A atriz Denise Fraga interpreta uma mendiga que não quer viver enquadrada nos códigos sociais| Foto: Divulgação

Serviço

Chorinho

Com Cláudia Mello e Denise Fraga.

Teatro Guaíra (R. XV de Novembro, 971), (41) 3322-8191.

Amanhã, às 20h30. R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada). Única apresentação. Classificação indicativa: 12 anos.

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Junte uma moradora de rua vegetariana, que causa alguma confusão na praça onde tomou como lar, com uma senhora aposentada e solteira, que mora em frente desse local e se encaixa perfeitamente no estereótipo da "certinha." A princípio, essa convivência entre as personagens das atrizes Denise Fraga e Cláudia Mello gera um embate acirrado, mas, aos poucos, dá espaço para uma sincera amizade, história do espetáculo Chorinho, que terá única apresentação amanhã, às 20h30, no Teatro Guaíra, parte do projeto Idas e Vindas, patrocinado pela Volvo (veja o serviço completo do espetáculo no Guia Gazeta do Povo).

ÁUDIO: Ouça trechos da entrevista com a atriz Denise Fraga

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Com autoria e direção de Fauzi Arap e codireção de Marcos Loureiro, a peça, montada pela primeira vez em 2007 – o que rendeu para Arap o prêmio de melhor autor pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) – ganha uma nova adaptação para essa temporada, já que o papel da mendiga vivida por Denise, na versão anterior, era masculino, interpretado pelo ator Caio Blat. "O Fauzi, meu mestre de teatro, tinha sugerido que eu montasse a peça junto com a Cláudia Mello. Esse encontro é o grande motivo desse projeto. Vi a peça em 2007, era linda, mas agora é outra coisa, pois é um personagem feminino, a mendiga e a senhora vão construindo essa relação" disse a atriz Denise Fraga em entrevista por telefone à Gazeta do Povo, de seu escritório em São Paulo.

Arap, que trabalha fora dos esquemas de produção tradicionais, traz no texto muito humor ao mesmo tempo em que trata de isolamento, solidão e preconceito, sobretudo o social, escancarado na personagem de Cláudia Mello. "Interpreto uma ‘tiazinha’ (risos), uma senhora careta que mora perto da praça, vê a mendiga sempre por ali e se incomoda com ela. É muito interessante o quanto uma vai se tornando a outra", conta a atriz, que já atuou sob direção de Antunes Filho, Antônio Abujamra e Ulisses Cruz, além de ter um APCA de melhor atriz por Adorável Desgraçada.

Reflexão

Poder usar humor como um agente de reflexão, acredita Denise, faz com que assuntos importantes sejam discutidos de forma direta e simples. "O humor dá uma boa embalagem para qualquer ideia, facilita a compreensão. É como se amaciasse a carne para dar uma facada de reflexão. Quando consigo fazer algo engraçado junto com reflexão, me sinto plena em meu ofício."

Segundo as atrizes, não foi necessário realizar pesquisas aprofundadas para a interpretação. "Ele [Arap] tem achados dramatúrgicos. A mendiga, por exemplo, é vegetariana", ressalta Denise, que também diz estar "adorando" fazer o papel, já que sempre teve muita curiosidade sobre os moradores de rua. "Apesar de ser uma questão de miséria, tem algo muito libertário nessas pessoas, assim como na minha personagem. Ela se negou a viver nos códigos hipócritas sociais, fala coisas que todos nós gostaríamos de dizer e não temos coragem e simplicidade de falar com todas as letras." Outra qualidade do texto apontada por Cláudia Mello é a sutileza em tratar de problemas sociais. "Fala de aceitação, das características de classe, mas sem ser estritamente político."

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Tela

Sem projetos para a televisão há algum tempo, Denise Fraga (que desenvolveu programas para o Fantástico, da TV Globo) tem se dedicado principalmente ao teatro e ao cinema (seu último filme foi Hoje, de Tata Amaral, vencedor do último Festival de Brasília) nos últimos anos. Algo que foi acontecendo naturalmente, segundo ela, já que emendou a longa temporada da peça A Alma Boa de Setsuan com outras como Sem Pensar. "Não que eu tenha me distanciado da tevê, mas, como não faço mais os quadros no Fantástico e as temporadas do teatro me impossibilitaram de fazer novos projetos, fiquei mais no palco. São direções que a vida da gente vai tomando."