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Vá assistir a "Miami Vice" (veja trailer) e deixe a expectativa em casa. O filme escrito, produzido e dirigido pelo criador da série de TV dos anos 80, Michael Mann, traz aquele mesmo espetáculo visual que vimos em "Colateral" (sua parceria bem sucedida com o fotógrafo Dion Beebe estrelada por Tom Cruise) mas falta algo no roteiro e nas cenas de ação. Explicando melhor: a fotografia é sensacional e faz o espectador entrar no mundo emocional e tenso da dupla policial vivida por Colin Farrell (James 'Sonny' Crockett) e Jamie Foxx (Ricardo Tubbs). Isso graças à tecnologia simples da câmera HD. O que poderia ser filmado em estúdio em película, e mudando o rolo a cada dez minutos, o diretor utiliza digital que permite melhor mobilidade e mais tempo de filmagem (até 50 minutos). A proximidade com os personagens é enorme. Por exemplo: a cena do diálogo em uma lancha a 100km/h é feita realmente no mar e não em tela verde ao fundo. Você vê a água respigando nos atores, o vento atrapalhando a conversa etc. Pode não parecer, mas isso faz diferença.

O mesmo acontece nas cenas de tensão dos agentes americanos com os traficantes de drogas na Cidade do Leste e na República Dominicana. É tudo muito real e bacana.

O problema do roteiro: Mann prometia um filme de entretenimento, porém com uma abordagem mais crítica e politizada das situações. Mas é rasa a penetração dele nos problemas de uma rede sofisticada de traficantes internacionais. O que as cenas de ação têm de realistas através do uso da HD - e pela opção em filmar nos cenários reais - têm de fracas quando pensamos nos filmes de ação dos últimos anos. As explosões de barcos, as corridas de Ferrari, as lanchas em alta velocidade e a fuga de avião não passam tanta adrenalina.

Ah, "Miami Vice" (que estréia esta sexta-feira no Brasil) tem história de amor. Entre traições múltiplas e mudanças de identidade, o detetive Crockett (Farrell) tem uma relação "proibida" com a namorada do vilão (interpretada por Gong Li, de "Memórias de uma gueixa"). É difícil acreditar no romance. Mais difícil ainda é crer no coração de manteiga do policial ao final do filme. Acho que o Sonny de Don Johnson dos anos 80 chutaria o balde daquele namorico e partiria para outro em seguida, mesmo correndo riscos se a amada estivesse do outro lado da lei.

Além da fotografia, o filme prima pela atuação de Colin Farrell e Jamie Foxx como o esperado. Na pele do agente branco, sedutor e perspicaz, Farrell se destaca. Foxx vira coadjuvante de luxo (dizem que seu cachê foi inferior porque ele assinou o contrato antes de ganhar o Oscar por "Ray").

Isso atrapalha um pouco a sintonia de uma dupla que Don Johnson e Philipp Michael Thomas ajudaram a imortalizar e inspirar os filmes policiais dos anos 80.

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