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Radio Music Society é um álbum de jazz, mas flerta cm outros gêneros da black music | Divulgação
Radio Music Society é um álbum de jazz, mas flerta cm outros gêneros da black music| Foto: Divulgação

CDs

Radio Music SocietyEsperanza Spalding. Montuno/Heads Up/Universal Music. Preço médio: R$ 34,90. Jazz. GGG1/2

JunjoEsperanza Spalding. Ayva/Biscoito Fino. Preço médio: R$ 37,90. Jazz. GGG1/2

O videoclipe da música "Black Gold", primeiro single do álbum Radio Music Society, quarto na carreira da cantora e contrabaixista norte-americana Esperanza Spalding, é exemplar. Dois meninos negros contam ao pai o que aprenderam na única aula de História da África que tiveram no colégio. Muito pouco: receberam informações básicas sobre o Egito Antigo e uma vaga noção da geografia. Além disso, descobriram apenas que a maior parte de quem foi levado aos Estados Unidos como escravo veio do oeste do continente de seus ancestrais. Nada é dito aos filhos, para espanto e indignação do homem, sobre as múltiplas culturas e civilizações que lá surgiram, ou a respeito dos seus legados à humanidade.

Filha de pai afro-americano e mãe mestiça, de origem galesa, indígena e hispânica, Esperanza, hoje com 27 anos, deve ter passado em sua infância, vivida em Portland, no estado de Oregon, por situações parecidas com as enfrentadas pelos garotos do clipe. Teve de receber em casa lições de autoestima que a fizessem compreender suas várias raízes étnicas e, por isso, hoje se sente na obrigação de escrever e cantar canções que, de alguma forma, cumpram o papel de comunicar ao mundo o que é fazer parte de minorias.

É compreensível, portanto, que sua música tenha um certo teor político, embora não se limite a isso. Afinal, ela está hoje em uma posição privilegiada e a utiliza, mas sem apontar dedos: primeira musicista de jazz a receber, em 2011, o disputado Grammy de artista revelação, Esperanza chamou a atenção na época da premiação mais por ter superado favoritos, como o ídolo teen Justin Bieber e o badalado rapper canadense Drake, do que exatamente por seus próprios méritos artísticos. Já fazia sucesso no nicho ao qual estava restrita, mas era uma ilustre desconhecida do grande público.

Talvez por isso que Radio Music Society seja, propositalmente, um disco com paladar de crossover, com finalidade de apresentá-la a uma audiência maior. É, em sua essência, um álbum de jazz, mas passeia por outros gêneros, como o soul e o R&B – não à toa, um dos dois covers presentes no CD é "I Can’t Help It", escrita por Stevie Wonder para Michael Jackson, ainda que a canção tenha recebido um tratamento jazzístico, com a participação de Joe Lovano, ex-professor de Esperanza no Berklee College, em Boston.

Além de "Black Gold", há outras faixas de teor engajado no novo disco. "Endangered Species", do lendário Wayne Shorter, outro saxofonista, fala de questões ambientais. Já "Land of the Free" toma como inspiração o caso de Cornelius Dupree Jr., um homem negro que ficou preso por 30 anos, após ter sido injustamente condenado por crimes de roubo e estupro no Texas.

Junjo

Coincidentemente, chega ao mercado brasileiro, por iniciativa da gravadora Biscoito Fino, o disco de estreia de Esperanza, o belo Junjo, lançado nos Estados Unidos em 2006. No repertório do álbum, surpreendentemente maduro para uma artista tão jovem, está "Loro", do brasileiro Egberto Gismonti – Esperanza é uma entusiasta de nossa música. É um belo trabalho, no qual há até maior ênfase nas habilidades da artista como contrabaixista do que em Radio Music Society.

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