acabado de lhe conceder. "Eu não sou guru de ninguém, p****!" Isso tudo só faz lembrar o que disse recentemente o escritor português Valter Hugo Mãe sobre o ilustre curitibano. "Com muita pouca coisa, Leminski parece demolir o mundo ou construir o mundo inteiro."
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É de se pensar como estaria Paulo Leminski hoje, setentão. Talvez menos "cachorro louco". Certamente ainda mais culto. Quem sabe um músico completo, com o bigode a fazer inveja a Dalí. "Eu o imagino mais irreverente ainda, produzindo, e produzindo cada vez melhor", diz o ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná Jaime Lerner, camarada do poeta.
Se há algo marcante na figura complexa do curitibano mais conhecido é sua falta de vergonha. A começar pela produção artística. O mesmo Leminski que escreveu Catatau, livro que exige do leitor, além de uma boa poltrona, referências enciclopédicas, cunhou poemas popularescos como "Ameixas/ Ame-as ou deixe-as". "Ele não tinha vergonha de ser brilhante. Não escondia a sua genialidade", diz Lerner, para quem o legado do poeta, de forma geral, foi fazer da vida uma experiência menos carrancuda. "Leminski deixou um recado inteligente e irreverente: ter uma visão crítica do mundo, mas não se levar tão a sério. Tentar ter mais entendimento dos outros do que projetar no mundo você mesmo," explica Lerner, que conheceu Leminski em pleno Passeio Público.
Chá
Outro polaco, Jaime Lechinski esteve muito próximo de Leminski entre 1985 e 1989, os últimos anos de sua abundante vida. "Ele era uma farra e uma mina de criatividade", resume o ex-secretário de comunicação do governo. Naquela época, o bar Camarim, quase anexo ao Teatro Guaíra, borbulhava. Leminski era assediado e sempre correspondia. Cometia poemas em guardanapos. Declamava. E pedia vodcas. "Apesar de sua erudição, era generoso com todo mundo", lembra Lechinski.
Sua versão do Leminski setentão continuaria em "constante ebulição", mas o copo daria vez à xícara, num lugar bem tranquilo. "Acho que hoje, se ele estivesse vivo, marcaríamos um encontro para tomar um bom chá."
Rasputin
Orlando Azevedo é, digamos, o fotógrafo de carteirinha de Paulo Leminski. Também foi um dos fundadores da banda A Chave, que deu espaço à verve musical do escritor. Sua definição para o aniversariante é certeira. "Ele foi um verdadeiro Rasputin paranaense. Muito intenso e muito invulgar em sua performance, física inclusive. Não é por acaso que virou essa mídia", conta Azevedo.
E o senhor Paulo Leminski aos setenta, a quantas andaria, Orlando? "Estaria produzindo muito, inclusive algumas coisas que eu não apreciaria. Porque ele queria estar em todas as posições ao mesmo tempo. E quase conseguia, porque tinha um discurso incrível e era um grande sedutor. Na verdade era isso: Leminski era um grande sedutor." Leminski****VIDEO****
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