Os usuários assíduos da seção de literatura da Biblioteca Pública do Paraná (BPP) devem estar vibrando. Recentemente, uma lista composta por novidades do mercado editorial acabou de integrar o acervo da Divisão de Obras Gerais. Entre os títulos, livros que figuram há meses nas listas dos mais vendidos das livrarias nacionais, os chamados best sellers, que, não por acaso, também são os mais requisitados pelos freqüentadores da biblioteca.

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Um exemplo é a trilogia milionária do escritor norte-americano Dan Brown, formada pelos fenômenos de venda O Código Da Vinci, Anjos e Demônios e Fortaleza Digital – este último acabou motivando a aquisição do "manual" Decifrando a Fortaleza Digital, do brasileiro Sergio Pereira Couto. Entre as novidades da literatura nacional, entram no acervo títulos como Amor É Prosa, Sexo É Poesia, de Arnaldo Jabor, Perdas e Ganhos, de Lya Luft e O Zahir, de Paulo Coelho.

Porém, nem tudo tudo é motivo de comemoração quando o assunto é a atualização do acervo da BPP. Apesar de oferecer títulos recentes e sucessos editoriais a um público que, possivelmente, não teria condições financeiras de adquiri-los em uma livraria, a quantidade de exemplares de cada livro é escassa em relação à demanda de leitores – dos dois mil empréstimos, em média, efetuados a cada dia pela biblioteca, 60% são de obras literárias. Além disso, muitos títulos recém-adquiridos simplesmente somem do acervo após poucos empréstimos, graças à não-devolução, ato comumente praticado por uma parcela significativa de sócios da biblioteca, que burla o sistema antifurto e os serviços de uma empresa de segurança terceirizada. "Os livros mais visados e não devolvidos são os últimos lançamentos", lamenta Sizuko Takemiya, Chefe da Divisão de Obras Gerais da BPP.

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A situação é ainda mais complicada na Biblioteca de Ciências Humanas e Educação (BCHE), da Universidade Federal do Paraná(UFPR), localizada na Reitoria da instituição. Destinada aos alunos e professores de graduação, especialização, mestrado e doutorado de cursos como Letras, Jornalismo, Filosofia, Ciências Sociais, Artes, História e Turismo, entre outros, a BCHE enfrenta sérios problemas quanto à atualização de seu acervo, que, assim como a BPP, depende de verbas públicas.

Apesar de melhorias como a ampliação do espaço físico, do horário de funcionamento e da digitalização do acervo – que, quando completada, irá eliminar o defasado arquivo de fichas, motivo de queixas de grande parte dos freqüentadores –, a aquisição de títulos recentes de literatura esbarra em questões. Entre elas, a burocracia envolvida no processo de liberação de dinheiro pelo governo federal e a falta de conscientização dos usuários em relação à preservação do acervo disponível. "Infelizmente, a perda existe e isso dificulta a política de desenvolvimento de coleções, porque, ao invés de ampliar o acervo com a aquisição de materiais atuais, existe a preocupação com a reposição de títulos furtados", justifica Maria de Lourdes Saldanha do Nascimento, bibliotecária responsável pela BCHE.

Mais do que adquirir títulos presentes nas listas de publicações comercialmente bem-sucedidas, manter o acervo de uma biblioteca em coerência com a produção literária de seu país, em especial, é um dos pré-requisitos para definir o grau de atualização de cada instituição. Com o objetivo de avaliar as duas principais bibliotecas curitibanas, dependentes de verbas públicas para manter suas coleções em dia, a reportagem do Caderno G consultou três profissionais da área de literatura, que definiram uma lista de obras contemporâneas brasileiras indispensáveis a qualquer acervo.