Escuro e Estranhamente Calmo
Einar Turkowski. Cosac Naify, 24 págs., R$ 39. Infanto-juvenil.
Depois de anos ilustrando peças publicitárias, o alemão nascido em 1972 Einar Turkowski conseguiu lançar seu primeiro livro ilustrado em 2005: Estava Escuro e Estranhamente Calmo. Os traços do artista lembram os do francês Moebius, autor de A Garagem Hermética, pela riqueza de detalhes e pelo universo um bocado surrealista. Em poucas páginas, todas em preto-e-branco, Turkowski narra a história de um homem misterioso cuja presença, ao desembarcar numa ilha, altera a rotina de todos os moradores do local. A figura estranha vive em uma casa abandonada, onde todas as manhãs surgem peixes pendurados de cabeça para baixo fato que deixa os vizinhos em polvorosa. Com esse ponto de partida, o enredo fala sobre as relações humanas e a maneira como as pessoas lidam com o que é estranho e diferente. O livro foi destaque em várias premiações internacionais dedicadas à literatura infantil e à ilustração, entre elas, as de Bratislava (2007) e Bolonha (2008). (IN)
CD 1
A Woman A Man Walked By - PJ Harvey & John Parish. Island Records. Importado. Preço médio: US$ 11.
Desde 1987, quando a banda do músico britânico John Parish (Automatic Dlamini) tocou na festa de aniversário de 18 anos da também inglesa PJ Harvey, teve início uma parceria musical prolífera como poucas no mundo do rock.
O mais recente fruto da união entre Parish e Harvey nos estúdios é A Man A Woman Walked By, primeiro trabalho da dupla desde Dance Hall at Louse Point (1996) e da cantora desde White Chalk (2007).
Produzido por Flood (outro colaborador de longa data do casal), o novo disco combina as surrealistas molduras sonoras de Parish ao assombroso universo de imagens e vozes, já característico de Polly Jean.
A roqueira "Black Hearted Love", melhor canção do álbum, remete à atmosfera de Stories from the City, Stories from the Sea (2001), trabalho mais pop de Harvey. Mas o que se segue é pura experimentação. Entre ruídos estranhos, distorções e ritmos entrecortados, Polly esbraveja ("Pig Will Not"), sussurra ("April"), chora a morte de um filho fictício por afogamento ("The Chair"), até perder o fôlego e cair exausta ("Sixteen, Fifteen, Fourteen"). Um encontro intenso e único. (JG)
CD 2
Where is There - Myriam Alter & Jaques Morelenbaum. Biscoito Fino. Preço médio: R$ 28,90.
O quarto disco da compositora belga Myriam Alter tem o jazz e o erudito como linguagem principal, mas conversa tanto com o folk europeu quanto com a música brasileira. A culpa por essa tranquila viagem sonora é, em grande parte, do brasileiro Jaques Morelenbaum, que com seu violoncelo deu ainda mais vivacidade à moderna música de Myriam.
Em suas parcerias piano/cello são oito faixas no disco , os dois conseguiram aliar música de câmara a notas de samba, por exemplo. Ainda há clarinete, saxofone, baixo e bateria, que, por muitos momentos, improvisam sob bases bem construídas por Myriam e Morelenbaum.
Quando não há improviso, o disco é melodioso e lírico. O que já é esperado em se tratando de Myriam Alter. A belga abandonou os estudos de música clássica, iniciado aos 8 anos, para se dedicar à psicologia. Só depois de muito tempo trabalhando na área resolveu voltar à música e ao seu piano. Felizmente. (CC)
DVD 1
Rebobine, por Favor - EUA, 2007. Direção de Michel Gondry. Europa Filmes. Classificação indicativa: livre. Disponível para locação.
Para os que já tinham alguma idade nos anos 1980, as hoje em crise videolocadoras, por certo, são uma memória marcante. O sistema de locação de fitas VHS seguia a mesma lógica da de um DVD, mas com algumas diferenças. Uma delas era a necessidade de rebobinar a fita antes de devolvê-la à locadora, caso contrário, ficava-se sujeito a multas e punições.
Rebobine, Por Favor, comédia escrita e dirigida por Michel Gondry (Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças) faz uma homenagem singela a essa época. Aproveitando sua imensa criatividade para soluções cenográficas, Gondry conta a história de uma videolocadora sobrevivente, cujo acervo, centrado em clássicos oitentistas, é comandado pelos funcionários Jerry (Jack Black) e Mike (Mos Def).
Jerry, após sofrer uma forte descarga elétrica acidental, desenvolve a capacidade de desmagnetizar fitas de vídeo, o que impede que os filmes rodem nos videocassetes. Para solucionar o problema, a dupla resolve filmar pequenos remakes de filmes clássicos, entre eles Os Caça-Fantasmas, Conduzindo Miss Daisy, Último Tango em Paris, entre outros.
Bobo com orgulho, Rebobine, por Favor é um tributo à simplicidade, à criatividade, à produção artesanal e a um passado não tão distante. (JG)
DVD 2
O Silêncio de Lorna - Bélgica, 2008. Direção de Jean-Pierre e Luc Dardenne. Classificação indicativa: 18 anos. Disponível para locação.
O cinema europeu vive uma fase neorrealista. Entre os que andam surfando esta onda da vida como ela é, os irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne reinam quase absolutos. Já ganharam a Palma de Ouro duas vezes: por Rosetta (1999) e A Criança (2005). O Silêncio de Lorna (2008), mais recente longa da dupla, fala de um tema palpitante: a imigração interna no Velho Continente. A personagem-título é uma jovem da Albânia (país que não pertence à Comunidade Europeia) que se casa com um viciado em drogas para ganhar cidadania na Bélgica. Tudo vai mais ou menos conforme o previsto até que o traficante de pessoas que lhe arrumou o marido começa a pressioná-la a matar o rapaz, simulando uma overdose, para que então possa se unir a um russo. O imigrante se dispõe a pagar uma bolada pelo matrimônio, que lhe garantirá a permanência no país. Grandes atuações, um excelente roteiro (premiado em Cannes) fazem da produção um dos melhores títulos do último ano. (PC)
Livro 2
Os Irmãos Karamabloch - Arnaldo Bloch. Companhia das Letras, 344 págs., R$ 48. Memórias.
Escritores gostam de usar a própria família em seus textos. Sempre há uma tia louca, um primo bêbado, uma sobrinha devassa ou carola. Enfim, material humano perto e à disposição para treinar a prática da literatura. Poucos têm a sorte de ter uma família tão rica em loucuras e histórias quanto a do jornalista e escritor carioca Arnaldo Bloch. Ele descende dos imigrantes judeus ucranianos que chegaram pobres ao Brasil e fundaram um império de comunicação liderado pela revista Manchete, que depois se transformaria na rede de televisão de mesmo nome. A cada capítulo, uma história quase inacreditável. Memórias de dentro de um corpo familiar, que envolvem dinheiro, poder, traição e luxúria. Bloch sabe como lidar com as palavras e seu quarto livro, Os irmãos Karamabloch Ascensão e Queda de um império Familiar, lê-se menos como biografia e mais como romance, baseado em histórias reais, ou quase irreais. (LCO)