Como é normal com tudo o que envolve a figura de Michael Moore, a polêmica acompanhou a estréia de seu último documentário, "Sicko", que coloca em xeque o sistema de saúde pública dos Estados Unidos. A companhia Humana, uma das fornecedoras de planos de saúdes nos Estados Unidos, já divulgou uma nota na qual se defende das críticas que Moore faz contra a empresa no filme.
Entre elas está o depoimento de uma funcionária da Humana a um comitê do Congresso americano sobre sua implicação na morte de um cliente da firma após ter negado ao paciente o cuidado requisitado pelos médicos. "Durante um telefonema em 1987, o médico perguntou se o plano do cliente cobria transplantes de coração. Como a empresa do paciente não tinha pago por esta cobertura, ela corretamente disse que não", disse Dick Brown, diretor de relações públicas da Humana. As declarações da ex-funcionária Linda Peeno são um dos pontos mais polêmicos do filme, que Moore narra com ironia e até humor, em tom de conto de fadas infernal.
O diretor recebeu o Oscar de melhor documentário em 2003 com "Tiros em Columbine" e, em "Sicko", não fala apenas dos horrores que vivem os 50 milhões de americanos sem cobertura médica. Moore também se refere aos outros 250 milhões de americanos que pagam por um serviço que não recebem. "E, se mostro trechos engraçados, essas anedotas são baseadas em fatos", afirmou o diretor em entrevista concedida na internet ao jornal "The Seattle Times".
Dessa forma, o polêmico cineasta apresenta o espectador a Adam, Rick, Larry e Donna, entre outros que são citados pelo nome, protagonistas dos problemas gerados pela carência do sistema público de saúde nos Estados Unidos. O diretor alterna estes depoimentos com dados históricos e declarações do outro lado em questão, mas sem entrevistar os dirigentes das principais seguradoras dos EUA.
A maneira como as pessoas são tratadas fez com que o apresentador de televisão Jon Stewart brincasse em seu irônico noticiário "The Daily News", dizendo que "ver (o filme) te deixa mal". Moore se envolveu pessoalmente na intensa campanha de divulgação do documentário, que começou no Festival de Cannes, onde apresentou o filme, e que o levou por todo o país e a todos os programas de entrevistas dos quais conseguiu participar.
A única oportunidade perdida foi no famoso talk show da "CNN" "Larry King Live", onde o cineasta vencedor da Palma de Ouro em Cannes com "Fahrenheit 11 de setembro" (2004) foi substituído na quarta-feira de última hora pela igualmente polêmica Paris Hilton e sua saída da prisão.
Moore exibiu o longa para as enfermeiras de Nova York e Sacramento, na Academia de Hollywood e em Skid Row, onde estão os sem-tetos de Los Angeles. "É bom vê-lo na Academia", disse o produtor do filme, Harvey Weinstein, lembrando as vaias que o cineasta recebeu na cerimônia do Oscar de 2003.
"Eu gostaria que o governador Arnold Schwarzenegger dissesse aos californianos que deseja a mesma cobertura pública médica que recebeu quando era jovem na Áustria", disse Moore sobre seus desejos de oferecer cobertura aos que não têm seguro. Em meio a toda esta promoção, continua pairando sobre o cineasta a ameaça de uma sanção legal pela visita que fez a Cuba.
O diretor inclui em seu filme de 124 minutos a viagem em três botes que fez a Cuba com um grupo de voluntários nos trabalhos de resgate dos atentados de 11 de setembro, na busca do mesmo atendimento médico que os supostos terroristas detidos em Guantánamo recebem gratuitamente.
Essa viagem fez com que Moore fosse investigado pelo departamento do Tesouro americano por uma possível violação do embargo que existe nos Estados Unidos contra Cuba. "Está claro que estou na mira", admitiu o diretor ao "Seattle Times". "Mas a lei é muito clara com o direito dos jornalistas de ir a Cuba. E nós estávamos fazendo um documentário. Não é um filme de ficção, é um trabalho jornalístico", acrescentou.
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