Concertos Solidários
Voluntários levam espírito da Oficina a instituições
Instituições como hospitais, asilos e centros de atendimento da prefeitura estão recebendo, desde o dia 8, pequenas apresentações musicais de voluntários chamadas de Concertos Solidários. O projeto é uma contrapartida social da Oficina de Música de Curitiba, conforme explica o professor da Embap Marco Aurélio Koentopp, responsável pelos concertos.
"A ideia é levar um pouco da Oficina aos lugares em que as pessoas não têm acesso ao teatro", diz.
O contador de histórias Carlos Daitschman tem acompanhado os concertos solidários complementando as apresentações. Foi ele quem acompanhou a estudante de violino e violão Maria Luiza Kaluzny, de 15 anos, que se apresentou ontem em uma sala de espera do Centro de Atenção Psicosocial (Caps II), no Alto da XV. Entre canções como "Leãozinho", de Caetano Veloso, e uma gavota de Bach tocadas pela jovem musicista, Daitschman chegou a tirar alguns versos das pessoas que esperavam atendimento.
"Eu não imaginava que a receptividade fosse tão boa", conta Daitschman. "Nestas apresentações, mesmo quem no início parece avesso à ideia da música mais tarde se rende, sorri, participa", conta.
A coordenadora do Caps infantil, Mirela Stenzel, diz que se impressionou com o efeito que os concertos tiveram em seus pacientes crianças e adolescentes com transtorno mental. "As crianças ficam fascinadas, porque é algo que amplia o universo musical delas, muitas vezes restrito", explica Mirela.
Para Koentopp, trata-se de uma iniciativa enriquecedora tanto para quem toca quanto para quem assiste. "O artista gosta de ter público. Quando levamos as turmas de Violino Suzuki na Fundação de Ação Social (FAS), por exemplo, os professores e as crianças saíram satisfeitos por terem feito algo pelo próximo, por terem tocado para quem não tem condições", conta.
Maria Luiza Stenzel conta que já havia feito apresentações similares em outros projetos. "Sempre tive contato com música boa, e quero que todos tenham essa oportunidade", diz. "Se cada músico fizesse isso algumas vezes, o Brasil seria muito mais desenvolvido nesse sentido", defende.
Rafael Rodrigues Costa
Programação
Confira as atrações da Oficina de Música de Curitiba previstas para hoje:
Arthur Nestrovski & Livia Nestrovski
Sesc Paço da Liberdade Sala de Atos (Pça. Generoso Marques, 180), (41) 3234-4200. Às 20 horas. Ingressos a R$ 12 e R$ 6 (meia-entrada), disponíveis no local. Sujeito à lotação.
Orquestra à Base de Sopro de Curitiba e Léa Freire
Teatro da Reitoria da UFPR (R. XV de Novembro, 1.299), (41) 3360-5066. Às 21 horas. R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada).
Raul Valente Trio
Centro Cultural Sesi Heitor Stockler de França (R. Mal. Floriano Peixoto, 458). Às 19 horas. Entrada franca.
Rogério Gulin
Teatro do Paiol (Lgo. Guido Viaro, s/nº), (41) 3213-1340. Às 19 horas. R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada).
Circuito Off
Trio Família
Com Ana Archetti (piano e voz), Marcos Archetti, (baixo e voz) e Mariano Cantero (bateria e voz). Caixa Cultural Curitiba (R. Cons. Laurindo, 280), (41) 2118-5111. Às 19 horas. R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada). Sujeito à lotação.
Daniel Migliavacca
Café Parangolé (R. Benjamin Constant, 400), (41) 3092-1171. Às 22 horas. R$ 20.
A abertura da 32.ª Oficina de Música aconteceu no dia 5, com uma apresentação da Camerata Antiqua de Curitiba, dirigida pelo violinista curitibano Rodolfo Richter, hoje radicado em Londres. No repertório, cantatas de J. S. Bach e estreia da obra Frutares de Ronaldo Miranda, sobre texto de Hamilton Faria, encomenda da Camerata para os seus 40 anos. A orquestra estava muito bem, assim como os solistas, mas o coro deixou um pouco a desejar, com alguns problemas de afinação e timbres dos naipes. A obra estreada é extremamente singela, com recorrências inclusive a cantigas de roda.
>> Veja o vídeo do encerramento da fase erudita
Na sequência, foram inúmeros os recitais de música de câmara. Quase todos de nível internacional, como o da pianista polonesa Magdalena Lisak, do cravista Fernando Cordella, além dos extraordinários recitais com Clenice Ortigara, Jairo Wilkens, Olga Kiun, Winston Ramalho e Alexandre Razera, todos residentes e atuantes em Curitiba, que participaram ao lado de outros solistas internacionais. Grande destaque na música de câmara foi o quarteto de cordas alemão Kuss Quartet.
Alguns concertos com formações mistas e repertório muito diversificado dentro da mesma apresentação também causaram forte impacto, como foi o caso dos dois recitais que contaram com a participação do violonista Fabio Zanon, um dos maiores nomes da atualidade no universo desse instrumento. O maestro e violinista Cláudio Cruz fez também um brilhante trabalho com a Orquestra Clássica da Oficina. Uma lembrança importante nesse concerto foi a peça "Mourão", de Guerra-Peixe, cujo centenário acontece neste ano.
Antiga
Os concertos da Oficina de Música Antiga foram muito bons e à altura daquilo que de melhor se faz nos festivais internacionais. O encerramento, com a Orquestra e Coro Barroco da Oficina, transformou uma Capela Santa Maria quase lotada em um ambiente palaciano. O repertório era balanceado entre obras pouco conhecidas e uma grande obra coral já consagrada. Com um coro muito superior ao que se ouviu na abertura da Oficina, o Gloria, de Vivaldi soou de maneira nunca ouvida em Curitiba.
A única questão que paira sobre a música antiga na oficina é a ausência absoluta de repertório colonial brasileiro e hispano-americano, além da produção luso-espanhola da época que também ficou ignorada.
Logo após, o concerto de encerramento da banda sinfônica apresentou um exuberante arsenal de mais de 150 músicos no palco, sob a regência de Edivaldo Chiquini. O repertório muito ligeiro, bem ao gosto norte-americano, foi defendido com galhardia. Uma verdadeira pérola nesse repertório foi o Concerto para Piano e Sopros de Stravinsky, com competente solo de Davi Sartori.
O concerto final, com várias atrações, foi uma grande festa que começou com as apresentações dos corais de crianças das comunidades locais. Uma bela homenagem foi prestada ao compositor Henrique Morozowicz (1934-2008) pelo coro sinfônico da Oficina, brilhantemente organizado e preparado pelas maestrinas Mara Campos e Lúcia Passos. Antes da conclusão do concerto, uma pujante versão da soprano japonesa Eiko Senda, das Canções de um Jovem Viajante, de Mahler. O Choros N.º 10 ("Rasga o Coração"), de Villa-Lobos, fechou o concerto. Uma das obras mais impactantes do compositor brasileiro, escrita em 1925 sobre uma canção de Catulo da Paixão Cearense. O palco do Teatro Guaíra apresentava então um coro de 160 vozes e uma orquestra de quase 100 músicos. Uma verdadeira apoteose sob a incansável regência do maestro Osvaldo Ferreira.
Para a realização de um evento da magnitude da Oficina de Música, o esforço de produção é absolutamente hercúleo e para tanto, a equipe anônima envolvida fez um trabalho impecável.
Injustificável, porém, foi a ausência de um núcleo dedicado à música contemporânea dentro da Oficina, além do alto valor cobrado pela Fundação Cultural de Curitiba (FCC) pelos ingressos, o que impediu a participação de significativa parte de um público interessado.
Harry Crowl é compositor e musicólogo.
Deixe sua opinião