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Mike (Chiwetel Ejiofor) leva uma chave de braço do adversário: um homem contra todos | Fotos: Divulgação
Mike (Chiwetel Ejiofor) leva uma chave de braço do adversário: um homem contra todos| Foto: Fotos: Divulgação
  • Mamet: nada de lugar-comum
  • Alice Braga: a mulher de Mike
  • Santoro: pilantra à brasileira

David Mamet tem uma das mentes mais interessantes e autênticas do cinema norte-americano. Dramaturgo respeitado, escreveu o roteiro de Os Intocáveis (1987) e de O Sucesso a Qualquer Preço (1992), este baseado na sua peça de teatro vencedora do prêmio Pulitzer.

O que o tornou conhecido é a capacidade de criar diálogos acachapantes, violentos e verossímeis. Ele considera Hollywood uma droga viciante – talvez por isso tenha dirigido uma dúzia de filmes, apesar de comentar em entrevistas que a experiência de trabalhar na indústria é terrível.

O mais recente deles, Cinturão Vermelho, acaba de sair em DVD depois de ter uma carreira breve nos cinemas brasileiros. A capa investe em Rodrigo Santoro e Alice Braga, apesar de ambos terem papéis secundários na história. Já o Brasil ganha um bocado da atenção de Mamet, que, além da direção, é responsável também pelo roteiro original.

O protagonista é Chiwetel Ejiofor, revelado por Woody Allen em Melinda e Melinda (2004). Ele interpreta Mike Terry, dono de uma academia de artes marciais que não acredita em competições e defende o uso da força apenas como forma de defesa. "Sempre existe uma saída. Você só precisa encontrá-la", diz aos alunos.

Mestre respeitado pela maioria, Mike não sabe ganhar dinheiro. O que deixa Sondra (Alice Braga), sua mulher, furiosa. Um incidente envolvendo uma advogada complica ainda mais a situação financeira da academia.

Em questão de dias, uma sequência de erros – alguns deles fatais – obriga Mike a repensar sua postura pacífica e desambiciosa. Depois de defender um astro do cinema durante uma briga de bar, ele recebe como agradecimento um relógio de pulso de US$ 20 mil.

Sem pensar muito, decide dar a regalia para um de seus alunos, o policial Joe Collins (Max Martini), que também está na pindaíba – inclusive por ser um sujeito honesto. Acontece que o relógio era roubado e Joe é suspenso pelo departamento.

Para administrar os problemas, Mike considera a possibilidade de participar de um campeonato de jiu-jitsu, organizado por uma cambada de pilantras – um deles é Bruno Silva (Rodrigo Santoro).

Ter de lidar com os crápulas ambiciosos por trás do evento e descobrir que os combates são arranjados terão um efeito devastador sobre Mike, que não vai hesitar em botar abaixo todo o campeonato, diante de milhares de pessoas e das câmeras da tevê a cabo.

Mais uma vez, Mamet procura explorar o conflito entre mocinhos e bandidos, entre homens imorais que detém o poder e só respeitam o dinheiro e aqueles que não estão nem aí para suas contas bancárias (seja por opção ou por incompetência), mas sofrem influência direta dos vilões.

Um pessimista notório, Mamet dá uma virada em Cinturão Vermelho e conta uma história redentora, em que os pilantras se dão mal e os justos apanham – literalmente –, mas vão embora de cabeça erguida.

O otimismo aparece muito na postura zen de Mike Terry. "Sempre existe uma saída. Você só precisa encontrá-la." É como se o diretor e roteirista dissesse que não é necessário se render ao sistema se você não quer pactuar com ele. Existem regras pelas quais vale a pena brigar e outras que devem ser ignoradas – algo que o mestre Miyagi diria ao Daniel-san em Karatê Kid (1984). A integridade e a habilidade do personagem de Ejiofor fazem dele uma espécie de super-herói.

Quanto ao Brasil, Mamet foge do lugar-comum de samba, futebol e mulher bonita. Além de maus-caracteres como Bruno, o país é terra do mestre de Mike, dono do cinturão vermelho (um senhor supostamente brasileiro de origem asiática que não abre a boca, mas faz um gesto simbólico no fim do filme). Para completar, a cantora Luciana Souza tem uma participação pequena e simpática, cantando num bar chamado São Paulo.

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