Com a sensibilidade e o cuidado de quem conta uma história para crianças, a peça Clarice Matou os Peixes (confira o serviço completo do espetáculo), da Cia. do Abração, aborda o tema universal da "perda de afetos" ao longo da vida. Segundo apurou a reportagem, o espetáculo é inspirado no livro A Mulher Que Matou os Peixes, de Clarice Lispector, e fala de assuntos que fazem parte da vida de adultos e crianças, mas ainda são considerados complexos demais para o universo infantil: a efemeridade da vida, o sentimento da perda e como lidar com a ausência.
No palco, os personagens Clarito, Clarão e Esclarecida compartilham experiências e sentimentos da perda de seus animais de estimação, e vivem um dilema: quem matou os peixes? O espetáculo é um contraponto à maioria das peças de teatro infantis: divertidas, com personagens de figurinos coloridos que se desdobram no palco para prender a atenção dos pequenos, mas pouco convidativas à reflexão e à imaginação.
Preparação
Uma oficina de clown foi o ponto de partida para a construção dos personagens. "O clown é um palhaço tragicômico, desperta a criança que existe no ator. As emoções são espontâneas, o humor é sutil, verdadeiro, diferente do humor pastelão", comenta Letícia Guimarães, diretora da peça. "O Clarão sou eu ampliado muitas vezes, é um exagero da minha personalidade", confessa o ator Simão Cunha, que durante a preparação ficou impressionado com as semelhanças que descobriu com seu personagem..
Para Letícia, tudo acontece muito rápido hoje, não há tempo para refletir sobre nossas perdas e frustrações. "O problema é que tudo que é muito acelerado, perdura pouco. Por isso escolhemos uma temática que nos conduz a nós mesmos e ao enfrentamento de nossos medos e fraquezas, presentes já nos primeiros anos da nossa vida.
Neste ano a Cia. do Abração comemora dez anos de atividades. Para Letícia, uma das fundadoras da companhia, o tempo e o aprofundamento das pesquisas em teatro infantil ensinaram a não subestimar a inteligência das crianças, pressupondo que a capacidade de entendimento dos pequenos é limitada. Nesses dez anos, os espetáculos do grupo focaram na sensibilidade como um elemento capaz de despertar a reflexão e a imaginação de crianças de todas as idades, um jeito carinhoso de dizer que precisamos reviver a criança adormecida em nós. "Esse é o nosso foco, promover a afetividade entre as pessoas, falar com crianças de todas as idades. Não abro mão do teatro como o encontro do homem com o homem", defende a diretora.
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