A vida precisa de pausas. Quem assina embaixo do ensinamento é o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade. Não há quem agüente trabalhar o dia inteiro e durante a noite acompanhar o noticiário sobre o Bush e os sem-terra se não houver no meio um momento que seja de distração. Embora não sirva só para isso, um poema pode dar essa pausa. Um balé, também. Se falar sobre uma noite de Natal e se distanciar o tempo todo da realidade, melhor ainda. Então, nada mais ideal para esquecer do governo Lula e do orçamento familiar do que uma noite no teatro assistindo a O Quebra-Nozes.

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O balé escrito por Tchaikovsky, baseado num conto de E.T.A. Hoffman, é um clássico da fantasia. A história é a de uma menina que ganha um presente estranho na noite de Natal. É o famoso quebra-nozes do título. Depois de ver o presente quebrado e restaurado, ela passa a ver cenas curiosíssimas. O quebra-nozes transforma-se em um príncipe. Logo, outros brinquedos tomam vida. E ratos ameaçadores aparecem no quarto dela. Obviamente, mais tarde vai se dizer que tudo não passou de um lindo sonho da garota.

Esta é a segunda temporada seguida em que o Balé Teatro Guaíra faz de O Quebra-Nozes a principal atração de seu ano. Em 2004, significou a reunião do grupo com a Orquestra Sinfônica do Paraná, depois de um bom tempo de afastamento. Agora, espera-se que signifique a retomada definitiva de grandes projetos, espantando a crise que atravessa o mais importante grupo de balé do estado, com 36 anos de tradição.

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"Estamos com um projeto para fazer Romeu e Julieta (de Prokofiev) em 2006, mas dependemos da aprovação na Lei Rouanet", afirma a diretora do balé, Carla Reinecke. Segundo ela, o orçamento anual do grupo não permite programações mais ousadas. Em 2004, houve R$ 500 mil para fazer a temporada do balé de Tchaikovsky. Neste ano, já com figurinos e cenários arranjados, seriam necessários R$ 250 mil. Mesmo com a redução, foram necessários cortes para tornar a realização possível. O patrocínio, que ano passado foi da Kraft Foods e Bosch, em 2005 é da Peróxidos do Brasil.

Carla conta que o grupo vem tendo dificuldades para manter os melhores bailarinos por aqui. Afinal, a média de salários não chega nem perto dos R$ 2 mil. O grupo ficou pequeno e a formação já não está totalmente adequada para algumas produções.

Mas, sinceramente, se você for ver a montagem que estréia hoje em ensaio aberto, esqueça tudo o que está depois do segundo parágrafo. Afinal, não vale tentar comprar uma passagem para o famoso reino da fantasia e ficar pensando no orçamento do balé. Relaxe, aproveite, e deixe as piruetas fazerem você nem lembrar que existem Brasília e o Afeganistão.

Serviço: O Quebra-Nozes. Guairão (Pça. Santos Andrade, s/n.º), (41) 3315-0979. Ensaio aberto hoje às 20h30. Entrada: um quilo de alimento não-perecível. Temporadas: dias , 15, 16 e 17 às 20h30 e dias 11 e 18 às 18h. R$15 ou R$10 mais a doação de um livro literário infanto-juvenil.