| Foto: Divulgação

Fausto Fanti (1979-2014) foi o maior comediante brasileiro das últimas décadas. Com folga, covarde folga. Beira o assustador a quantidade de personagens memoráveis escritos e vividos por ele. Desde a estreia de Hermes & Renato até seus últimos trabalhos, poucas foram as vezes em que uma interpretação do sujeito não ficou entranhada no espectador, de diversas formas. Não por acaso, o grupo conseguiu manter um público fiel, dos quadros pornochanchadas ao "Banana Mecânica". Múltiplo, Hermes & Renato ultrapassou a própria esfera do programa para criar também novelas, dublagens e discos.

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Estamos falando de um grupo cuja capacidade de reinvenção é vergonhosamente subestimada. Poucos artistas de quaisquer áreas são capazes de produzir conteúdo tão variado e bem-sucedido por mais de uma década. De uma sensibilidade iluminada provinha o potencial satírico: telejornais, igrejas, apresentadores, subcelebridades, figuras consagradas e modismos eram constantemente traduzidos para seu universo de orçamento limitado e criatividade absurda.

Faltam homenagens a Fausto Fanti, líder da brincadeira. Culpa da impressão equivocada de que a trupe se reduzia a um besteirol, ou da própria desconfiança sobre o papel da comédia na cultura. A influência exercida por Hermes & Renato é digna dos mais nobres créditos. Considerando nosso vício contemporâneo pela referenciação, esporadicamente nos impressionamos com a referência por ela mesma — isto é, o artista esfrega na cara de seu público quem o inspirou em vez de oferecer algo com qualidade estética para ser apreciado. No humor, isso faz com que a piada já mastigada pareça um grande exercício mental. Os amigos que formavam Hermes & Renato, despretensiosos como as fantasias que vestiam, sempre seguiram o caminho inverso. Ao emular suas ótimas influências sem alarde – não são poucos os traços "pythonescos" –, o grupo mantinha como única preocupação desenvolver seus contextos e personagens.

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Apesar das várias cenas em que propagava palavrões escabrosos, Fausto Fanti se destacava ainda mais quando dele exigiam sutileza. As inefáveis atuações como Dona Máxima e Mauro Gargamel ilustram o talento de quem roubava a cena com uma naturalidade brilhante, capaz de capturar o que interessa ao público muito antes desse público se dar conta disso.

Desde a última quarta-feira, a morte se acoplou às suas cenas, melancolicamente nos indicando que a perda de Renato ainda será sentida por outras várias décadas.

Mateus Ribeirete, estudante de Letras, é "coadjuvante na comédia da vida"