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| Foto: Divulgação/Universal Music

Entrevista com Madeleine Peyroux, cantora e compositora.

São Paulo - Na semana passada, Madeleine Peyroux andava pelo Brooklyn, em Nova York, procurando um novo apartamento para alugar. Ofegante, parou em um café para atender o celular. "Já fiz três entrevistas com imobiliárias", contou, para depois respirar fundo e conversar com a reportagem. Madeleine esteve no Brasil cinco vezes. Virou uma espécie de cult singer particular no país, assim como John Pizzarelli – todos querem vê-la de novo. Volta desta vez para nova turnê, com um álbum novo, fresquinho na bagagem – acaba de compor os temas, e pretende mostrar alguns aos brasileiros em primeira mão.

Madeleine começou na carreira apenas como intérprete (muito associada ao legado de Billie Holiday), sem se arriscar na composição. Em Half the Perfect World (2006), começou a se arriscar. Foi coautora de quatro faixas. Subitamente, passou a assinar todas as faixas de novo trabalho, Bare Bones (2008), exacerbando a faceta de compositora – uma das faixas, "Instead", foi composta no Rio de Janeiro.

No álbum, demonstra habilidade e simplicidade nas letras e melodias. Os temas geralmente são muito pessoais, como "River of Tears", que ela fez para o pai, morto há quatro anos. O parceiro nas composições é Larry Klein, ex-marido de Joni Mit­­chell. O show no Brasil (ela canta em São Paulo no Teatro Bradesco, no dia 8) terá canções de todos os discos anteriores de Madeleine, Dreamland (1996), Careless Love (2004) e Half the Perfect World (2006). Leia, a seguir, trechos da entrevista.

Como foi sua primeira vez em Ouro Preto, no ano passado?

Foi muito bom, de verdade. Re­­encontrei alguns dos melhores músicos da cena americana, participei de uma homenagem a uma artista fundamental, que é Billie Holiday. Ouro Preto é linda, foi um dos melhores festivais em que já toquei. Teve também uma coisa engraçada: nós fomos tratados como rock stars. Você sabe, não é normal para nós do jazz sermos tratados assim, é mais comum no rock. Mas tudo de um jeito carinhoso, eu adorei. De lá, fomos para Belo Horizonte, mas não passei por São Paulo dessa vez. Já estava com saudade.

Está gravando um disco novo?

Sim, estou pesquisando, gravando, ensaiando. Mal posso esperar. Agora mesmo estou indo para o estúdio. Tenho diversas músicas novas e planos de tocar umas quatro ou cinco no show em São Paulo. Estou indo com um sexteto, uma nova banda que me deixa muito animada, com um trompetista à frente, um grande músico – Ron Miles, que toca com o guitarrista Bill Frisell. Ele tem um estilo marcadamente tranquilo.

Há uma profusão de cantoras de jazz surgindo atualmente: Ingrid Lucia, Leah Chase, Judy Spellman. Algumas já veteranas, mas buscando seu espaço. É um fenômeno real?

Há muitas mulheres cantando, é verdade, muitas delas revisitando períodos especiais da música. Deve ser porque há muitas canções bonitas para serem cantadas. É simbólico que isso esteja acontecendo logo após uma grande crise. Sempre que há um boom na economia, logo depois vem uma crise, e no bojo dessa crise uma grande produção cultural. Acho que isso explica um pouco. Outra coisa que mudou é que as mulheres estão mais independentes, têm uma voz mais ativa na sociedade atualmente. Nós sabemos o que queremos. Há 70 anos, mulheres não eram band leaders nem podiam ser. Agora, estamos no controle não só das nossas vidas, mas das nossas carreiras, das nossas ideias, da nossa produção. Acho que tudo isso representa uma guinada em nossa cultura. De qualquer modo, o que acho mais importante, quando a gente revisita certos períodos da arte, é que tenhamos claro como dizer aquelas mensagens de um jeito novo. Meu avô me ensinou, e eu aprendi, que é importante saber de onde viemos, mas isso tem de nos ajudar a esclarecer nosso cotidiano.

E como você definiria o seu disco novo? Ele apresenta um novo caminho?

Não sei ainda. Só sei que é muito diferente de Bare Bones (2008). Mas prossegue na tradição do jazz. Estou me empenhando em fazer mais com menos, é a única coisa que posso dizer a respeito.

Pode me dizer o nome das canções novas que vai cantar aqui?

Não sei se será útil. Para que sa­­ber o nome de uma música sem saber como ela é, sem saber o que ela diz?

Bom, pode ser inútil, mas também pode ser interessante pa­­ra quem gosta de você.

Uma das que eu certamente vou cantar tem nome de mulher, "Ophelia". Que é personagem shakespeariana, uma mulher que deseja um homem proibido...

É verdade. Sobre a canção, vocês farão o juízo, prometo cantá-la aí em São Paulo.

Seu novo disco será um álbum melancólico, como os primeiros, ou mais para cima, como foi Bare Bones?

Durante certo tempo, a melancolia parecia uma característica básica de toda canção que eu cantava. Tinha a ver com a escolha de repertório, com os compositores e sua circunstância histórica. Mas não era só melancolia, nenhuma canção é só isso. Há sentimentos imprecisos, contraditórios às ve­­zes, que revelam felicidade e tristeza ao mesmo tempo. Para mim, sempre se tratou de revelar meus verdadeiros sentimentos. Toda minha experiência com a canção, seja ela de outros compositores ou de minha autoria, é buscar expressar o que são meus sentimentos, que não estão em caixinhas. Eu acredito que um bom entendimento da tristeza, dos sentimentos agudos, tudo isso é importante para a pessoa ser realmente feliz.

Serviço

Madeleine Peyroux. Teatro Bradesco (Shopping Bourbon, R. Turiaçu, 2.100, 3.º piso, Perdizes, região oeste, São Paulo), (11) 3670-4141. Dia 8 de junho, às 21 horas. Ingressos: R$ 80 a R$ 350 (meia-entrada para estudantes e pessoas acima de 65 anos). Não recomendado para menores de 16 anos.

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