Honoré de Balzac. Estação Liberdade, 264 e 240 págs., R$ 39 e R$ 37. Romance e ensaio.
Um dos romances mais importantes do autor de Ilusões Perdidas e uma compilação de textos cuja maioria foi publicada em jornais franceses no século 19. O duplo lançamento da Estação Liberdade coloca no mercado uma edição de Eugénie Grandet com apresentação de Pierre Citron e tradução de Marina Appenzeller, e a antologia Tratados da Vida Moderna, traduzidos, anotados e prefaciados por Leila da Costa Aguiar. No primeiro, Balzac (1799-1850) narra a história de amor da protagonista Eugénie e retrata a vida em uma pequena província o romance, assim como todos os trabalhos do escritor, integrou A Comédia Humana, o nome que batiza o conjunto de sua obra. Já os Tratados são textos de não-ficção que abordam temas tão diversos quanto o vestuário e a gastronomia da época (1830-1839). Um ponto alto do livro é o "Tratado dos Excitantes Modernos", em que analisa da aguardente ao tabaco e passa pelo café: "O café produz no cérebro de algumas naturezas frágeis uma congestão sem perigo; em vez de se sentirem ativas, essas pessoas experimentam sonolência e dizem que o café as faz dormir". (IN)
Livro 2No Mundo dos Livros
José Mindlin. Editora Agir. 104 páginas. R$ 29,90. Ensaio.
"Loucura mansa." Assim José Mindlin, conhecido por ser o mais importante colecionador de livros do Brasil, define a sua paixão pelos livros. Empresário, no tempo em que capitaneava a Metal Leve, fazia cada segundo render leitura. Enquanto aguardava em filas ou salas de espera de alguma repartição pública para desatar alguns nós da companhia com o governo, acabou lendo A Comédia Humana, de Balzac, coleção que engloba 88 obras.
Mindlin, que sugeriu a criação de um segundo recreio, proposta já adotada em escolas públicas de São Paulo, conta episódios relevantes de sua trajetória neste No Mundo dos Livros.
Acima de tudo, ele faz apologia à leitura. Narra a sua aventura existencial, sempre acompanhada por livros. Oferece sugestões para quem deseja começar uma biblioteca particular. Ensina alguns truques durante o processo de aquisição de obras em "sebos". Também apresenta uma lista de alguns de seus livros prediletos, com breves resumos dos enredos e menções aos autores.
Integrante da Academia Brasileira de Letras (ABL), Mindlin revela que aprendeu a escrever, de maneira simples e eficiente, durante a sua breve, mas decisiva, experiência enquanto redator do jornal O Estado de S.Paulo.
Ainda: Ensaios, de Montaigne, é uma das obras que Mindlin recomenda para todos os interessados, assim como ele, em leitura. (MRS)
CD 1Bare Bones
Madeleine Peyroux. Universal. Preço médio: R$ 39,90. Lançamento no Brasil previsto para 10 de abril. Importado: R$ 79,90.
Há música para todo o momento. A que Madeleine produz suscita intimidade. Descendente de franceses, mas norte-americana de corpo e alma, a cantora e compositora, natural do estado da Geórgia, mergulha desde seu primeiro álbum nas raízes sonoras sulistas. Em seu recém-lançado Bare Bones, seu quarto disco-solo, a artista radicaliza o lado autoral: todas as canções têm sua assinatura.
Erroneamente classificada pela imprensa como "uma cantora de jazz", Madeleine é dona de um estilo híbrido e difícil de rotular. Traz na receita generosas doses da música negra norte-americana, sobretudo o blues, mas também conecta-se com o country e o folk, que se mesclam e se fundem à chanson francesa num estilo muito particular, que faz os pés ganharem vida, acompanhando cada mudança de rimo. A faixa que abre Bare Bones, "Instead", destila otimismo ("Em vez de se sentir para baixo, lembre-se, você nunca está só"), mas não resvala na pieguice tampouco entrega o tom emocional do álbum. Fina ironia e um romantismo algo melancólico são o "esqueleto" do CD (muitas das letras, a começar pela canção título, contém a palavra osso, como sinônimo de essência).
Feito para ser ouvido muitas vezes, por conta de sua musicalidade impregnante, o disco guarda, escondidas, várias pérolas. "River of Tears", por exemplo, contém um verso digno de estampar epitáfios: "Ele se sentava e bebia da forma como um monge faz suas preces". "Our Lady of Pigalle", por sua vez, é uma delicada e impecável ode a um dos bairros mais mundanos de uma Paris que talvez não exista mais, retratada por Toulouse Lautrec e perdida em algum beco que desemboque no lendário Moulin Rouge. (PC)
RevistaPiauí
Editora Alvinegra. Publicação mensal. Preço: R$ 9,50
A aposta do jornalista Mario Sergio Conti e do cineasta João Moreira Salles era arriscada: a Piauí é uma revista feita para quem gosta de ler em um país onde se lê muito pouco. Ela não se preocupa com a agenda de atualidades, tem textos longos e conta muita história sobre gente desconhecida. Parecia uma boa receita para uma publicação de vida curta. Pois a Piauí chegou à edição número 30 e não perdeu o pique. Na revista que está nas bancas há um registro irônico da dedicação de José Sarney à vida pública; um relato de assédios sexuais sofridos pelo senador Eduardo Suplicy; o diário de uma atriz paulista que vai ensaiar Chekhov em Moscou e leva um cano de seu namorado russo; os últimos capítulos da novela do americano que quer rever o filho que teve com uma brasileira; um conto do Nobel de literatura Le Clézio; um relato de como Miles Davis revolucionou o jazz (história muito bem contada no G Idéias de 28/2 pelos jornalistas Roberto Muggiati e Ranulfo Pedreiro) e outras histórinhas que não são fundamentais, mas são imperdíveis. (MS)
DVDDonnie Brasco
Direção de Mike Newell. Sony Pictures. Classificação indicativa: 16 anos. Preço médio: R$ 29,90.
Depois de O Poderoso Chefão, de Francis Ford Coppola, e Os Bons Companheiros, de Martin Scorsese, fica difícil prestar atenção em outro filme de máfia. Ainda mais um dirigido por Mike Newell, da comédia Quatro Casamentos e Um Funeral. Certo? Não tão rápido. Donnie Brasco pode ser considerado um dos grandes títulos produzidos na década de 1990 e merece toda a atenção que você tiver para dar. O roteiro escrito por Paul Attanasio se inspira no livro de memórias do agente do FBI Joseph D. Pistone, que trabalhou durante os anos 70 como infiltrado na máfia nova-iorquina. O papel de Pistone ficou com Johnny Depp, que consegue entrar no crime organizado construindo uma relação quase filial com o gângster Lefty Ruggiero (Al Pacino), uma figura decadente na família em que trabalha. Um sujeito frustrado e já com uma certa idade, mas cheio de histórias para contar. A confiança que Lefty deposita em Pistone evolui para um afeto que foge do controle do agente. Sua família e sua vida passam a ser ameaçadas. O dilema que enfrenta é o de ter que enganar alguém que parece amá-lo como um pai o amaria. Dois dos melhores atores de suas respectivas gerações, ver Pacino e Depp contracenar é um privilégio. (IN)
CD 2War Child Presents: Heroes
Vários artistas. Astralwerks. Importado. Preço médio: US$ 11.
Em prol das crianças afetadas pela guerra em países como Iraque, Afeganistão e Uganda, 16 ícones do rock escolheram canções clássicas de seus repertórios e 16 artistas da nova geração para repaginá-las. Este é o propósito de War Child Presents: Heroes, compilação lançada no final do mês passado, pela organização não-governamental britânica War Child.
Enquanto que algumas das canções presentes na coletânea soam meramente como um karaokê bem-produzido como a versão sem sal dos ingleses do The Kooks para "Victoria" (The Fall) ou o sacrilégio cometido pela também britânica Estelle, que elimina toda a malandragem de "Superstition" (Stevie Wonder) outras refletem a genialidade do artistas escolhidos para reinterpretá-las.
É o caso de Beck, que impregna "Leopard-Skin Pill-Box Hat" (Bob Dylan) de texturas lo-fi e muita distorção. Os nova-iorquinos da banda TV on the Radio também fazem um excelente trabalho na já batida "Heroes" (David Bowie), que ganha muito ao incorporar a elegante sonoridade eletrônica característica das canções da banda (sem falar nos impressionantes vocais de Tunde Adebimpe, que não deixam nada a dever aos de Bowie).
Outros bons momentos ficam por conta da releitura neodisco que os Scissor Sisters fazem de "Do the Strand" (Roxy Music); os belíssimos arranjos acústicos e vocais de Rufus Wainwright para "Smile" (Brian Wilson); e a versão de Lily Allen (acompanhada do ex-Clash Mick Jones) para "Straight to Hell" (The Clash). (JG)
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