O que tenho (...) é um olhar treinado. Mas esse trabalho não é fotojornalismo, não é um retrato da realidade.
Exposição
Fotos de Eduardo Aguiar. Galeria Teix (Av. Vicente Machado, 666), (41) 3018-2732. Abertura na quinta-feira (5), às 19h. Até 4 de abril.
Há uma cidade inesperada que cabe em alguns poucos quarteirões entre as praças Osório e Carlos Gomes, no centro de Curitiba. Quem passa apressado no aperto cotidiano pode não perceber. Quem tem olhos para ver, vê.
Munido de um smartphone, o jornalista Eduardo Aguiar, editor-chefe da Gazeta do Povo, apurou o olhar para essa urbe pitoresca, com seus habitantes mais comuns e também os mais insólitos, suas ruas e calçadas cheias de luz e sombra.
Desde 2011, quando se mudou para um apartamento no “centrão velho, ao mesmo tempo belo e sujo”, Aguiar tem se dedicado a instagramar pessoas, praças, ruas e construções desta parte “menos votada” da cidade.
A qualidade das fotos postadas em redes sociais como Instagram e Facebook chamaram a atenção, primeiro de amigos, depois de outros instagramers do país e do exterior.
Uma seleção das imagens de Aguiar será exposta a partir desta quinta-feira (5), na Galeria Teix. A mostra Passagens reúne 37 imagens sob a curadoria do jornalista Rodrigo Apolloni, que fez a seleção a partir de 120 fotos em preto e branco.
As imagens estão divididas em três seções: “Dia”, com fotos diurnas; “Noite”, com registros noturnos; e “Passagem”, com fotos capturadas no tempo indefinido das alvoradas e entardeceres.
O nome da exposição faz alusão ao estudo sobre a arquitetura de Paris, Passagens, de Walter Benjamin, uma primorosa reflexão sobre as origens da modernidade.
Sob influência de Brassaï e Capa
Como quem não queria nada, o jornalista Eduardo Aguiar começou a publicar fotos nas redes sociais em 2011.
Leia a matéria completaApolloni destaca a mão leve do fotógrafo que interfere minimamente na cena retratada. “Benjamim também era um fotógrafo que observava a cidade e a registrava em texto”, disse Apolloni.
Flagrantes
Foi dele a ideia de transportar para o papel e o interior de uma galeria as imagens que nasceram para a vida efêmera das fotos digitais.
“O bom da fotografia digital é a visibilidade que ela proporciona com os compartilhamentos. As pessoas não me conhecem e conhecem meu trabalho. Mas colocar na moldura é um grande barato”, diz Aguiar. “A vida de uma foto no Instagram é efêmera, imediata. Amanhã ela vai para o fim da fila e ninguém nunca mais vai ver, é como o jornal de ontem. Na parede, ela fica perene, eterna.”
Mesmo com uma exposição, sua primeira, Aguiar não se considera um fotógrafo profissional. “O que tenho depois de tantos anos editando fotos em páginas de jornal é um olhar treinado. Mas meu trabalho não é fotojornalismo, não é um retrato da realidade. Começou e continua como hobby. Não me preocupo com a qualidade técnica. Busco flagrantes cotidianos, cenas corriqueiras, personagens que jamais estariam numa página de jornal”, diz.