Ela chocou a plateia ao usar o primeiro tutu curto em uma apresentação de balé no Paraná, em 1948. Agora, quase 60 anos depois, Marlene Maia de Britez, conhecida pelo nome artístico de Marlene Tourinho, baiana radicada no Paraná aos 12 anos, recebe o título de cidadã honorária de Curitiba por sua grande contribuição à história e ao ensino da dança na cidade.
A cerimônia ocorre às 19 horas desta quinta-feira (12), data em que Marlene completa 83 anos. O título será concedido no Palácio Rio Branco, sede da Câmara Municipal de Curitiba.
“Dediquei minha vida inteira para a dança. Desde pequena sabia que tinha nascido para isso. E fui sempre muito realizada”, declara Marlene, que foi primeira-bailarina do Teatro Guaíra e carregou o título de primeira-bailarina do Paraná entre 1945 e 1970.
Como todo artista que faz da dança sua escolha de vida, a trajetória da bailarina começou cedo, aos sete anos. Seus primeiros estudos foram no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, onde morava na época. Dois anos depois, a volta da família à Bahia interrompeu a incursão na carreira, que só viria a ser retomada após três anos, quando ela, já adolescente, chegou a Curitiba, em 1944.
Na capital paranaense, foi aluna do imigrante polonês Tadeu Morozowicz, que criou o primeiro curso de balé no estado, na Sociedade Thalia. Também frequentou a Academia Paranaense de Balé do professor Aroldo Moraes, e a Escola do Balé Guaíra, inaugurada em 1957.
Com talento e habilidade peculiares, protagonizou famosas apresentações como Coppelia e A Morte do Cisne. Na vanguarda, apresentou ainda a uma sociedade, na época provinciana, o tutu curto.
“Foi um escândalo. Minha mãe ficou muito preocupada. ‘Meu Deus! O que eu fiz com minha filha?’, ela dizia. Mas é que no Rio [de Janeiro], as pessoas já usavam. E aqui não. Ainda era aquele tutu romântico, que vai até o meio da canela. Mas o fato é que não foi tão problemático e as pessoas acabaram se acostumando. As meninas do balé passaram a usar o tutu curto logo depois também”, relembra.
Paixão pela dança
Incentivada pela família de rendimentos modestos, Marlene formou-se em Direito pela Universidade Federal do Paraná. Mas nunca exerceu a profissão. “Como advogada sempre fui uma ótima bailarina”, brinca. “Tive que entrar na faculdade porque minha mãe sempre falava que um canudo na mão abria qualquer porta. Escolhi Direito porque não tinha nada de matemática. Mas nunca me imaginei advogada.”
Mesmo fora dos palcos, Marlene não abandonou o balé. Em 1966, tornou-se professora do curso de Danças Clássicas do Teatro Guaíra. Só deixaria o cargo em 2002, com a aposentadoria compulsória. Entre 1977 e 1995 também foi professora de dança e história da dança na Faculdade de Artes do Paraná.
Hoje, viúva e mãe de duas filhas, mantem as recordações positivas de uma vida construída na ponta dos pés. E diz que, mesmo com alguns tropeços, não poderia ter melhores lembranças. “Quando a gente faz o que gosta e é reconhecido por isso, sempre se é feliz”.
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