Cronologia
Saiba mais sobre Isolde Hötte Johann.
1902 Nasce em 9 de outubro em Curitiba, filha de pai alemão e mãe filha de suíços.
1917 Inicia aos 15 anos os estudos de pintura com o artista Alfredo Andersen.
1920 Muda-se com a família para Joinville, cidade natal de sua mãe. Uma paisagem pintada ali, naquele ano, é considerada a mais antiga deixada pela artista.
1921-22 Isolde e sua irmã Nita estudam em São Paulo, em uma escola de moças vinculada à Escola Alemã.
1924 Acompanhada pelo pai, viaja à Alemanha para estudar na Academia de Artes Aplicadas do Museu de Berlim.
1925 Casa-se com o alemão Gustav Höpker em 3 de setembro e passa a viver em Hannover e, em 1926, da à luz a Franz Hopker.
1928 - Retorna ao Brasil com o bebê. No navio, encontra Alfredo Andersen, que retornava da Noruega.
1932 Divorcia-se. De 1925 até esta data, vive um período de apatia e prostração, mas com o apoio dos amigos começa a despertar para os compromissos artísticos.
1933 Assume a função de professora de artes no Colégio Progresso. Monta um ateliê no sótão da casa do pai onde passa a pintar naturezas mortas e flores.
1935 Com a morte de Andersen, em 9 de agosto, quase desiste de realizar sua primeira exposição individual, marcada para o dia 17 de novembro. Mas, incentivada pelos amigos, decide manter o projeto como homenagem ao mestre.
1936 Realiza sua segunda exposição individual com natureza morta e paisagens. Nos anos seguintes, participa de inúmeras exposições, entre elas, o 1º Salão de Artes Plásticas do Paraná (1941).
1952 Incerta de que rumos tomar e cansada da mesmice da arte paranaense, começa a pintar porcelana branca e, em seguida, a produzir peças em cerâmica.
1958 Muda-se para Porto Alegre, onde realiza inúmeras exposições de cerâmica.
1970 Começa a passar longos períodos em Curitiba, onde volta a residir definitivamente em 1984. Mesmo quase cega, pinta até os 90 anos.
1991 É realizada a exposição Pintora Hötte, na Galeria de Arte do Banestado.
1994 Morre em 11 de março de 1994.
O artista norueguês Alfredo Andersen (1860-1935) é, sem dúvida, o grande mestre da pintura paranaense. Nos dois sentidos do termo, afinal, ao manter por muitos anos uma escola de arte em seu ateliê, foi responsável pela formação de toda uma primeira geração de artistas do estado, entre eles, nomes de destaque como Guido Viaro, Estanislau Traple, Frederico Lange de Morretes, Theodoro De Bona, Waldemar Curt Freyesleben, Isolde Hötte ...
Desta última, o leitor muito pouco ou, provavelmente, nada sabe. "Isolde faz parte de uma história da arte paranaense que não é contada. Traçou uma trajetória extraordinária, mas um tanto marginal, que hoje deve ser vista com orgulho", diz Maria José Justino, pesquisadora e professora da Escola de Música e Belas Artes do Paraná Embap.
Nascida em uma família tradicional, em 1902, ano em que Andersen cria sua escola, Isolde não se interessava pelos afazeres normais das mocinhas de sua época. Com gênio forte, a garota que começou a desenhar ainda na infância, "primeiro com crayon, depois com pastel, aquarela e tinta a óleo", como afirmou em uma entrevista, armou uma verdadeira batalha com a família para seguir os passos do vizinho e amigo Freyesleben. Ele havia acabado de obter, a duras penas, autorização dos pais para ter aulas com Andersen. "Naquele época, uma moça não poderia ter aulas no ateliê de um artista. Então, as lições eram dadas em sua própria residência", conta o filho único da artista, Franz Hopker, em entrevista concedida à Gazeta do Povo.
De antemão, ele avisa a repórter, ao telefone, pouco antes de encontrá-la em um apartamento que mantém no Batel para guardar as inúmeras de telas e cerâmicas deixadas por Isolde, falecida em 1994: "Ela era temperamental, tinha uma índole muito esquisita e era refratária a vender seus quadros."
Octogenário, Franz está prestes a concluir uma biografia da mãe cuja trajetória está envolta em mistério mesmo para ele. Em 1988, quando iniciou a pesquisa, ousou perguntar a ela quem havia sido seu professor na Academia de Artes Aplicadas do Museu de Berlim, onde estudou de 1924 a 1925. "Ela não gostava de falar sobre sua vida, mas respondeu. A partir daí, fui buscando informações, amarrando um fato ao outro e fazendo deduções", conta Franz.
O professor era Emil Oerlik, um artista conceituado entre os expressionistas alemães, que tanto quanto Andersen, exerceu grande influência sobre a jovem. Estudar na Alemanha, aliás, só foi possível graças a uma ferrenha teimosia que venceu, até mesmo, as dificuldades financeiras enfrentadas pela família em tempos de pós-Guerra.
A experiência em Berlim, em plena efervescência das vanguardas artísticas, faria Isolde evoluir imensamente em sua produção artística. "Ela se aproximou dos expressionistas, teve aulas com um professor que efetivamente pertencia a esse movimento, então, não ficou imune. Volta ao Brasil trazendo uma arte extremamente avançada, arejada, com pinceladas expressionistas em suas paisagens e natureza morta", conta Maria José.
Que artista em sã consciência gostaria de deixar o turbilhão artístico que a Europa vivenciava naquele período? "Ela se atirou de corpo e alma, tanto que criou problemas na casa da avó, onde morava, não tinha hora para voltar, não dava satisfação", conta o filho. Passados dois anos, prazo que o pai havia lhe dado para retornar ao Brasil, Isolde bateu o pé para ficar. Em meio a negativas, casou-se com o alemão Gustav Hopker, em 3 de setembro de 1925, e passou a viver em Hannover, onde seguiu seus estudos.
Mas seus planos logo se desfariam com a morte do pai, naquele ano, e uma crise conjugal que se arrastou até 1928, quando Isolde decidiu voltar ao Brasil com o filho de 2 anos, ainda com esperanças de um dia retomar a vida na Alemanha ela oficializou a separação em 1932 e jamais retornaria à Europa. Pura coincidência ou ironia do destino, a artista encontrou o mestre Alfredo Andersen no navio, retornando de um longo período em sua terra natal, a Noruega. "Ele a aconselhou e animou", conta Franz.
De volta a Curitiba, Isolde viveu um período de intensa apatia e reclusão, mas pouco a pouco, e com o incentivo dos amigos, reestabeleceu sua vida artística. O próprio Andersen lhe recomendou frequentar o ateliê de Lange de Morretes para praticar o desenho e, assim, ela iniciou a produção de telas que, em 1935, seriam exibidas em sua primeira mostra individual.
"Quando voltou ao Brasil, Isolde acabou se aproximando muito dos discípulos de Andersen, com quem tinha uma relação forte, mas deve ter sido um choque sair de um grupo extremamente avançado na Europa. Diante de sua situação de mulher descasada, com filho, em uma Curitiba provinciana, ela ficou escondida e sua obra acabou muito solitária", analisa Maria José.
No início da década de 50, após viver um período ativo, participando de inúmeras exposições, a artista começou a reclamar da mesmice nas artes paranaenses. Nesse período, uma nova geração de artistas dava início a um movimento contestatório e de renovação artística, mas Isolde não participou dele. "O que ela não queria admitir era que o seu isolamento não estava ajudando em nada. As novidades estavam lá, mas ela do seu refúgio não as alcançava", escreve Franz na biografia.
Neste momento, ela interrompe o seu trabalho com pintura para produzir esculturas em cerâmica. Em 1958, casada novamente, muda-se para Porto Alegre e, num espaço de 15 metros quadrados de um apartamento, passa a moldar santos, vasos, dom quixotes e inúmeras "negrinhas" inspiradas nas mulatas sinuosas e sorridentes que via passar na janela.
Para Maria José, a mudança foi um desvio de rumo. "É possível comparar sua trajetória um pouco à de Anita Malfatti, que também vai estudar na Alemanha e depois nos Estados Unidos, volta ao Brasil e participa da Semana de Arte Moderna de 1922, e depois se recolhe, recua. Hötte teve um grande pico de criação e depois parte para a cerâmica, que não atingiu a mesma excelência de sua pintura", diz a pesquisadora.
Já idosa, Isolde voltou a priorizar a pintura. Por quase uma década passou longos períodos com os netos em Curitiba, pintando "telas em motivos alegres, coloridos, e que denunciavam uma grande mudança em seu estilo de pintar", escreve Franz. Em 1985, mudou-se novamente para Curitiba e, em um grande ateliê construído pelo filho, trabalhou até perto dos 90 anos, a despeito do agravamento da cegueira decorrente de um problema de visão iniciado na juventude, e participa de várias exposições, entre elas, Tradição e Contradição, realizada em 1986, no Museu de Arte Contemporânea do Paraná, com curadoria de Maria José Justino.
Com sua morte, em 11 de março de 1994, aos 92 anos, o filho Franz tornou-se o guardião de sua obra, guardada cuidadosamente em um apartamento, à espera de novas exposições que possam revelar ao público o grande talento de uma artista que, mulher à frente de seu tempo, acabou injustamente obscurecida no rol dos grandes artistas paranaenses.
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