Até o final do mês, o Centro Cultural Teatro Guaíra (CCTG) receberá um projeto arquitetônico para reforma e restauro do espaço, que inclui elementos como reformulação das instalações elétrica e hidráulica, além do restauro das poltronas dos auditórios, do carpete e reforma nos banheiros. A intenção, segundo o secretário de estado da Cultura, Paulino Viapiana, é que o Teatro Guaíra tenha as restaurações mais urgentes resolvidas no ano que vem. Para não fechar o equipamento totalmente, as obras serão feitas em etapas, e o custo será conhecido depois da entrega do plano.
"A expectativa é que até 2014 a gente conclua o processo de reforma, mas não diria total, pois não posso prever como será o andamento. Começamos o processo todo em 2012 com a licitação do projeto", explica Viapiana.
De acordo com a diretora-presidente do CCTG, Mônica Rischbieter, o Guaíra nunca havia tido um plano de reforma amplo. "Ao longo do tempo foram realizados arranjos. Mas nunca existiu, por exemplo, um novo projeto elétrico. A partir disso, vamos arrumar o teatro e nos adequar a um tempo que virá."
Por se tratar de um imóvel tombado pelo patrimônio histórico, há uma série de regras que precisam ser respeitadas ao longo do processo: as cadeiras, por exemplo, só poderiam ser substituídas se existissem outras exatamente iguais. Como não há poltronas idênticas, elas serão restauradas em partes e, temporariamente, outras semelhantes serão recolocadas, para não diminuir o número de cadeiras.
O projeto arquitetônico atual do Guaíra, feito pelo engenheiro Rubens Meister (1922-2009), um dos precursores da arquitetura moderna no Paraná, foi elaborado no final dos anos 1940, e a construção iniciada em 1952. Apesar de continuar bastante inovador e com palcos de dimensões grandiosas, uma nova configuração elétrica, por exemplo, se faz necessária hoje por conta da quantidade de aparatos utilizados em shows e espetáculos.
O restauro do carpete, das poltronas e a reformulação hidráulica deve sanar uma reclamação recorrente dos frequentadores, sobretudo do Guairinha: o cheiro de mofo do auditório, problema agravado pelo Rio Ivo, que passa embaixo do palco do local. Em 2010, o ator Emílio de Mello interrompeu a salva de palmas do espetáculo In on It para reclamar do problema.
A boa notícia, diz Mônica, é que após 25 anos o Guairinha voltará a ter ar condicionado, antes mesmo do fim da reforma. As obras para instalação do equipamento, uma doação da Companhia Paranaense de Energia (Copel), por conta de uma parceria com a Agência Nacional de Energia (Aneel), estão em andamento." O Guairão também receberá um aparelho mais eficiente", conta a diretora-presidente. O projeto inclui ainda um café no hall onde hoje são realizadas exposições, na intenção de retomar as discussões e a movimentação de artistas durante a década de 1980, quando existia a saudosa cantina do Guaíra, que atendia aos alunos do Curso Permanente de Teatro.
Gargalo
A única parte do projeto de Meister que ficou datada foi a garagem usada para carregar e descarregar os equipamentos dos espetáculos, que é muito pequena. Caminhões de grande porte não entram e precisam descarregar na rua. Por conta do tombamento, não é possível ampliar o espaço, esclarece Mônica. "É algo que ficou daquele tempo, é o único problema técnico que temos hoje que ficou sem solução."
Artistas se organizam para discutir o Guaíra
A classe artística realiza neste domingo, a partir do meio-dia na Praça Santos Andrade, uma mesa compartilhada para debater o Teatro Guaíra e as políticas culturais do estado. A ideia surgiu espontaneamente nas redes sociais, após o ator, dramaturgo, cenógrafo e diretor teatral Enéas Lour questionar a distância que vem crescendo, segundo ele, entre o Teatro Guaíra e a classe. O evento é aberto para toda a comunidade e os organizadores pedem que as pessoas levem produtos culturais para serem compartilhados.
"Eu e minha geração de artistas conhecemos bem o teatro. Desde a década de 70, quando iniciei minha carreira no teatro, e até o final dos 80 e início dos 90, o Guaíra era o centro do movimento cênico em Curitiba. A classe artística tinha trânsito cotidiano naquele espaço e um diálogo permanente entre seus componentes, a diretoria do teatro, os funcionários e técnicos", relembra Lour.
Para a atriz e também idealizadora da campanha, Nena Inoue, a causa dos problemas enfrentados pelo Guaíra ao longo dos anos tem relação direta com o porcentual de verba direcionada para a cultura. "Queremos reivindicar e propor ações mais efetivas, já que não há hoje no estado uma política cultural muito clara. Temos uma relação afetiva forte com o Guaíra, é quase uma obrigação nossa detectar o que está acontecendo."
OS
A intenção é também debater o modelo de gestão por Organizações Sociais (OSs), entidades sem fins lucrativos que firmam um contrato com o governo do estado para a administração de um equipamento. A Secretaria de Estado da Cultura estuda a possibilidade de os três corpos estáveis do Guaíra (Balé, Orquestra Sinfônica e G2) serem gerenciados por OSs.
Nota
Depois do fechamento desta edição (na quinta-feira), a Secretaria de Estado da Cultura (Seec) divulgou na sexta-feira, por meio de sua assessoria de imprensa, que a primeira parte dos projetos de restauração, conservação e requalificação do edifício sede do teatro, na praça Santos Andrade, já foi entregue à direção do Centro Cultural Teatro Guaíra (CCTG), e que foi destinado R$ 1,2 milhão para esta etapa de elaboração dos projetos. O orçamento para realizar o primeiro lote das reformas, de acordo com a Seec, é de cerca de R$ 5 milhões.
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