Goiânia O ator Paulo Betti estréia na direção de cinema ao lado de Clóvis Bueno com o longa-metragem Cafundó, produção histórica sobre o místico negro paulista João de Camargo (interpretado por Lázaro Ramos), que viveu no interior de São Paulo no fim do século 19. As filmagens aconteceram no Paraná, nas cidades de Ponta Grossa, Paranaguá e Lapa. Em entrevista ao Caderno G durante o 1.º FestCine Goiânia, que se encerra na quinta-feira, o diretor falou sobre a experiência atrás das câmeras e a atuação do PT, partido com o qual sempre foi identificado, no governo federal
Caderno G Como foi o trabalho na direção de Cafundó?Paulo Betti Tinha experiência de direção em teatro, já dirigi 15 peças, mas cinema é completamente diferente. E há o lance de eu dividir a direção com o Clóvis Bueno. Nós tínhamos um contato há um longo tempo, ele foi cenógrafo de uma peça minha, O Amigo da Onça, em 1987. Depois, nós fizemos alguns filmes juntos, Lamarca, Doida Demais. Começamos a combinar o Cafundó nesses set de filmagens. Era uma idéia antiga minha, uma história que conhecia desde criança. Começamos a trabalhar no roteiro do filme em 1996. Deu tempo de nos afinarmos bastante para irmos para o set concordando com as coisas principais. E a gente se dividiu um pouco, eu com os atores e ele com a direção de arte, a parte mais técnica, sempre nos equilibrando e tudo foi dando certo. Para mim, foi um aprendizado na prática, uma escola, um processo muito prazeroso. Sou produtor do filme também.
Fale sobre a direção dos atores.Um filme expressa muito um espírito, é um resultado de muitas cabeças pensando juntas. Minha grande função na direção de Cafundó foi contaminar todo mundo com o espírito da história, minha paixão por ela, a humildade do João de Camargo, o sentido que ele deu à vida dele. Tivemos uma sorte imensa de ter o Lázaro Ramos. Ele é jovem, mas tem uma vivência muito grande, é muito dedicado. É importante ter num filme um protagonista que ajude a manter a harmonia das coisas, que está presente e sabe o que está fazendo. Destaco também o trabalho da Leona Cavalli e de muitos atores do Paraná que foram maravilhosos mesmo em papéis pequenos, como a Regina Vogue, o Luís Melo.
Já tem distribuição acertada para o longa, quando pretende lançá-lo?Queremos lançar em abril do ano que vem. Temos interesse de algumas distribuidoras, mas não fechamos com ninguém ainda. Mas quero lançar o filme de uma forma diferenciada, regionalizada, como se ele fosse um projeto quase teatral. Vou começar por Sorocaba, onde a história do João Camargo aconteceu, depois São Paulo capital e a seguir o interior do estado. Daí imediatamente no Paraná, Curitiba e interior. Pretendo estar presente, fazendo algo meio palco e tela. Vou declamar antes da projeção, vamos ter banda tocando na porta do cinema antes da sessão. No filme, existe a criação de uma banda, encontramos a partitura desse grupo real, datadas de 1917 e vamos tocá-las nas sessões. Estou propondo essa forma diferente de lançar, aproveitando que sou um ator conhecido, tenho um público que se interessa pelo meu trabalho. É preciso criar um circuito de cinemas que aceitem as produções brasileiras. Não tenho ilusão de colocar o Cafundó em cinemas de shopping de dez capitais do Brasil ao mesmo tempo e esperar que o público vá lotar as sessões. Mas tenho a ilusão de, por exemplo, eu estando em Curitiba para o lançamento do filme, indo para porta do cinema com uma banda, para universidades, cursinhos, indústrias, e tentando puxar todas essas pessoas para verem o filme, fazer com que ele faça uma boa carreira.
Como vê o momento atual do cinema brasileiro?Este ano, conseguimos muitos espectadores, mas apenas um filme fez 5 milhões sozinho. Seria muito mais interessante que tivéssemos dez filmes fazendo 500 mil cada. É ótimo ter um filme de sucesso fazendo 5 milhões, mas isso não reflete uma realidade de produção no Brasil.
Como vê a atuação do governo federal na cultura? Como uma pessoa muito ligada ao PT, o que tem a comentar sobre o atual momento político do país?Gosto muito da política cultural do atual governo. O Ministério da Cultura conseguiu dobrar seu orçamento. A imagem de ter um Gilberto Gil no ministério já é positiva. Ele tem uma boa relação com o pessoal de cinema, nesse quesito estamos bem. No resto do governo, vejo muita fumaça.
Explique melhor.Sinto-me como um combatente de uma guerra. As batalhas estão acontecendo e estou olhando com uma vontade louca de entrar, dar uns "tiros", mas tenho medo de acertar amigos, porque não dá para saber o que está acontecendo hoje em dia. Estou perplexo e tenso, querendo ver o que realmente aconteceu. Tudo o que ouço falar e vejo me leva a crer que foi algo horrível. Como todos os brasileiros, aguardo para ver como as coisas vão se resolver.
Está com outros projetos na área de cinema?No momento estou dirigindo no teatro, do Rio de Janeiro, uma opereta chamada Canção Brasileira. Tenho mais uns três projetos de filme que devo dirigir e que estão em fase de argumento ou roteiro. Pretendo começar a realizá-los no ano que vem. A opereta vai ser transformada em filme também. Vou me enveredar um pouco pelo caminho do Domingos de Oliveira (Separações), fazer filmes de baixo orçamento e alto astral.
O repórter viajou a convite do 1.º FestCine Goiânia.
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