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Na coletiva de imprensa sobre o documentário Jorge Mautner – O Filho do Holocausto, Pedro Bial falou sobre suas três profissões: jornalista, apresentador e cineasta | Daniela Nader/Divulgação
Na coletiva de imprensa sobre o documentário Jorge Mautner – O Filho do Holocausto, Pedro Bial falou sobre suas três profissões: jornalista, apresentador e cineasta| Foto: Daniela Nader/Divulgação

Boca é interrompido após troca de rolos

Pela segunda vez desde seu início, a 16.ª edição do Cine PE enfrentou problemas de projeção na mostra competitiva. Durante a exibição do longa-metragem Boca, de Flávio Frederico, percebeu-se que havia ocorrido uma troca entre o terceiro e o quarto rolos do filme, em decorrência de uma falha humana, e a trama na tela havia dado um salto temporal.

Como o processo de remontagem do filme para projeção é demorado, a sessão foi cancelada e transferida para hoje, às 17 horas, no Teatro Guararapes, em Olinda. Segundo o diretor-geral do festival, Alfredo Bertini, em coletiva realizada ontem no fim da manhã, o equívoco foi cometido pela equipe do festival, que não se deu conta da troca.

O primeiro problema de projeção aconteceu na noite de abertura do evento, quando a cópia digital do longa-metragem À Beira da Estrada, de Breno Silveira, foi exibido com sérios problemas de som, devido à inadequação do formato enviado com o equipamento do teatro.

  • Filme de Bial e D’Alincourt faz uma viagem envolvente pela vida de Mautner

O inevitável ocorreu. O jornalista carioca Pedro Bial veio a Recife exibir, na mostra competitiva do 16.º Cine PE, o documentário Jorge Mautner – O Filho do Holocausto, codirigido pelo cineasta e músico Heitor D’Alincourt, e acabou sendo cobrado na coletiva de imprensa, realizada no último domingo, por ter se tornado o "Senhor BBB" e o profissional de imprensa que se presta a fazer piada com a própria imagem na escrachada comédia As Aventuras de Agamenon, o Repórter (2012), de Victor Lopes, com a turma do Casseta & Planeta.

Após 12 edições do reality show Big Brother Brasil, Bial não se mostrou intimidado. Disse que viveu o auge de sua carreira como jornalista entre 1988 e 1996, quando foi correspondente internacional da Rede Globo e cobriu marcos da história contemporânea, como a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética.

Ao retornar ao Brasil, em 1996, foi escalado para apresentar um programa de perfil mais popular, a revista eletrônica Fantástico, experiência que lhe permitiu o acesso a uma faixa distinta de espectadores. Gostou da experiência. Tanto que, ao receber o convite do produtor e diretor José Bonifácio Brasil de Oliveira, o Boninho, para embarcar no projeto BBB, no início dos anos 2000, resolveu aceitar. Sem muita hesitação. E diz ter todo o orgulho do mundo dessa decisão – e do que veio depois dela. "Faço televisão popular, sim. Tive a oportunidade de falar com gente com quem nunca havia conversado, muito antes dessa história de ascensão da classe C começar", defendeu-se.

"Jornalista, apresentador e cineasta. Sou tudo isso, sim", concluiu.

Trunfos

Sobre sua carreira de diretor de cinema, Bial parece menos seguro, ainda que, pelo menos até agora, não tenha grandes motivos para isso. Seu primeiro longa-metragem, Outras Estórias (1999), adaptação de contos de Guimarães Rosa, foi bem-recebido pela crítica, apesar "de ter consumido todas as suas economias para pagar as dívidas que lhe restaram". Depois fez uma série de documentários para o canal GNT (Os Nomes do Rosa), também sobre o escritor mineiro. Agora, retorna com Jorge Mautner – O Filho do Holocausto, que pode ser considerado outro acerto.

O documentário, bastante aplaudido pelo público de quase 2,5 mil pessoas que lotou o Teatro Guararapes, em Olinda (PE), no último sábado, faz uma viagem envolvente pela vida e obra do cantor, compositor e escritor Jorge Mautner, a partir de seu livro de seu memórias, O Filho do Holocausto, que dá nome ao filme.

Filho de imigrantes judeus oriundos da Áustria, que fugiram do genocídio orquestrado pelos nazistas na Europa, Mautner foi concebido antes de seus pais desembarcarem em terras brasileiras, e nasceu no Rio de Janeiro. Lá, já na primeira infância, travou contato com a cultura brasileira por meio da babá, uma jovem negra, filha de santo, que o embalava com sambas, cânticos de candomblé e um afeto muito particular, que o marcariam por toda a vida. O multiculturalismo o "contaminou" para todo o sempre e se tornou um valor que hoje defende com unhas e dentes como a solução para os males do mundo, sobretudo contra o fascismo do qual boa parte de sua família foi vítima na Europa.

"Esqueleto"

Permeado por imagens documentais garimpadas nos acervos da Rede Globo (Cedoc), em arquivos pessoais, documentários sobre a Alemanha nazista e a Segunda Guerra Mundial, entre outros, o filme de Bial e D’Alincourt tem o que seus diretores chamam de "esqueleto básico", gravado em estúdio, no Rio de Janeiro, durante quatro dias. Parte dele é composto por apresentações de 36 canções de Mautner, entre elas clássicos como "Maracatu Atômico", "Lágrimas Negras" e "O Rouxinol", com o artista e sua banda atual, que conta com participações de nomes de ponta da novíssima geração da MPB, como o multi-instrumentista, arranjador e produ­­tor Alexandre Kassin e Do­­menico Lancelotti, percussionista, baterista e também produtor. Sem falar, é claro, de Hélio Jacobina, seu parceiro musical há décadas. Algumas canções são interpretadas com Caetano Veloso e Gilberto Gil, amigos de longa data.

Também integram esse esqueleto depoimentos de amigos de infância e de adolescência, que compõem um mosaico bastante complexo de Mautner, sobretudo de seus anos em São Paulo, para onde sua família se mudou em um período no qual ele dividiu a casa com a mãe, o pai e o padrasto, que formavam um triângulo inusitado, vivendo todos sob o mesmo teto.

Na capital paulista, Mautner começou a escrever seu primeiro livro, Deus da Chuva e da Morte, aos 15 anos de idade. O livro seria publicado em 1962, quando o artista tinha 21 anos, e compõe, com Kaos (1964) e Narciso em Tarde Cinza (1966), a trilogia hoje conhecida como Mitologia do Kaos, base da filosofia fundada pelo músico e escritor.

Um dos pontos altos do filme, entretanto, é mesmo o diálogo entre Mautner e sua filha, Amora, nascida em 1976 e diretora de novelas na Rede Globo. Segundo Bial, a conversa foi longa, por vezes tensa, mas sempre terna. E proporciona ao filme momentos hilários, como quando Amora lembra que seu pai ia buscá-la na escola, no bairro carioca do Leblon, de sunga – e mais nada. E a matava de vergonha.

Polêmicas

Outro trunfo do documentário é o resgate do longa-metragem experimental O Demiurgo, rodado em 1972 por Mautner em Londres, quando ele e sua então companheira, a historiadora Ruth Mendes, mãe de Amora, passavam uma temporada na capital inglesa. Participam do filme, hoje no acervo do Canal Brasil, mas ainda no aguardo de restauração, os grandes amigos Caetano Veloso e Gilberto Gil, na época autoexilados na Europa.

Ficaram de fora de Jorge Mautner – O Filho do Holocausto, que ainda não tem data de estreia, temas mais polêmicos na vida do biografado, como o envolvimento com as drogas e sua bissexualidade. Segundo Bial, essas foram opções decorrentes da relutância de Mautner em falar sobre esses assuntos. "Vivemos uma época em que todos falam de tudo. Nós advogamos o pudor. Viva o pudor!"

O jornalista viajou a convite do Cine PE.

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