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Os amantes de filmes de suspense e terror costumam cultuar o clássico O Que Terá Acontecido com Baby Jane?, produção de 1962 que reuniu duas das maiores estrelas da história do cinema, Bette Davis e Joan Crawford. Na trama, elas vivem o papel de irmãs, ambas ex-divas das telas, que, afastadas da ribalta, se alimentam de lembranças e ressentimentos. Ao mesmo tempo em que se odeiam, estão condenadas uma à companhia da outra.

O fato de o diretor Robert Aldrich (Vera Cruz) ter escolhido Davis e Crawford para encabeçar o elenco de seu filme esconde uma certa ironia, senão sadismo. Nascidas no mesmo ano (1908), eram rivais e, por muito tempo, estiveram sob contrato com a Warner, que agora lança, simultaneamente, duas caixas de DVDs em homenagem às ilustres estrelas.

Há, no entanto, uma distinção básica entre Bette Davis e Joan Crawford. Enquanto a primeira era uma atriz de formação teatral, com freqüência citada entre as mais importantes de todos os tempos, a segunda, graças às suas atuações exageradas, melodramáticas, em filmes nem sempre memoráveis, é mais lembrada como ícone de uma era do que exatamente pelo seu talento dramático.

Mulher forte

A Coleção Bette Davis inclui quatro títulos: Vitória Amarga (1939), A Carta (1940), Vaidosa (1944) e Lágrimas Amargas (1952). Nos filmes, a atriz vive variações da persona cinematográfica que a celebrizou: mulheres fortes, voluntariosas e sempre no limite entre o heroísmo e a vilania. Recebeu indicações ao Oscar por todos esses longas, mas acabou vencendo duas vezes por suas atuações em outras produções, Perigosa (1935) e Jezebel (1939).

Davis era dona de uma beleza pouco convencional e de um timbre vocal também incomum, que não a habilitavam para interpretar mocinhas frágeis e virginais. Era lembrada por produtores e diretores quando se tratava de um personagem mais complexo e dramático, como é o caso da protagonista de Vitória Amarga (de Edmund Goulding), uma jovem de alta-sociedade, mimada e fútil, que se vê forçada a repensar o sentido de sua vida quando descobre ter uma doença terminal.

Em A Carta, melodrama de William Wyler com toques de cinema noir, Davis vive com bravura uma anti-heroína: sua personagem é uma mulher adúltera, fria e calculista, que recorre ao assassinato para resolver sua vida. Vaidosa (de Vincent Sherman), por sua vez, é mais um veículo para a ambigüidade da estrela, que encarna com maestria uma mulher mais interessada em si mesma do que no resto do mundo – e que paga um preço alto por essa postura.

Lágrimas Amargas, quarto título do pacote, é uma espécie de variação da mitológica personagem Margot Channing, protagonista do oscarizado A Malvada (1950). Sob a direção de Stuart Heisler, Bette Davis é uma atriz de cinema decadente que se confronta com o ocaso.

Mamãezinha Querida

Joan Crawford começou a carreira como corista em revistas musicais. Ingressou no cinema como estrela do cinema mudo e conseguiu fazer a transição para as produções faladas graças a sua popularidade e a uma lendária (e desmedida) ambição, graças a qual conseguiu, na década de 40, chegar ao topo da lista das atrizes mais bem pagas em Hollywood.

A Coleção Joan Crawford reúne três longas-metragens: Acordes do Coração (1946), Fogueira da Paixão(1947) e Os Desgraçados não Choram (1950). Pelo segundo, um caudaloso drama noir de Curtis Bernhardt, foi indicada ao Oscar de melhor atriz, prêmio que havia recebido dois anos antes pelo melodrama Almas em Suplício, de Michael Curtiz (de Casablanca).

Dona de temperamento forte, Crawford despertava paixão e ódio com a mesma intensidade. Depois de sua morte, em 1977, sua filha adotiva, Christina Crawford, publicou o livro supostamente autobiográfico Mamãezinha Querida, no qual descreve a rotina de abusos que sofreu nas mãos da estrela, retratada como uma mulher violenta, controladora e incapaz de gestos de carinho. A história foi levada ao cinema em 1981, por Frank Perry, com Faye Dunaway no papel de Joan. A produção, apesar de ter recebido o prêmio Framboesa de Ouro de "pior filme da década", é hoje um cult movie.

Na estante

Coleção Bette Davis

1939 - Vitória Amarga

1940 - A Carta

1944 - Vaidosa

1952 - Lágrimas Amargas

Coleção Joan Crawford

1946 - Acordes do Coração

1947 - Fogueira da Paixão

1950 - Os Desgraçados não Choram

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