Nêgo fala de jovens “que decidiram não virar estatística”.| Foto: Christopher Duggan/Divulgação

Os dois espetáculos de dança que serão apresentados durante o Festival de Teatro – ambos dias 28 e 29 de março –, não poderiam ser mais diferentes entre si. Enquanto um traz uma experiência da periferia carioca com a dança urbana, o outro faz uma releitura de uma coreografia inaugural da dança moderna.

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Nêgo (Eu.Ele.Nós.Tudo Preto) mostra jovens “que decidiram não virar estatística”, na palavras da diretora Sônia Destri Lie. Ela faz questão de nomeá-los: Tiago Sousa , André Feijão, Jéssica Nascimento, Johnny Britto, Miguel Fernandez, Raphael Russier, Rafael Balbino, Allan Wagner e Julio Rocha. Assim como em tantas comunidades, a arte veio, se não “resgatar”, ao menos animar cada um deles a buscar uma vida melhor.

O tema da coreografia, de acordo com Sônia, é, como tudo que ela faz, “celebrar a negritude e refletir sobre a questão racial”. A partir de técnicas de hip-hop e das danças urbanas e sociais, ela se apropria da linguagem da dança contemporânea, ao som da batida afrobrasileira.

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“Nêgo afirma a diversidade através de diálogos gestuais impregnados de energia e traz as identidades desses bailarinos, suas referências e atitudes, um sotaque carioca, brasileiro e afrodescendente, ao mesmo tempo traduzível ao mundo”, escreve. Para ela, é uma “política afirmativa inseri-los na produção nacional contemporânea”, no que foi resenhado pelo jornal New York Times no ano passado como algo aparente debaixo da superfície. “A Companhia Urbana de Dança deixa que o espaço de seus bailarinos fale por si mesmo, para que eles contem, de forma sutil mas competente, suas próprias histórias por meio da dança.”

Existencial

Da Dinamarca, o festival recebe um excerto da dança contemporânea internacional que deixa de lado as questões sociais para colocar em foco a existência humana. O espetáculo Double Rite, do grupo Granhoj Dans, que estreou na última quinta-feira, faz uma homenagem ao renovar A Sagração da Primavera, coreografia do russo Nijinski que estreou sob a poderosa partitura de Stravinski em 1913.

Considerada um marco da modernidade na dança, a primeira plateia naquele início de século vaiou e só faltou linchar os bailarinos.

Double Rite promete ousar também, se é que isso ainda é possível. Se não pela nudez e o tema, os rituais de passagem, talvez pela manipulação sonora.

“A música tem uma expressividade tão massiva que eu decidi pausá-la aqui e ali para criar sequências de silêncio”, explica o diretor Palle Granhoj, que comemora a permissão inédita para alterar a continuidade da música da Sagração – algo que exigiu longas negociações com os detentores dos direitos autorais.

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Programe-se

Nêgo

Guairão (R. Conselheiro Laurindo, s/nº), (41) 3304-7982. Dia 28 às 21h e 29 às 19h. R$ 70 e R$ 35 (meia). 12 anos.

Double Rite

Guairinha (R. XV de Novembro, 971), (41) 3304-7982. Dia 28 às 21h e 29 às 19h. R$ 70 e R$ 35 (meia). 18 anos.