Os profissionais do setor de audiovisual do Paraná estão com uma faca em riste. Mas não se trata de uma arma branca, de lâmina afiada, pontiaguda e cortante. É um símbolo, que começou a circular nas redes sociais na última semana, substituindo as fotos de perfil de diretores, produtores, roteiristas, atores, fotógrafos, montadores e de outros homens e mulheres que fazem cinema e vídeo no estado. Representa uma causa que começa a engrossar a voz: a Frente Aberta do Cinema e Audiovisual Paranaense (Faca).
O movimento nasceu do descontentamento com a ausência de uma política pública de fomento ao setor no Paraná e, nos próximos dias, deve se manifestar fisicamente, em um protesto da classe, que irá às ruas para cobrar do governo estadual um empenho maior no estímulo à produção local.
Entre as reivindicações do Faca está a realização mais regular do Prêmio Estadual de Cinema e Vídeo, criado em 2004 pela Secretaria de Estado da Cultura (Seec), que, pelo menos no papel, deveria ser anual. A premiação foi instituída com o intuito de estimular a produção audiovisual no estado, distribuindo R$ 1,54 milhão para a produção de quatro filmes, sendo um longa-metragem e três telefilmes.
Só que, além de os valores nunca terem sido corrigidos e hoje estarem defasados, o prêmio teve apenas quatro edições em quase uma década de existência. A última foi em 2012 e a próxima, ninguém sabe ao certo quando e se ocorrerá.
Segundo a assessoria de imprensa da Seec, a falta de recursos financeiros foi o que impediu que um novo concurso acontecesse neste ano e caberá à Secretaria da Fazenda estabelecer se haverá ou não dinheiro para a realização de uma nova edição em 2014.
Lei estadual
O audiovisual paranaense não conta hoje com praticamente nenhuma ferramenta de estímulo à produção. O Programa Estadual de Fomento e Incentivo à Cultura (Profice) e o Fundo Estadual de Cultura (Fec), instituídos pela Lei N.º 17.043/11, apesar de já ter sido sancionada pelo governador Beto Richa, ainda não está em vigor na prática. Também caberá à Secretaria da Fazenda estabelecer o montante do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) que será renunciado pelo estado para financiar projetos culturais paranaenses nas mais diversas áreas, por meio do Profice. Pelo Fec, o incentivo sairá diretamente do Tesouro do estado, sob a forma de prêmio.
Para a produtora Diana Moro, vice-presidente do Sindicato da Indústria do Audiovisual no Paraná (Siapar), a falta de recursos não é uma desculpa aceitável para justificar a não realização de uma nova edição do Prêmio Estadual de Cinema e Vídeo, tampouco para que o Programa Estadual de Fomento e Incentivo à Cultura (Profice) e o Fundo Estadual de Cultura (Fec) não entrem de uma vez em vigor. "Falta vontade política, o desejo de fazer com que o Paraná, um dos estados mais ricos da União, se torne um polo significativo de produção audiovisual."
Diana cita como exemplo o caso de Pernambuco, onde há uma sólida política de incentivo à produção audiovisual, com editais que contemplam desde primeiros filmes de diretores estreantes em curta-metragem até a finalização e distribuição de longas-metragens. O resultado desse empenho: o atual representante do Brasil na corrida por uma vaga entre os cinco indicados ao Oscar de melhor filme estrangeiro é o já premiadíssimo O Som ao Redor, do recifense Kleber Mendonça Filho, que construiu toda a sua carreira no estado nordestino. Também é de Recife o elogiado longa Tatuagem, de Hilton Lacerda, vencedor do Kikito de melhor filme do Festival Gramado deste ano.
Boa fase
Mesmo sem uma política estadual consistente para o setor, o cinema paranaense tem alcançado resultados memoráveis, graças mais a esforços individuais dos realizadores do que a uma atenção especial do poder público. Neste ano, o documentário em curta-metragem Pátio, de Aly Muritiba, venceu o É Tudo Verdade Festival Internacional de Documentários, foi selecionado para a Semana da Crítica no Festival de Cannes e recebeu um prêmio no Festival DOK Leipzig, na Alemanha.
Segundo Antônio Junior, um dos produtores de Pátio, e sócio de Muritiba na Grafo Audiovisual, o curta foi realizado com recursos próprios, e nenhum profissional ganhou nada, caso contrário não teria sido realizado. Custou R$ 5 mil, mas, teria um orçamento de R$ 40 mil a R$ 50 mil, caso não tivesse sido feito em mutirão.
Outra produção curitibana, A Que Deve a Honra da Ilustre Visita este Simples Marquês?, de Rafael Urban e Terence Keller, venceu três prêmios no Festival de Brasília de Cinema Brasileiro: o troféu Candango de melhor direção, na competição de documentários em curta-metragem; o Prêmio da Crítica, atribuído pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine); e o Prêmio Aquisição Canal Brasil de Incentivo ao Curta-metragem.
"A descontinuidade desses mecanismos de fomento, sejam eles do estado ou do município, põe em risco essa boa fase, porque não há garantias de recursos para novas produções. A incerteza é sempre muito grande", diz Antônio Junior, produtor de O Homem Que Matou a Minha Amada Morta, vencedor da última edição do Prêmio Estadual de Cinema e Vídeo, em 2012. O filme, sob a direção de Aly Muritiba, começará a ser rodado no primeiro trimestre do ano que vem, mas ainda aguarda a liberação de R$ 500 mil, segunda parcela do prêmio de R$ 1 milhão sem a qual a gravação do longa será impossível.
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