Alex Barg interpreta um manicure afetadíssimo e um baladeiro sem noção, enquanto Adriana Birolli vive a solteira Alice| Foto: Fernando Torquatto/Divulgação

As situações de Manual Prático da Mulher Desesperada são a caricatura perfeita do extremo da insegurança feminina: Ele vai ligar? Por que ele não ligou ainda? Devo ligar? Ele me despreza porque eu liguei? O que eu faço agora? Deus, faça o telefone tocar! Vou contar de cinco em cinco até ele ligar... Ai, minha unha está um horror!

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Esse turbilhão de ansiedade esmaga a autoestima de Alice na primeira parte do espetáculo, apresentado na última quinta-feira no Teatro Positivo. Ela é uma mulher bonita e jovem (estar perto dos 30 anos definitivamente já não significa o mesmo que décadas atrás), mas está sem companhia no sábado à noite.

Os contos de Dorothy Parker, ponto de partida da montagem, foram transpostos para um mundo de baladas e relações fugazes, captando um tipo de comportamento que, na essência, não foge à realidade. Insegurança e ansiedade, solidão: são companhias contumazes – ainda que não sejam um privilégio – das mulheres.

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Pelo seu lado mais patético, esses sentimentos vêm à tona no palco, sem respiro para tristezas genuínas. Trata-se, enfim, de uma comédia pastelão, com todas as caras e bocas que o gênero se permite, o gestual e as entonações mais risíveis. Escapam do texto algumas tiradas mais espertas, enquanto de modo geral se serve um tipo de humor ligeiro e superficial, que tende a agradar quem já está programado a rir.

A proposta é essa mesmo, tanto que grande parte do espetáculo recorre à narração em off para revelar os pensamentos da personagem, deixando a atriz Adriana Birolli concentrada na expressividade física exagerada. Sutileza não é um conceito em questão. Reiteração, sim.

Vale lembrar que o espetáculo foi concebido como um show de humor, para ser apresentado em espaço mais íntimo do público, como num cabaré. Na noite de quinta-feira, porém, Adriana o levou ao Grande Auditório do Teatro Positivo, diante de uma plateia relativamente cheia e distante.

A atriz correu entre as fileiras enlouquecida, portando um mi­­crofone sem fio ao estilo Madonna, em alto volume. A solução encontrada para se fazer ouvir trouxe transtornos para os dois atores principalmente depois das cenas mais movimentadas. Terminada a dança estapafúrdia de Alice com um cara que conhece na balada, o ator Alex Barg teve de segurar com as mãos o seu aparelho que escapava. Os personagens dele, a propósito, são ainda mais estereotipados: um manicure gay afetadíssimo e o baladeiro troglodita e sem noção.

Besteirol, mas sem apelações rasteiras. Adriana se diverte em cena e usa todo seu fôlego, o vozeirão grave e a habilidade de interpretar mulheres "incorretas" ou com pendor ao ridículo para que boa parte do público se divirta com ela. GG1/2

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