Rio de Janeiro Será o longa paranaense Estômago, de Marcos Jorge, O Cheiro do Ralo deste ano? Não que as histórias sejam parecidas, ou mesmo o tratamento estético, mas existe em ambos um gosto acentuado pelo bizarro e pelo insólito.
Estômago foi exibido na quarta-feira à noite na Première Brasil. Foi o filme mais aplaudido, até agora, e olhem que os filmes tendem a ser ovacionados no Festival do Rio, um pouco porque as sessões de gala, no Cine Palácio, são sempre feitas com a participação da equipe. Vão os amigos e, se o filme é carioca, eles são mais numerosos ainda. Ocorre de os filmes serem bons. O ruído justifica-se.
Na quarta, a equipe era paranaense, o diretor, pouco conhecido. Estômago ganhou o público pela qualidade. O Festival do Rio 2007 já tinha uma candidata a melhor atriz Carla Ribas, de A Casa de Alice. Tem agora um candidato a melhor ator, João Miguel. O ator de Cinema, Aspirinas e Urubus já está sendo chamado de muso deste festival. João Miguel está em três filmes Mutum, Estômago e Deserto Feliz.
Há uma certa dificuldade para estabelecer em qual deles ele está melhor. É facilitada pelo fato de que João Miguel faz o protagonista absoluto de Estômago.
Você já viu muitos filmes sobre comida e comer. A maioria busca o sentido mais metafórico dessas palavras e falam de sexo. Estômago também fala de sexo, mas o espectro é muito mais amplo. Estômago vai às vísceras do sistema desumano.
Na vida, adverte o narrador, há os que devoram e os que são devorados. Raimundo Nonato é esse nordestino que desembarca sem eira nem beira na cidade grande. Descobrindo suas habilidades de cozinheiro, ele inicia uma escalada. Comete um assassinato e vai preso. Continua cozinheiro na cadeia, e sobe cada vez mais, mas a extensão (ou a natureza) de seus crimes, no plural, o espectador só descobre no desfecho.
Talvez o diretor Marcos Jorge venha a ser cobrado por seu machismo, mas, coincidência ou não, as mulheres eram quem mais aplaudiam no fim da sessão. Foi a noite do cinema paranaense, pois Estômago foi precedido pelo curta deslumbrante Satori Uso, de Rodrigo Grotas.
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