Praticamente ninguém se incomoda com a presença, no Brasil, de espécies animais ou vegetais que não são nativas do país, como a rosa e o milho. No entanto, outros seres, incluindo microorganismos, podem provocar prejuízos econômicos, causar desequilíbrio ecológico e até provocar doenças ao entrar em um novo hábitat: são as espécies invasoras, como o Aedes aegypti, o mosquito transmissor do vírus da dengue – como o próprio nome diz, vindo do Egito. Quando "migram", estas espécies não trazem consigo os seus predadores naturais, e por isso se disseminam com rapidez e demandam investimentos para serem contidas artificialmente.

CARREGANDO :)

A pesquisadora Sílvia Ziller, coordenadora do Programa de Espécies Invasoras da ONG The Nature Conservancy (TNC), destaca que o avanço do problema é subestimado, principalmente porque o discurso sobre a perda de biodiversidade quase nunca basta para convencer a população sobre os riscos. Mas, além de perigosas, estas espécies custam caro: seu impacto econômico e sanitário ameaça mercados nacionais e vidas humanas. Segundo a TNC, mais de US$ 1,4 trilhão (cerca de 5% da economia global) é gasto todos os anos na luta contra o avanço de espécies exóticas. Essa fortuna é gasta, por exemplo, no combate a doenças humanas, como a aids e a dengue, e a pragas agrícolas. A estimativa é de que, no Brasil, o prejuízo seja da ordem de US$ 42 bilhões.

Os países tropicais, especialmente os megadiversos, são considerados mais suscetíveis ao impacto porque as espécies se adaptam com mais facilidade. Para um país como o Brasil, que não investe em barreiras sanitárias, até mesmo um evento como o que está sendo realizado em Curitiba vira um perigo em potencial. Os representantes de 170 países podem trazer nas roupas, nos sapatos e nos próprios corpos sementes de plantas ou microorganismos que podem se instalar no país. Para serem consideradas invasoras, as espécies precisam vencer três barreiras: a geográfica, para passar de um lugar para o outro, ultrapassando montanhas ou rios; a ambiental, para se adaptar em um novo hábitat; e a dispersão, avançando sobre novas áreas próximas.

Publicidade

A pesquisadora defende que a forma mais fácil e barata de evitar o problema é a prevenção. Barreiras sanitárias, como spray em aviões, são recomendadas. Algumas medidas, principalmente no setor de circulação de mercadorias com fins comerciais, já foram tomadas. Frutas só são exportadas em caixas de madeira tratada e plantas são vendidas sem terra ou com solo estéril. Mas, para Sílvia, ainda é muito pouco se comparado a modelos mais eficientes de prevenção. Nem tente subir uma montanha da Nova Zelândia com a mesma bota suja usada para escalar o Marumbi: aquele país tem um dos melhores sistemas do mundo para coibir a entrada de espécies invasoras e uma equipe vai limpar a bota antes da escalada.

Discussão paralela

O assunto faz parte das discussões paralelas da 8.ª Conferência das Partes da Convenção de Diversidade Biológica (COP8), mas só deve entrar na pauta oficial na próxima edição, daqui a dois anos. "Os países terão esse tempo para preparar levantamentos sobre o assunto e chegar à COP9 em condições de discutir medidas práticas", aponta Silvia. O desafio da ONU é conseguir congregar os países para ações conjuntas. O Brasil é um dos dez países que vão implementar modelos a título de experiência em um projeto-piloto. O Ministério do Meio Ambiente já começou o trabalho, mapeando 400 espécies invasoras no Brasil. O inventário será publicado no segundo semestre deste ano. O próximo passo é criar um programa de prevenção e combate.