Uma exposição no Wonka Bar mostra os melhores trabalhos para CDs feitos pelo artista gráfico curitibano Leandro Catapam. Detalhe: ele não foi contratado para criar a capa de nenhum desses discos. São álbuns que ele gravou em casa, copiando originais emprestados de amigos ou baixados pela internet. Pirataria? Ele acredita que não. "São discos que muitas vezes nem chegaram ao Brasil: esse é o único meio de acesso que eu poderia ter a eles", diz Leandro.
A música é a principal atividade do designer fora do trabalho que envolve projetos gráficos e aulas para dois cursos em uma faculdade de Curitiba. "É o que eu mais gosto de fazer, ouvir rock e música eletrônica", conta ele. "Alguns discos que eu queria, como o da banda Goldfrapp, nem chegariam aqui. Aí eu copio e faço a arte, com capa e tudo. Senão os discos ficam todos iguais, é até difícil de achar um no meio dos outros", comenta. Daí para fazer a exposição, foi só surgir o convite.
Leandro também usa outros artifícios para poder ter a vida cultural mais agitada. Para comprar os CDs que não copia, e que são muitos, vai atrás de promoções, principalmente em supermercados. "Já encontrei coisas absurdas a R$ 4", conta ele. O processo exige o gasto de alguma gasolina, mas mesmo assim compensa. Sebos também estão obviamente na lista de lugares freqüentados por ele. O duro mesmo é quando vem para Curitiba um show irresistível. "Aí não tem jeito. Tem de pagar", admite Catapam.
A estudante Simone Caldas Zelldrecht também é uma expert quando o assunto é economia. Por cursar Artes Gráficas e Direito, os gastos com livros são astronômicos. Para não passar aperto, ela foi forçada a aprender a controlar as despesas e encontrar alternativas criativas para continuar se divertindo.
Simone começa a sua rotina cultural vasculhando os jornais e a internet atrás de programas gratuitos e as novas promoções dos cinemas. Com o roteiro em mãos, conta o que tem na carteira, decide o que fazer e vai a pé. Como mora no Centro, ônibus só em último caso.
Assistir a filmes é um de seus programas preferidos. Nos domingos, aproveita o preço único de R$ 1 para freqüentar as salas da Fundação Cultural. Nem mesmo a confusão de horários e de filmes a incomoda. "Uma vez, tive de assistir a O Filho de Chucky ao invés de O Tigre e o Dragão", conta.
Durante a semana, com a carteirinha de estudante em mãos, consegue assistir aos principais lançamentos das salas multiplex por apenas R$ 3. Nem a pipoca fica de fora. Simone é umas principais freguesas do pipoqueiro que marca ponto na esquina do shopping.
Se nenhum filme em cartaz interessa, as exposições de artes plásticas das galerias e museus são o destino certo. Alguns espaços não cobram entrada e outros custam apenas R$ 2, como é o caso do Museu Oscar Niemayer (MON). "As exposições são sempre uma boa pedida, e saber o que está acontecendo na área é importante para a minha formação em design", explica.
Embora os livros de Artes e Direito sejam muito caros e fundamentais, a estudante consegue amenizar o rombo no orçamento, pesquisando as obras disponíveis na Biblioteca Pública. Se o título não for encontrado, ela vai atrás dos inúmeros sebos que existem no Centro. Os livros de Direito, por serem mais antigos, são os mais fáceis de encontrar.
A estudante só não consegue se segurar quando entra na Itiban, especializada em quadrinhos. Mais da metade do salário de R$ 370 que recebe como estagiária acaba ficando por lá. "Livros de referência e HQs são realmente os mais caros e difíceis de encontrar. Por isso que, no início do mês, não tem jeito, acabo gastando mais", confessa.
Apesar de achar o preço das atrações culturais absurdamente caras, para Simone, a população não aproveita o que existe de barato e de gratuito na cidade. "Pode ser falta de vontade ou de informação, mas você não encontra mais do que 15 pessoas na sala da Cinemateca, por exemplo. Dá para fazer muita coisa gastando pouco", acredita.
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