Aos 76 anos, Luiz Alfredo Garcia-Roza é maior escritor de literatura policial da atualidade| Foto: Divulgação
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1) Sherlock Holmes- Personagem criado pelo escritor britânico Arthur Conan Doyle (1859-1930), o detetive algo minsantropo, cuja capacidade de dedução o permitia solucionar os crimes mais intrincados, é o
2) Jules Maigret- O comissário Jules Maigret, o mais popular entre os personagens criados pelo escritor belga Georges Simenon, (1903-1989) protagonizou mais de uma centena de histórias. Em comum com Holmes, tem o cachimbo, porém, o policial é mais taciturno, sisudo e sem talentos extraordinários. Jean Richard (1967-1990) e Michael Gambon (1992) viveram o personagem em séries para a tevê.
3) Hercule Poirot -Protagonista da maioria dos livros da autora inglesa Agatha Christie (1890-1976), é de nacionalidade belga e dono de uma personalidade exuberante. Foi vivido no cinema por Albert Finney (Assassinato no Expresso do Oriente, foto) e por Peter Ustinov (Morto sobre o Nilo). David Suchet interpretou o papel na série feita para a tevê.
4) Salvo Montalbano- Criado pelo escritor italiano Andrea Camilleri, aparece em vários romances e contos do autor. O personagem, astuto e perspicaz, é uma homenagem ao escritor espanhol Manuel Vázquez Montalbán, criador de outro detetive importante no mundo da ficção: Pepe Carvalho, com quem Montalbano compartilha a paixão pela gastronomia. É encarnado pelo atorLuca Zingaretti (foto)em série feita para a televisão italiana.
5) Sam Spade -Fruto da imaginação do escritor norte-americano Dashiell Hammett (1894-1961), tornou-se o protótipo do detetive da literatura policial noir nas páginas de O Falcão Maltês (1930). Durão, capaz de falar o linguajar das ruas e sempre de chapéu e sobretudo, foi imortalizado porHumphrey Bogart (foto)na versão para o cinema do romance, Relíquia Macabra (1941), de John Huston.
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Em um ensaio publicado pela editoria de "Viagem" do jornal The New York Times, na edição de 29 de agosto de 2004, a crítica literária Marilyn Stasio faz uma brincadeira: sugere um tour ao redor do mundo, cujos guias seriam os protagonistas das séries de romances policiais mais populares assinadas por autores vivos das mais diversas nacionalidades, todos já traduzidos em inglês e lançados nos Estados Unidos

Ao chegar ao Brasil, depois de citar escritores como José Latour (Cuba), Deon Meyer (África do Sul) e Qiu Xiaolong (China), e seus respectivos detetives ou investigadores, Marilyn escreve que "espera encontrar o inspetor Espinosa em uma de suas caminhadas meditativas pelo Rio de Janeiro", referindo-se ao delegado de polícia criado por Luiz Alfredo Garcia-Roza.

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Passados 16 anos desde seu "nascimento", no premiado romance O Silêncio da Chuva, o investigador, morador do Bairro Peixoto, enclave formado por algumas poucas ruas no coração de Copacabana, chega a seu nono caso, desvendado em Fantasma, que o escritor Luiz Alfredo Garcia-Roza acaba de lançar pela Companhia das Letras. É seu décimo romance – Berenice, de 2005, é sua única obra de ficção sem a presença do personagem.

Espinosa é um policial atípico. Apaixonado por livros, é um rato de sebos, que alimentam com regularidade sua enorme biblioteca sem estantes – os volumes, organizados em fileiras que vão se empilhando, formam paredões de papel encadernado no seu apartamento, onde cultiva uma existência frugal e solitária.

Divorciado e pai de um filho adulto, que vive nos Estados Unidos e surgiu como personagem em Céu de Origamis (2009), penúltimo livro de Garcia-Roza, o delegado segue vivendo sozinho, apesar de manter, há dez anos, um relacionamento estável com Irene, uma mulher mais jovem, independente e bissexual.

Em Fantasma, Espinosa, agora aos 50 e poucos anos, começa a sentir os sinais do tempo: reclama de dores musculares que antes não tinha, de uma azia que vem e vai. Mas continua praticamente intacta sua marca registrada: a habilidade de – possivelmente graças à sua vasta experiência como leitor – imaginar múltiplas possibilidades de conexão entre os fatos, essencial na solução dos crimes que investiga, verdadeiros quebra-cabeças.

Desta feita, o investigador se vê mais uma vez diante de um caso intrigante: um homem, possivelmente estrangeiro, é assassinado de madrugada em plena calçada da Avenida Nossa Senhora de Copacabana. Todos os seus pertences são levados. Documentos, dinheiro, celular, além de sua bagagem, já que teria acabado de chegar do exterior.

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A única possível testemunha do crime teria sido a misteriosa Princesa, uma moradora de rua muito diferente do que se espera de alguém em sua condição. Vinda do Sul, é articulada, educada e gentil, porém arredia. Obesa mórbida, mal consegue se locomover, o que a abriga a passar os dias sentada na calçada, sobrevivendo da ajuda de estranhos que aos poucos se tornam seus conhecidos.

Como ela vive em um estado limítrofe entre a realidade e o sonho, o detetive se vê diante de uma espécie de esfinge, cujo segredo a ser decifrado pode ou não guardar a solução para o assassinato do "Estrangeiro", como o morto passa a ser chamado até sua verdadeira identidade ser revelada.

Garcia-Roza foi professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e também é autor de oito livros sobre Psicologia e Filosofia, suas áreas de formação. Hoje aos 76 anos, lançou O Silêncio da Chuva quando tinha 60, e agora se dedica apenas à literatura. Seu olhar psicanalítico, todavia, se faz presente nos seus livros, tanto na construção dos personagens, sempre muito bem delineados, tridimensionais e factíveis, quanto nas motivações por trás dos crimes. Não espere do autor, portanto, soluções fantasiosas e mirabolantes. E Fantasma não foge a essa regra.

Ao voltar seu olhar para o mundo dos invisíveis, no caso dos moradores de rua, sem teto e aparentemente sem história, Garcia-Roza nos cutuca em nossos preconceitos e subverte estereótipos. GGGG

Lista

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Confira abaixo um ranking de cinco grandes detetives da história da literatura:

Classificações: GGGGG Excelente. GGGG Muito bom. GGG Bom. GG Regular. G Fraco. 1/2 Intermediário. N/A Não avaliado.