Dez meses de liberdade de experimentação financiados por recursos do Fundo Municipal de Cultura. O benefício foi garantido a 12 artistas curitibanos selecionados por edital para a Bolsa Produção para Artes Visuais, que apresentam suas criações em exposições individuais no Memorial de Curitiba e no Solar do Barão.
A "máxima contemporaneidade" é a proposta em comum entre as mostras. Está presente, por exemplo, nas pesquisas realizadas por André Rigatti sobre o corpo no espaço. "A idéia principal era observar como as pessoas interagem a partir de um motivo artístico, pensá-las como participantes do processo artístico e, depois, observar como se relacionam com a cidade", diz. A investigação culminou nas fotografias e vídeos da exposição Estruturas Ambientais Integração do Objeto ao Espaço.
O desenvolvimento do projeto de Rigatti e dos outros 11 artistas teve o respaldo de dois curadores, Paulo Reis (Curitiba) e Marcos Hill (Belo Horizonte). "Eles fizeram o acompanhamento técnico e conceitual do trabalho dos artistas, que fizeram uma reflexão mais apurada do próprio trabalho", diz Beto Lanza, diretor de ação Cultural da Fundação Cultural de Curitiba (FCC). Rigatti reconhece a contribuição dos orientadores. "Eles visitavam os ateliês com a proposta de entender o processo artístico de cada um, levantavam discussões, acrescentavam idéias e facilitavam o trabalho", conta.
O montante repassado a cada artista ao longo dos dez meses foi de R$ 23 mil. Entre as 12 bolsas ofertadas, duas são direcionadas à gravura, duas à escultura, duas à fotografia e as outras seis independem da técnica utilizada. As bolsas específicas foram criadas para que o trabalho se desenvolvesse nos ateliês da FCC e fosse garantida a infra-estrutura durante o processo de construção dos projetos. Além disso, de acordo com Beto Lanza, a freqüência de artistas traz aos ateliês uma importante "massa crítica" artística. "A expectativa é que isso detone um processo criativo mais dinâmico e potente", diz.
Foi no ateliê de serigrafia do Solar do Barão que Cléverson Sálvaro desenvolveu o projeto Álbum um álbum de retratos de pessoas ligadas às artes visuais. O artista fotografou cem profissionais escolhidos após um mapeamento do circuito artístico curitibano e reproduziu as imagens em serigrafia, para evitar a aceleração e a automaticidade tecnológicas e abrir novas possibilidades de criação. A concepção de cada registro teve a participação do retratado, que indicou também o nome e a profissão que apareceriam abaixo da imagem. O conjunto delas forma o "álbum" das artes locais, com figurinhas repetidas a serem trocadas entre os colecionadores. Sálvaro afirma que, sem o respaldo do edital, não seria possível executar o projeto. Acabado o período da bolsa, o artista continua a freqüentar o ateliê.
Maikel da Maia, Goto, Maria de Lourdes Gomes, José Roberto da Silva, Luiz Rodolfo Annes e Washington Silveira são os demais artistas que realizaram seus projetos com o sustento da bolsa produção e expõem atualmente no Memorial de Curitiba e no Solar do Barão. Outros seis contemplados apresentarão suas criações ao público neste ano, ainda sem datas de exposição definidas.
Apresentar o fruto dos dez meses de criação nos espaços da Fundação Cultural é uma das contrapartidas do Bolsa Produção. A outra é a aquisição de acervo, já que cada artista deve ofertar à FCC uma de suas obras produzidas no período. "O projeto cria um programa permanente de fomento, com um ambiente minimamente adequado para o artista desenvolver o seu trabalho a médio prazo e dá condições de experimentar com mais garantia e segurança, porque o artista não precisa pensar na viabilidade financeira. É um trabalho de investigação artística", comenta Beto Lanza.
A segunda edição da Bolsa Produção para Artes Visuais já está em andamento, com o repasse mensal de recursos para a produção artística dos selecionados e, nos próximos meses, será lançado o terceiro edital do programa. As conseqüências do incentivo continuado às artes visuais não devem tardar a aparecer.
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