A pressa de quem caminha até o trabalho. A passada contida de quem se vê em meio a uma multidão. A pausa de quem mantém os olhos na paisagem. Movimentos urbanos que fizeram parte do processo criativo de “Ritual Invisível”, espetáculo de dança da ABABTG (Associação de Bailarinos e Apoiadores do Balé Teatro Guaíra) que nasceu nas ruas de Curitiba e que estreia nesta sexta-feira (26) no Teatro José Maria Santos. O espetáculo fica em cartaz até 4 de setembro. Veja informação completa no Guia Gazeta do Povo.
Locais como o Passeio Público, a Rua São Francisco e a Praça Santos Andrade viraram palco para os bailarinos Annemarie Barth Baka, Iago Giehl, Raphael Fernandes e Simone Bönisch em intervenções propostas pelo coreógrafo Airton Rodrigues. “A arquitetura sempre me interessou e tenho uma ligação muito forte com o hip hop. Dessa ideia da coisa urbana veio a decisão de fazermos esses processos na rua e questionarmos como manter a própria individualidade no meio desse coletivo gigante que é a cidade“, resume Rodrigues, que reuniu elenco de origens distintas - que vai da dança de rua às companhias de balé.
A intenção era fazer os exercícios em horário de pico, mas a agenda nem sempre permitiu. A coreografia nasceu a partir de intervenções simples, como andar em fila indiana e repetir os movimentos do colega que ia à frente, incorporando aos seus próprios. Poucas interferências ocorreram e muitas pessoas não notaram os bailarinos em movimentação contrária à das vias pelas quais passaram.
Passar despercebido não é exatamente negativo no processo e expressa a diferença da criação em um palco e em um lugar aberto. “Na rua, seu controle de energia e seu estado físico está maximizado. Não é um querer ser percebido. Ao contrário, é fazer uma ação cotidiana como caminhar na rua ter uma potência artística”, resume Rodrigues.
Base
“Ritual Invisível”, contemplado pelo Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna 2015, começou a ser desenvolvido depois que Airton Rodrigues fez uma especialização de dança-teatro com Eddie Martinez, bailarino da Tanztheater Wuppertal, companhia de de Pina Bausch. A coreógrafa alemã, morta em 2009, foi a criadora da dança-teatro. O contato com a arte transformou as bases criativas do brasileiro. “Coisas mínimas são descobertas nesse processo e potencializadas até o máximo. Desenvolvidas diariamente, ganham uma potência e uma originalidade. Não são passos de dança, são dramaturgias contadas pelo movimento”, afirma Rodrigues.
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