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Livro

De Repente, Uma Batida na Porta

Etgar Keret. Tradução de Nancy Rozenchan. Rocco, 256 pp., R$ 34,50.

De Repente, Uma Batida na Porta, do escritor israelense Etgar Keret, apresenta, em 37 contos, um mundo em que o absurdo invade a realidade de forma natural e decisiva. Mesmo que se possa associar a literatura do autor à história do país – Keret se pronuncia frequentemente em entrevistas contra a guerra entre Israel e a Palestina – os personagens ultrapassam a localidade na maioria das vezes, e ensinam algo sobre pessoas de qualquer lugar.

Preste atenção em "Manhã Saudável", "Peixe Dourado" e "Goiaba", particularmente intrigantes. Na primeira história, um homem, confundido várias vezes com outras pessoas, assume a identidade delas e, assim, sua vida ganha um pouco de emoção. A segunda é uma história sobre desejo, arrependimento e solidão. A terceira, sobre o medo e sua capacidade de se propagar além da vida.

Em "Terra da Mentira", o personagem descobre que todas as mentiras que conta se tornam reais, e enfim se sente responsável por elas. Impossível sair indiferente da leitura de "Escolha uma Cor", em que pessoas negras, brancas, amarelas e marrons vivem um conflito que só encerra quando conhecem seu criador, imperfeito – e prateado.

O autor insere com habilidade elementos surreais na rotina dos personagens, em cenas que fazem rir, mas que logo em seguida se revelam tristes.

Keret foi um dos convidados da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) em 2014. Na ocasião, ao comentar a produção literária em áreas de conflito, comparou o humor a um pano que usamos para tirar uma panela do fogo. Ele dá a capacidade de tocar em algo que não se pode tocar diretamente. Essa é a fórmula básica de seus contos. "Eu nunca tive a intenção de ser engraçado. Mas quando eu chego a uma região que é muito difícil de lidar, [o humor] é como um airbag em um carro. Está ali para me salvar", disse.

Seus personagens não gostam de estar sozinhos e encontram na fantasia uma chance de ter outra vida, como na história "Fechados", em que um rapaz caminha de olhos fechados, imaginando que vive da maneira como gostaria – em outra casa, com outro trabalho, com outra mulher. Keret é simples e comovente. Faz do ser humano um animal pouco à vontade no mundo.

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